Título: Brics mostram força para superar a crise
Autor: Franco, Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 28/03/2012, Economia, p. 13

A presidente Dilma Rousseff desembarcou ontem na Índia para participar, amanhã, da reunião de cúpula do Brics, o bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na pauta, a crise econômica global e os seus efeitos nas economias locais. Em debate estará também, segundo fontes do Itamaraty, a criação de um banco comum de desenvolvimento. A proposta será apresentada na reunião pelo primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh. O objetivo é que a nova instituição financeira invista em projetos de infraestrutura e desenvolvimento em nações pobres, ampliando a área de influência política e econômica do bloco. Como na maioria dos encontros de cúpula, trata-se mais de uma intenção do que de fato concreto, com data e prazo estabelecidos para formalização.

Além de Dilma e Singh, participarão da cúpula os presidentes Dmitri Medvedev (Rússia), Hu Jintao (China) e Jacob Zuma (África do Sul). Nos documentos e pronunciamentos, o esforço será o de demonstrar segurança diante do conturbado cenário internacional, uma vez que os consumidores domésticos dos países do bloco representam importante ativo. Na realidade, antídoto capaz de impedir o pior frente ao cenário sombrio que ronda a Europa. Temas polêmicos como a independência do Tibete, que motivam protestos na capital indiana, estão definitivamente fora da pauta, segundo asseguraram fontes diplomáticas.

Oportunidades O objetivo do Brics em mais um encontro anual — são realizados desde 2009 e a África do Sul ingressou no bloco em 2011 — é ampliar as relações comerciais internas e externas, incentivando a expansão dos mercados exportadores e importadores. No ano passado, a Índia importou US$ 451 bilhões, dos quais modestos US$ 3,2 bilhões do Brasil. As exportações do país que acolhe Dilma, com festa e flores, somaram US$ 295 bilhões e as compras brasileiras de produtos indianos, expressivos US$ 6 bilhões, 43% a mais que em 2010. Como as maiores importações dos indianos são de commodities, sobretudo petróleo, há espaço para crescimento das vendas brasileiras.

Tanto que, de olho nas oportunidades, a presidente levou na comitiva cinco ministros – Antonio Patriota (Relações Exteriores), Aloizio Mercadante (Educação), Marco Antonio Raupp (Ciência, Tecnologia e Inovação), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Helena Chagas (Comunicação Social), além do governador de Sergipe, Marcelo Déda, e 110 empresários. Os empresários que integram a comitiva presidencial participarão do Fórum Empresarial, que reunirá hoje e amanhã representantes dos cinco países. A intenção é que os presidentes e o primeiro-ministro da Índia assinem uma declaração que fixa a determinação do Brics de ampliar os acordos bilaterais, por intermédio de suas instituições bancárias de desenvolvimento econômico, utilizando moedas locais.

A Índia que recebe Dilma, embora em transição e crescimento acelerado — a previsão é de um PIB de 7% este ano — tem 42% da população, o equivalente a 450 milhões de pessoas, vivendo abaixo da linha de pobreza, com menos de US$ 1,25 ao dia, segundo dados do Banco Mundial. Dos 500 milhões de trabalhadores indianos, 90% são informais, pois não existem leis trabalhistas naquele país, que convive ainda com regime ancestral de castas apesar dos avanços no campo tecnológico, especialmente no desenvolvimento de programas para computadores.

Há ainda a expectativa, diplomática, de propostas de defesa da paz e da segurança no Oriente Médio e Norte da África. O desejo é que a Síria e o Afeganistão sejam destaques nas declarações. A secretária norte-americana Hillary Clinton tem conclamado os países a adotarem posições mais críticas em relação à Síria e ao retrocedimento da situação afegã. A dificuldade está sempre no teor do texto a ser adotado e os chineses têm dificuldades claras para lidar com tais temas, aparentemente consensuais.

Índice para bolsas

O Brics lançará nesta sexta-feira, em Bombaim — centro financeiro indiano — o Bricsmart, índice para medir as bolsas nos cinco países que compõem o bloco. O lançamento sinaliza o esforço do grupo em estreitar suas relações econômico-financeiras. De acordo com o Itamaraty, participarão do índice a Bovespa, pelo Brasil; a HKEx, por Hong Kong; a JSE, pela África do Sul; a Bolsa de Bombaim, pela Índia; e a Micex-RTS, pela Rússia.