O globo, n.30848 , 21/01/2018. ECONOMIA, p.32

Após 3 anos, presidente vai chefiar comitiva em Davos

 

 

Temer busca atrair investimentos e mostrar que país saiu da crise

Depois de três anos com delegações comandadas por ministros, o Brasil voltará ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, com um presidente. Michel Temer desembarca nos Alpes no próximo dia 24 (quarta-feira) com uma tropa de ministros para conversas com investidores, banqueiros e outros representantes da elite global que todos os anos vão a Davos para uma semana de debates sobre os rumos e desafios da economia mundial. A principal missão é mostrar o Brasil como um mercado atraente, especialmente para quem quer investir em projetos de infraestrutura.

— O presidente Michel Temer levará a Davos a mensagem de que o Brasil retomou seu rumo de crescimento e prosperidade, e está cada vez mais preparado para enfrentar os desafios do século XXI. Uma mensagem de um Brasil mais moderno, competitivo e aberto, e que hoje oferece excelentes oportunidades de investimento — afirmou o porta-voz da presidência, Alexandre Parola.

Isso, no entanto, ocorre num momento delicado. O país acaba de sofrer um novo rebaixamento pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) porque o governo não conseguiu aprovar propostas importantes para o reequilíbrio das contas públicas, especialmente a reforma da Previdência. Além disso, projetos importantes, como a privatização da Eletrobras, enfrentam entraves judiciais. Tudo isso em pleno ano eleitoral. Mesmo assim, integrantes da delegação brasileira estão otimistas:

— Tenho visto muita curiosidade sobre o Brasil este ano. Isso se expressa pela demanda de pedidos de reuniões com o presidente Michel Temer. Podemos dizer que o Brasil voltou a ser um player importante — afirma o ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco, que acompanhará Temer na viagem, acrescentando: — É claro que existem problemas, como a reforma da Previdência, mas a economia voltou a crescer, a inflação caiu e há clareza de um compromisso com a responsabilidade fiscal.

Em sua conta no Facebook, o ministro aproveitou a oportunidade para reforçar que Temer dará “uma mensagem singela e curta de que o Brasil voltou”:

“Retornamos (a Davos) para dizer que enfrentamos a mais grave crise econômica de nossa história, superamos a recessão, baixamos a inflação de mais de 10% para 2,9%, abaixo do piso”, disse Moreira em vídeo.

 

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Temer também irá acompanhado dos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e de Minas e Energia, Fernando Coelho. Meirelles, possível candidato à Presidência, deve enfrentar questionamentos sobre sua intenção de disputar as urnas. E ele não será o único presidenciável em potencial. O prefeito de São Paulo, João Doria, também vai aos Alpes. A capital paulista vai sediar, em março deste ano, a edição latino-americana do Fórum Econômico, que sempre faz uma reunião voltada para a economia regional. No ano passado, o evento ocorreu em Buenos Aires.

Durante o encontro, Temer apresentará a investidores o programa Avançar Parcerias. De acordo com o Palácio do Planalto, o programa já permitiu a conclusão de mais de 70 projetos que representam investimentos de R$ 142 bilhões. Em 2018, outros 75 projetos serão ofertados, com expectativa de captação de mais de R$ 130 bilhões. O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, também estará no Fórum para explicar a operação envolvendo a venda da estatal, assim como o presidente da Petrobras, Pedro Parente.

Em seus encontros, Temer e Meirelles vão ainda destacar indicadores positivos da economia, como a inflação de 2,95%, abaixo da meta, a taxa básica de juros de 7% e o Ibovespa registrando recorde de 81 mil pontos, além da retomada do mercado de trabalho. Na agenda do presidente está a participação em um debate sobre as reformas do país (“Diálogos estratégicos sobre o Brasil”) e em um jantar com investidores e diretores executivos.

Meirelles, por sua vez, pretende dar destaque especial à importância da reforma da Previdência em seus encontros no Fórum. Com a votação marcada para 19 de fevereiro na Câmara, a mudança no regime de aposentadorias no país é uma das medidas consideradas mais importantes para o reequilíbrio das contas públicas. O ministro vai reforçar este discurso em um dos painéis dos quais vai participar em Davos, cujo nome é “Vamos viver até os 100 anos, mas vamos conseguir arcar com isso?”. O objetivo do debate é justamente discutir como os países estão lidando com o aumento da expectativa de vida da população e com o aumento dos custos com benefícios sociais e seus sistemas de saúde. Antes de chegar à Suíça, Meirelles fará uma parada em Londres para encontros com investidores.

 

EXPECTATIVA COM TRUMP

Segundo integrantes do governo, os países da América Latina despertam curiosidade no Fórum Econômico Mundial em 2018 porque vários deles vão passar por processos eleitorais, incluindo Brasil, México e Colômbia. O encontro de Davos este ano está voltado para a restauração do diálogo e da colaboração internacional. O tema do evento é “Criando um futuro partilhado num mundo fraturado”.

Segundo os organizadores do Fórum, o evento contará este ano com um número recorde de participantes, sendo 70 chefes de Estado e de governo. Ao todo, são esperadas três mil pessoas. Na esfera global, a maior expectativa é com a participação do presidente americano Donald Trump, que vai a Davos pela primeira vez. Ele foi o nome mais comentado do Fórum em 2017, quando tinha acabado de ser eleito, embora não tenha comparecido. Espera-se que Trump, com seu estilo polêmico, antagonize outros líderes, como o presidente francês, Emmanuel Macron; a chanceler alemã, Angela Merkel, e a primeira-ministra britânica, Theresa May.