O Estado de São Paulo, n. 45373, 08/01/2018. Política, p. A6.

 

“Só Alckmin pode vencer Lula, se este for candidato em 2018”

Luiz Maklouf Carvalho

08/01/2018

 

 

Governador do Paraná diz que petista tem rejeição ‘considerável’, enquanto colega paulista oferece ‘segurança’

 

 

ENTREVISTA - BETO RICHA (PSDB), governador do Pará

No último ano de seus dois mandatos – o que o impede de se candidatar à outra reeleição – o governador afirmou que está “fortemente inclinado” a cumpri-lo até o fim, o que significa não ter de se desincompatibilizar para concorrer a um novo mandato legislativo. Nesse caso, se engajaria mais fortemente na candidatura tucana à Presidência da República. Richa nem considerou, na entrevista, que ainda haverá prévias para definir o candidato. Para ele, é o governador Geraldo Alckmin. “Aqui no Paraná o PT nunca venceu eleição presidencial”, lembrou. “O Alckmin tem tudo o que os brasileiros querem depois de tanta turbulência: segurança, experiência e seriedade”.

Avô de três netos aos 52 anos e piloto automobilístico há 34 – sua sala exibe os troféus que ganhou na recente 500 milhas de Londrina, pilotando uma Maserati alugada –, Richa falou sobre a situação do senador Aécio Neves (PSDBMG). “Nunca pedi e jamais pediria empréstimo pessoal a empresários”, disse. “Mas eu não posso querer que todas as pessoas pensem como eu. Ele tem as suas explicações.” Ex-deputado estadual, ex-prefeito de Curitiba reeleito, o governador teve seu pior momento em abril de 2015. A tropa de choque da Polícia Militar reprimiu com violência desmedida professores e alunos que se manifestavam contra um projeto de lei que mudava o custeio do Regime Próprio da Previdência Social dos servidores estaduais. Richa foi aos piores índices de popularidade.

“Se eu não tivesse enfrentado a manifestação, e aprovado a lei, não teria feito o ajuste fiscal”, disse. O Paraná, segundo números oficiais, está entre os Estados com melhor situação fiscal do País. A redução da despesa corrente caiu em R$ 2,2 bilhões. A arrecadação cresceu R$ 900 milhões. “Ninguém tem a receita do sucesso, mas as medidas de austeridade servem para todo mundo.”

 

O sr. já resolveu se vai disputar o Senado?

Eu ainda não sei. Porque o melhor momento do meu governo é agora. A casa está em ordem, fizemos todo o ajuste fiscal, o equilíbrio das contas públicas, tem muito investimento acontecendo. Mas a minha tendência é continuar até o final do governo. Tenho pensado seriamente nessa hipótese.

 

Nesse caso, o sr. se engajaria na campanha do Alckmin, se a candidatura se confirmar...

De qualquer forma eu sou soldado. Já disse isso a ele, disse isso no partido. Qualquer missão que me derem eu cumpro com muita honra. Até porque acredito no PSDB, partido que o meu pai (José Richa) fundou, ao lado de figuras ilustres, como Mário Covas, Fernando Henrique, Pimenta da Veiga, José Serra, Tasso Jereissati...

 

O sr. se dá bem com Alckmin?

Muito bem, admiro demais. É um grande político, gestor responsável, decente, sério. Eu gosto muito do jeito dele. Eu coordenei, no Paraná, todas as campanhas do PSDB – menos a do Fernando Henrique. Serra, Aécio, Alckmin. Todos eles ganharam as eleições aqui no Paraná, onde o PT nunca venceu.

 

O sr. acredita que o Alckmin tenha chances reais de ganhar a eleição contra o Lula – se assim acontecer?

O Lula é uma incógnita. Ninguém sabe ao certo se ele vai ser candidato.

 

O Fernando Henrique disse outro dia que preferia derrotá-lo no voto. O que o sr. acha?

Primeiro, a lei tem que ser respeitada. Se por acaso contrariar a Lei da Ficha Limpa, no julgamento colegiado de segundo grau, me parece que (o Lula) não poderia ter a candidatura registrada. Ele merece um julgamento isento, com todo o direito de defesa. A Justiça está aí para punir culpados, mas também absolver inocentes.

 

Na hipótese de haver uma disputa entre Lula e Alckmin...

Se houver um enfrentamento, o Alckmin ganha.

 

Por quê?

O Lula tem uma rejeição considerável. Numa eleição indo para o segundo turno, conta-se mais a rejeição do que a intenção de votos. Entre os candidatos que se apresentam agora, o Alckmin é mais equilibrado, é o que oferece segurança ao eleitor num momento de turbulência, oferece uma proposta segura, de uma pessoa equilibrada, experiente. Ninguém vai querer apostar numa aventura, num retrocesso, naquilo que fez muito mal para o País.

 

A imagem forte que ficou do sr. foi o episódio lamentável de 2015, com aquela violência policial absurda e inaceitável contra os professores, cenas que ficaram na memória de todos.

O que aconteceu naqueles dias foi uma revolta contra o principal item do nosso ajuste fiscal – a mudança no regime de custeio da Previdência dos servidores estaduais. E a aprovação daquela reforma da Previdência foi o que garantiu o reajuste aos servidores no ano seguinte. No ano passado, o único Estado que deu reajuste ao funcionalismo foi o Paraná – de 10.67%.

