Título: Dilma defende o Irã e critica a Síria
Autor: Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2012, Mundo, p. 17

Na cúpula dos Brics, líder alerta para sanções contra Teerã e pede a Damasco saída política

A crise no Oriente Médio mobilizou os líderes dos países-membros dos Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Durante sua IV Reunião de Cúpula, em Nova Délhi, o grupo defendeu uma solução negociada para os países muçulmanos. Incisiva, a presidente Dilma Rousseff condenou a imposição indiscriminada de sanções ao regime iraniano. Também apoiou o direito de Teerã de desenvolver seu controverso programa nuclear, sob a condição de ter fins pacíficos. Dilma avalizou ainda a criação de um Estado palestino que conviva pacificamente com Israel.

Em relação à Síria, a brasileira discursou contra o derramamento de sangue e declarou que repudia "a violência e as violações aos direitos humanos". O ditador sírio, Bashar Al-Assad, enviou uma carta aos líderes presentes no encontro, por meio da qual destaca que "os países que ajudam os grupos armados (opositores) com dinheiro e armas precisam ser convencidos a parar com isso imediatamente".

Dilma lembrou que a adoção de restrições econômicas e financeiras nas negociações sobre a definição territorial da Palestina só agrava a situação. Em entrevista coletiva após o encerramento da cúpula, ela declarou que o "Brasil acha extremamente perigosas as medidas de bloqueio de compras do Irã, apesar de não termos relações comerciais com o país". A presidente lembrou que outros países "precisam dessas compras". A líder se referia à aquisição de petróleo, cuja interrupção é defendida pelos Estados Unidos e pela União Europeia. O Irã tem sofrido constante pressão para que abandone seu controverso programa nuclear, sob suspeita de produção de armas atômicas.

"Os Brics concordaram que uma solução duradoura para a Síria e para o Irã só pode ser alcançada por meio do diálogo", afirmou o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, em nome dos presidentes dos países. "O Oriente Médio tem que deixar de ser foco permanente de tensões mundiais. O diálogo e o reconhecimento das diversidades são componentes essenciais para a paz", analisou Dilma. Em sua carta, Al-Assad informou que a Síria garantirá o sucesso da missão de paz.

Há um ano, a população síria convive com constantes bombardeios ordenados pelo presidente para conter a oposição, que exige sua saída. Desde o início dos conflitos, mais de 9 mil pessoas morreram em ataques. Apenas ontem, 51 vítimas foram contabilizadas pelos Comitês Locais de Coordenação. A Organização das Nações Unidas anunciou que pelo menos 1 milhão de sírios precisam de ajuda humanitária. Em entrevista ao jornal The Times of India, Dilma pediu uma nova ordem mundial e reformas no Conselho de Segurança, obedecendo à nova realidade do mundo.

O guia supremo iraniano, Ali Khamenei, afirmou que seu país ficará do lado do regime de Al-Assad. "O Irã defenderá a Síria devido ao seu apoio à resistência antissionista", afirmou Khamenei, ao receber o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, na cidade sagrada de Machhad. Ele anunciou que se opõe a qualquer interferência estrangeira nos assuntos internos da Síria.

Cúpula árabe adota declaração sobre a Síria

A reunião de cúpula da Liga Árabe, realizada em Bagdá, adotou por unanimidade uma resolução geral e uma declaração dedicada à Síria. Os representantes de 21 países árabes (foto) apoiaram a missão do enviado especial Kofi Annan. Os líderes pediram por um diálogo na Síria, defenderam a unificação da oposição, condenaram as violações dos direitos humanos contra os civis e consideraram o massacre cometido pelas forças sírias no bairro de Baba Amr, em Homs, como "crimes contra a humanidade".

Jornalistas mortos A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) denunciou ontem a morte de dois jornalistas por integrantes do Exército sírio na fronteira com a Turquia, ocorrido na última segunda-feira. O britânico de origem argelina Walid Blidi e o colega Nasim Terreri, que não teve a nacionalidade divulgada, teriam sido mortos quando tentavam recuperar seus equipamentos depois de uma investida contra um grupo de pessoas que atravessavam para o território turco. "Logo após uma ofensiva militar, os dois jornalistas freelance, de 28 e 32 anos, voltaram ao local do ataque. Um veículo do Exército sírio investiu contra eles. Os dois morreram atingidos por tiros", destacou comunicado da organização Repórteres sem Fronteiras, que denunciou um "duplo assassinato seletivo". Segundo a entidade, "um terceiro jornalista ficou ferido no ataque".