Título: Barreiras injustas
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Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2012, Economia, p. 10

Barreiras injustas

Ao enfatizar a importância do Brics, o grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, na economia mundial, a presidente Dilma Rousseff ressaltou a necessidade de reformas nos sistemas financeiros internacionais — como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird) — de forma a abrirem mais espaço para os emergentes. O desejo foi expresso ontem na declaração conjunta de encerramento da quarta reunião de cúpula do bloco, realizada em Nova Délhi, na Índia.

"Os Brics continuam sendo um elemento dinâmico da economia global e vão responder por uma parcela significativa do comércio. A notável expansão dos últimos anos do comércio intra-Brics evidencia também o potencial das nossas relações. Nós passamos de US$ 27 bilhões em 2002 para estimados US$ 250 bilhões em 2011", disse Dilma. A expectativa é de que essa corrente de comércio chegue a US$ 500 bilhões em 2015.

Para fortalecer ainda mais esses laços, dois acordos foram firmados pelos bancos de desenvolvimento dos países do Brics, que permitirão o financiamento de comércio e investimento em moeda local, facilitando os fluxos de recursos, mercadorias e serviços entre essas nações.

Dilma afirmou também que a definição de um grupo de trabalho, com representantes dos cinco países, para criar um banco de desenvolvimento do Brics — que atue especialmente em projetos de infraestrutura, inovação, e ciência e tecnologia — sinaliza a disposição dos países para trabalhar em projetos conjuntos. Segundo ela, os países do Brics mostram que é possível crescer economicamente, distribuindo renda e gerando empregos. Para os negociadores brasileiros, o processo de criação do banco ocorrerá a longo prazo, pois será necessário definir uma série de aspectos, como os termos de referência, a estrutura do organismo, como será integralizado o capital e as práticas de comércio bilateral e multilateral.

Críticas Num discurso mais enfático, a presidente brasileira foi veemente nas críticas aos países ricos. "A consequente depreciação do dólar e do euro traz enormes vantagens comerciais para os países desenvolvidos e coloca barreiras injustas à competitividade dos produtos dos demais países, em especial o Brasil", afirmou. "Contudo, nós, do Brasil, não queremos, não iremos nem concordamos com um processo de levar a uma competição na qual cada país tenta sair da crise desvalorizando sua moeda e o ganho de seus trabalhadores."

Dilma alertou que a recessão, o desemprego e a precarização do trabalho apenas ganham tempo e podem gerar bolhas especulativas, caso não sejam acompanhados pela recuperação do investimento, do consumo e um aumento do crescimento internacional. Os países do Brics, afirmou, são exemplo de que a principal frente de expansão para a economia mundial é o consumo interno, por meio da incorporação de milhões de pessoas à sociedade de consumo.