O globo, n. 30886, 28/02/2018. País, p. 5

 

Na Bahia, deputados articulam CPI para investigar obra da Fonte Nova

Luiz Fernando Lima 

28/02/2018

 

 

PF aponta possível propina para o ex-governador Jaques Wagner (PT)

-SALVADOR- Depois de a Polícia Federal (PF) deflagrar, anteontem, a Operação Cartão Vermelho, que apura supostas irregularidades na construção da Arena Fonte Nova, em Salvador, a bancada de oposição ao governador da Bahia, Rui Costa (PT), na Assembleia Legislativa está a um voto de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com potencial para desgastar politicamente o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jaques Wagner, principal nome do PT para o Plano B a Luiz Inácio Lula da Silva, na disputa pela Presidência.

Dos 21 deputados estaduais que compõem a bancada, apenas Samuel Júnior (PSC) não assinou o requerimento de abertura da CPI. O parlamentar foi procurado pela reportagem de O GLOBO, mas não atendeu às ligações. O objetivo da comissão é investigar as “irregularidades apontadas pelos Tribunais de Contas da União (TCU) e do Estado (TCE) no procedimento de licitação e contratação da Parceria Público Privada com a Sociedade Empresária de Propósito Específico Fonte Nova Negócios e Participações SA”.

O contrato foi assinado pelo então governador da Bahia, Jaques Wagner, e as investigações da PF apontam para recebimento de propina que chegam a R$ 82 milhões, pagas pelas empreiteiras Odebrecht e OAS, controladoras do consórcio. O ex-governador nega qualquer irregularidade e contesta a ação da PF.

ASSINATURAS PARA CPI

O líder da oposição na Assembleia Legislativa baiana, Luciano Ribeiro (DEM), acredita que a última assinatura da CPI será coletada ainda nesta semana:

— Há uma sinalização para fecharmos as 21 assinaturas até quinta-feira (1º). A comissão vai investigar os eventuais desvios, embora saibamos que em ano de eleição também terá reflexos na política. Mas não é este o objetivo.

Wagner já se apresentou como pré-candidato ao Senado na chapa do atual governador Rui Costa. Contudo, crescem as discussões internas no próprio PT sobre uma eventual substituição de Lula pelo ex-governador na disputa pelo Planalto.

O líder da bancada governista, José Neto (PT), afirma que o exgovernador está tranquilo, pois, segundo o deputado, não há nenhum fato novo desde que o inquérito foi instaurado em 2013.

— Nós não estamos preocupados com CPI porque não tem nenhuma prova concreta de nada. Os dados são desencontrados. A Fonte Nova custou R$ 680 milhões com todos os aditamentos. Por outro lado, dizem que teve um superfaturamento de R$ 450 milhões. Os números não estão batendo. A PPP é uma modalidade nova e transparente de contratação e politicamente nós esperamos que seja tratado com muita responsabilidade — disse o parlamentar.