O globo, n. 30886, 28/02/2018. País, p. 6

 

Cabral? Não sou amigo, nem vizinho, diz Diniz à PF

28/02/2018

 

 

QUASE UM ESTRANHO - Presidente da Fecomércio nega proximidade com ex-governador e até fato de morar no mesmo prédio, no Leblon

Preso na última sexta-feira acusado de desviar recursos do Sistema “S” por meio de notas frias e empregar funcionários fantasmas na Fecomércio a pedido de Sérgio Cabral, o empresário Orlando Diniz negou, em depoimento à Polícia Federal, qualquer intimidade com o ex-governador. Ele negou ser amigo e até vizinho do peemedebista, apesar de ter um apartamento no mesmo prédio no Leblon — ele, o 201 e o de Cabral, 401 — e casa no mesmo condomínio, em Mangaratiba, no litoral sul fluminense. Diniz também negou ter contratado funcionários fantasmas, os chamados “jabutis” e de ter aumentado seu patrimônio em mais de 1.000% durante a gestão do ex-governador.

Questionado sobre por que contratou o escritório de Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, que lidera a lista de recebimentos com R$ 68 milhões, Diniz confirmou a escolha, mas disse não se lembrar do valor pago a eles. De acordo com as investigações, R$ 1 milhão foram pagos em dinheiro. O empresário indicou que o contrato está arquivado na Fecomércio. O depoimento de Diniz foi feito horas depois de sua prisão e obtido com exclusividade pela “GloboNews”.

Os repasses da Fecomércio a escritórios de advocacia são uma das principais linhas de investigação da força-tarefa. No total, os investigadores dizem que foram pagos cerca de R$ 180 milhões com esses serviços. A banca de Adriana Ancelmo, por exemplo, recebeu R$ 13 milhões. A quantia, corrigida posteriormente para R$ 20 milhões, representa 10% do total de gastos da federação com escritórios de advocacia na gestão de Diniz.

A Operação Jabuti, que prendeu Diniz e três dirigentes da Fecomércio, revelou as conexões entre o esquema de Cabral e empresários do setor comercial. Com o poder dos cargos que exerciam, ambos trocaram favores, em manobras que envolveram lavagem de dinheiro, contratação de empregados fantasmas e aprovação de leis sob encomenda, como demonstraram as investigações que estimam os desvios em ao menos R$ 11 milhões.

Ainda em seu depoimento, questionado sobre pagamentos de despesas pessoais em dinheiro, conforme afirmou sua ex-mulher Danielle Paraíso em depoimento ao Ministério Público Federal, Orlando confirmou ter esse “hábito”.

Segundo a força-tarefa, Diniz contratou pela Fecomércio sete pessoas ligadas a Cabral: uma irmã de Wilson Carlos (ex-secretário de Governo); a mãe e a mulher de Carlos Miranda (acusado de colher a propina de Cabral); a mulher de Ari Ferreira da Costa Filho, o Arizinho (outro operador de Cabral); a mulher de Sérgio de Castro Oliveira, o Serjão (ex-assessor pessoal de Cabral); Ana Rita Menegaz (exchefe de cozinha do Palácio Guanabara); e Sônia Ferreira Baptista (ex-governanta da família Cabral). A força-tarefa sustenta que a Fecomércio gastou R$ 8 milhões com o grupo de funcionários fantasmas contratados.

Diniz confirmou que havia uma cozinheira contratada pelo Sesc/Senac-RJ para trabalhar no Palácio Guanabara e não para o governador. Em nota, a defesa do empresário afirmou que as acusações que recaem sobre ele “são infundadas” e que todos os pontos levantados pela PF e pelo MPF serão esclarecidos.