Título: Previsão do BC para inflação alivia o bolso
Autor: Jornais, Victor ; Cristino, Vania
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2012, Economia, p. 11

Banco prevê taxa de 4,4% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo neste ano. Esta será a primeira vez , desde 2009, que o indicador ficará abaixo do centro da meta de 4,5%

Depois de uma inflação altamente corrosiva no ano passado, 2012 promete um alívio ao bolso do consumidor. Segundo previsões do Banco Central, divulgadas no Relatório Trimestral de Inflação, o país deve fechar o ano com 4,4% de Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — caso o número se confirme, será a primeira vez, desde 2009, que o indicador fica abaixo do centro da meta, definida em 4,5%.

Com essa estimativa, a instituição praticamente crava mais um corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic) em abril e mostra disposição para segurar os juros em 9% ao ano por um período prolongado. O objetivo do BC, segundo analistas, é garantir com essa estratégia ao menos 3,5% de crescimento para o país em 2012. Pelos dados do documento apresentado ontem pela instituição, a crise global e a desaceleração da China praticamente fizeram o trabalho da autoridade monetária em relação à inflação e abriram espaço para mais cortes na Selic.

Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica do BC, explicou que o cenário externo, além de apresentar baixo crescimento global, está em processo de desinflação. "Há uma redução generalizada das taxas de inflação pelo mundo e os bancos centrais, de modo geral, estão adotando políticas de afrouxamento monetário", disse. Ainda segundo o diretor, a alta do petróleo e a perspectiva de reajuste do preço da gasolina não entraram na conta do BC para a inflação do ano — a instituição ainda trabalha com incremento zero no preço do combustível.

Gasolina Para o diretor, inclusive, o custo da gasolina no Brasil não é menor que o praticado pelos norte-americanos, pelo contrário, é cerca de 50% maior, o que derrubaria qualquer necessidade de reajuste por parte da Petrobras. "Se nós levarmos em conta que um galão de gasolina custa em torno de US$ 4 nos EUA e que o preço de um litro de gasolina no Brasil custa em torno de R$ 2,70/R$ 2,80, e que taxa de câmbio está em torno de R$ 1,80, se chega à conclusão que na bomba, o galão custa em torno de US$ 6 no Brasil", calculou.

O relatório de inflação ainda chamou a atenção para a situação internacional. No cenário da diretoria do BC, a injeção de recursos em bancos e na economia por parte do Banco Central Europeu (BCE) e do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) contribuíram para a melhora das condições financeiras, mas não solucionaram os problemas. Segundo Hamilton, o processo de desalavancagem dos países e dos bancos será da ordem de US$ 2 trilhões e está só na metade. Ainda assim, de acordo com o diretor e com o relatório, o impacto sobre o Brasil é limitado, em torno de 25% do que foi a crise de 2008 desencadeada pela quebra do Lehman Brothers. "A despeito de qualquer desaceleração global, o BC manteve a perspectiva de crescimento para o Brasil em 3,5%. É um bom número", disse Mauro Schneider, economista-chefe do banco Banif.

Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, considerou, a partir deste Relatório de Inflação, que o BC comandado por Alexandre Tombini tem mais "sangue frio comparado ao último Banco Central". Segundo ele, esse BC consegue ver os números desajustados a curto prazo sem desesperos e sabe exatamente o tempo que tem para promover os ajustes necessários sem desequilibrar a economia ou adotar medidas drásticas. "Apesar de o BC saber que não poderá manter o juro em 9% ao ano sem que a inflação divirja da meta, ele mostrou que tem tempo para fazer ajustes. Os modelos mostraram que para cada 1 ponto percentual de alta na Selic, ele consegue uma redução de 0,40 ponto percentual na inflação no período de um ano", avaliou. Para Leal, Hamilton demonstrou, durante a divulgação do documento, que antes de o BC voltar a subir juros para controlar possíveis pressões inflacionárias, deve usar amplamente medidas macroprudenciais.