Correio braziliense, n. 20064, 27/04/2018. Política, p. 3

 

Aécio depõe na PF

Renato Souza

27/04/2018

 

 

INVESTIGAÇÃO » Senador foi ouvido por delegados no inquérito que investiga se ele teria atuado para favorecer a Odebrecht em contratos de usina em Rondônia

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) prestou depoimento na tarde de ontem, na sede da Polícia Federal, em Brasília. O parlamentar chegou ao local por volta das 15h30, entrou pela garagem e saiu às 17h05. Aécio foi ouvido na investigação que envolve a construção da usina de Santo Antônio, em Rondônia. O parlamentar é acusado de receber vantagens indevidas para favorecer as construtoras Odebrecht e a Andrade Gutierrez.

Durante o depoimento, que durou cerca de uma hora, o senador negou as acusações e disse que ele não interferiu em contratos que foram realizados pelas empresas envolvidas. O peessedebista alegou que não tinha nenhuma relação próxima com integrantes do Executivo na época. A abertura de inquérito contra ele foi autorizada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Aécio é suspeito de ter recebido recursos em diversos lotes. Os pagamentos, de acordo com a investigação, foram fracionados e cada repasse ocorria com valores que ficavam entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões. O dinheiro, de acordo com o processo, era a contrapartida para que o senador negociasse vantagens para as empreiteiras “notadamente nos empreendimentos do Rio Madeira”. O parlamentar é citado no depoimento do executivo Ricardo Andrade, um dos donos da Andrade Gutierrez. Ele afirma que o senador recebeu pagamentos por meio de um contrato fraudulento firmado com uma empresa que pertence a um amigo dele.

O ex-presidente da Odebrecht  Marcelo Odebrecht teria sido procurado para realizar os repasses. O dinheiro estava armazenado no caixa do Setor de Operações Estruturadas, da Odebrecht, destinado a realizar pagamentos ilegais.Na lista da empreiteira, Aécio é identificado pelo codinome “Mineirinho”.

Questionado pela Polícia Federal, Ricardo citou um contrato no valor de R$ 35 milhões. Os valores, segundo ele, seriam repassados por meio de doações eleitorais, para tentar mascarar a origem ilícita do dinheiro. Aécio é investigado em oito ações que foram abertas no STF. Em uma delas, ele se tornou réu, acusado de receber propina de R$ 2 milhões do executivo Joesley Batista, da J&F, para supostamente atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato.

O senador saiu da sede da corporação sem falar com a imprensa, em um veículo preto. Em nota, o advogado Alberto Zacharias Toron, que defende Aécio, informou que o cliente “prestou todas as informações solicitadas no inquérito”. O defensor negou qualquer recebimento de propina por parte do parlamentar. “Por se tratar de empreendimento conduzido pelo governo federal à época, ao qual o senador e seu partido faziam oposição, não há nada que o vincule às investigações. Os próprios delatores afirmaram em seus depoimentos que as contribuições feitas às campanhas do PSDB e do senador nunca estiveram vinculadas a qualquer contrapartida.”

A investigação segue sob segredo de Justiça. Os documentos, relatórios produzidos pelas equipes e informações colhidas pela PF serão encaminhados para a Procuradoria-Geral da República (PGR).

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Saud trata da delação

27/04/2018

 

 

O executivo Ricardo Saud, do grupo J&F, prestou depoimento na sede da Polícia Federal, em Brasília. Delator da Lava-Jato, ele saiu do prédio acompanhado por dois advogados. Ao ser questionado, o empresário afirmou que foi tratar de assuntos referentes à colaboração premiada. O comparecimento dele não havia sido divulgado pela corporação.

Ele é acusado pelo Ministério Público, junto ao executivo Joesley Batista, de tentar obstruir as investigações da Lava-Jato por supostamente terem tentado comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. “Vim prestar depoimento, sobre os assuntos que já foram tratados. Os anexos que estão por vir. Estamos fazendo o que dá para fazer. Continuando o que eu propus fazer aí”, afirmou. Ele negou que tenha a intenção de fazer qualquer anexo complementar, o que poderia implicar outras pessoas que ainda não foram citadas no inquérito.

Ricardo Saud fechou um acordo de colaboração com a Justiça. Entre as revelações, ele disse que a JBS repassou R$ 3 milhões em propina para a campanha do ex-governador do Rio Anthony Garotinho. Ele aparece em uma conversa gravada por Joesley Batista, em que eles falam sobre não terem contado tudo que sabem ao poder Judiciário, relatam interferência no trabalho do STF e da Procuradoria-Geral da República.

A gravação foi usada pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para pedir que a delação dele e a de Joesley fosse anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O assunto ainda está sendo avaliado pelo ministro Edson Fachin, e os delatores tentam manter a validade dos contratos, o que impede que eles sejam presos.