 

O sr. mexeu num vespeiro chamado Previdência dos servidores públicos – mas o que realmente marcou foram as imagens da violência policial...

As imagens foram chocantes, mas muitas foram meticulosamente produzidas, maldosamente articuladas e premeditadas pelos meus adversários.

 

Essa tem sido a sua defesa – mas nada ficou provado. Custa acreditar que ainda hoje o sr. queira minimizar aquelas cenas de selvageria.

Nós fomos absolvidos em todas as instâncias. No Ministério Público estadual, no Ministério Público Militar e, agora recentemente, no Ministério Público Federal.

 

Ministério Público não absolve ninguém.

Foi arquivado. Em todas as decisões do Ministério Público, pelo Tribunal de Justiça e pelo MPF dizem que os manifestantes é que foram para cima da polícia. O Ministério Público Militar absolveu os comandantes e a mim também. O fato é que aprovação daquela medida garantiu o reajuste no ano seguinte de 10.57% numa folha de R$ 1,7 bilhão. A aprovação da reforma da Previdência nos deu economia mensal de R$ 125 milhões mensais, R$ 1,5 bi- lhão em um ano. Não se fala tanto de reforma da Previdência no País há décadas? Nós fizemos no Paraná.

 

Seus opositores – como a entidade que representa os professores, a APP – dizem que esse ajuste fiscal lesou direitos dos servidores públicos...

Em sete anos de governo os professores receberam 146% de reajuste. A hora-atividade era 20%. Hoje está em 37%. O orçamento da Educação hoje é de R$ 10 bilhões. ( A Associação dos Professores do Paraná, a APP, procurada, não quis se manifestar).

 

O conflito de 2015 levou sua popularidade ao fundo do poço...

Eu coloquei em risco a minha popularidade. Propus ajustes, medidas impopulares justas, mas hoje o Paraná colhe os frutos dessas medidas.

 

Como o sr. avalia a situação do Rio e do Rio Grande do Sul, onde há problemas no pagamento dos servidores?

O grande problema é o comprometimento da folha de pagamento dos servidores em relação à receita. O Estado não foi feito só para pagar salário. Ninguém tem a receita do sucesso. Mas as medidas de austeridade servem para todo mundo. Ou a pessoa pensa na política ou pensa em fazer o que é necessário ser feito – corte de gastos, corte de privilégios.

 

O que o sr. está achando do governo Temer?

O Temer paga um preço caro, porque a bomba estourou no colo dele, bomba de efeito retardado. Mas devo admitir a coragem de tomar medidas duras, de difícil decisão de enfrentar e fazer as reformas necessárias para a recuperação do País. A reforma da Previdência é vital.

 

O sr. acha que a reforma a Previdência passa?

O problema é o calendário eleitoral. Parte dos políticos vai pensar na sua sobrevivência.

 

E a dança tucana em torno do governo?

Faz parte de uma legenda democrática ter alas com opiniões divergentes. O que me preocupa é que as reformas sempre foram uma bandeira do PSDB. E agora esta divisão. O que eu achava que era líquido e certo, hoje estou vendo duas opiniões contrárias. Mas o partido está unido, sim. O Alckmin vai conseguir unir todas as alas nesta eleição.

 

E o problemaço Aécio Neves – ou não é um problemaço?

Acabou representando alguns problemas em função até de divulgações diárias, pesadas, em relação à questão dele. Ele merece um voto de confiança, tem explicação para tudo o que aconteceu. A Justiça é feita para punir culpados e para absolver inocentes.

 

O sr. se veria numa situação como a dele – iria, sendo governador, pedir empréstimo de caráter pessoal para um empresário com negócios em várias áreas?

Nunca pedi e não pediria. Jamais. Mas eu não posso querer que todas as pessoas pensem como eu. Ele pode ter cometido um erro de ter pedido para uma pessoa na situação do Joesley (Batista) ou de qualquer outro empresário. Mas eu não posso avaliar sua dificuldade naquele momento. Ele tem suas explicações e vai se defender na Justiça. Ninguém pode ser condenado antecipadamente.

 

O sr. ganhou um presentão recentemente: o ministro Gilmar Mendes suspendeu os processos que tramitavam contra o sr. no STJ?

Não comento decisão da Justiça, nem a favor nem contra.

 

O que o sr. achou?

Ele foi justo. Só digo o seguinte: sigo confiando na Justiça. Essa operação em Londrina (na qual Richa é acusado) é de arrepiar o cabelo, de arregalar os olhos. É um absurdo o que eles (Ministério Público) fazem.

 

O que é que tem mais em relação ao sr. no caso da Lava Jato?

É Odebretch. Mas nem houve a contribuição nem tem nenhum benefício fiscal. As doações foram registradas.

 

Cenário

“O que eu achava que era líquido e certo (no PSDB), unanimidade em torno das reformas, hoje eu estou vendo duas opiniões contrárias. Mas o partido está unido, sim. O Alckmin vai conseguir unir todas as alas na eleição.”

“O Lula tem uma rejeição considerável. Numa eleição indo para o segundo turno conta-se mais a rejeição do que a intenção de votos.”

“Medidas de austeridade servem para todo mundo. Ou a pessoa pensa na política ou pensa em fazer o que é necessário ser feito.”