Título: Assad diz aceitar proposta da ONU
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 28/03/2012, Mundo, p. 17

O regime sírio recebeu mais um voto de confiança da comunidade internacional. Após diversos planos fracassados para pôr fim ao derramamento de sangue, o presidente Bashar Al-Assad disse ter aceitado a proposta do enviado das Nações Unidas. Kofi Annan listou seis pontos a serem cumpridos pelo ditador e pela oposição, incluindo o término imediato da violência, a negociação entre os diferentes grupos políticos e a permissão para a entrada de jornalistas estrangeiros. O "sim" de Assad se seguiu à pressão da Rússia e da China, aliados do regime, que sinalizaram para uma pronta solução do impasse. Segundo a ONU, mais de 9 mil pessoas foram mortas desde o início do levante, há pouco mais de um ano.

Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, recebeu a confirmação por escrito. "O governo sírio escreveu ao enviado especial para aceitar seu plano de seis pontos, aprovado pelo Conselho de Segurança", afirmou um porta-voz. "Annan escreveu ao presidente Assad para convocar o governo sírio a cumprir imediatamente com seus compromissos. O essencial é a aplicação", assinalou o texto. A oposição síria, porém, duvida do ditador e rejeita o diálogo com o presidente. "O assunto-chave, que não está no plano de Annan, é que Assad deve renunciar ao poder. Sem isso, não há nenhuma chance de negociação, porque o regime é absolutamente desacreditado", disse ao Correio Ausama Monajed, do Conselho Nacional Sírio, a maior coalizão opostora.

A TV estatal síria exibiu ontem imagens do ditador caminhando pelas ruas de um bairro semidestruído na cidade de Homs, um dos berços da resistência. Na gravação, ele conversa com correligionários sobre o fim do conflito. "Assad está sob intensa pressão, inclusive dos russos, então decidiu fazer essa "caminhada da vitória", para mostrar que nada está acontecendo e que as operações militares terminaram. Mas ele não percebe que a frustração continua e que as pessoas vão sair às ruas de novo", afirma Monajed. Segundo os Comitês de Coordenação Local (LCCs), que articulam os protestos nas cidades sírias, 57 pessoas morreram no país apenas ontem.

O anúncio do plano também foi recebido com ceticismo por líderes ocidentais. "É preciso prudência. A Síria já teve problemas de credibilidade no passado", advertiu o embaixador alemão na ONU, Peter Wittig. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, fez um apelo à oposição para que se una em torno de negociações. No próximo domingo, os políticos contrários a Assad farão uma conferência na Turquia. A Liga Árabe, cujo plano de observação na Síria fracassou, também pediu a abertura de um "diálogo nacional".

O agravamento da repressão na Síria também preocupa vizinhos como Turquia e Jordânia, que já vêm recebendo levas de refugiados. A agência France-Presse informou que o exército de Assad invadiu recentemente o território libanês, durante combates com o Exército da Síria Livre. "A Síria tem uma longa história de intervenção militar no Líbano. Uma grande operação causaria uma crise regional fora de controle", alerta Peter Wien, da Universidade de Maryland, especialista em história do Oriente Médio.