AGUIRRE TALENTO
BELA MEGALE
A Polícia Federal (PF) pediu secretamente à Procuradoria-Geral da República (PGR) a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico do presidente Michel Temer (PMDB), mas aguarda há mais de dois meses uma resposta. O delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pela investigação que mira o presidente, afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que as medidas são “imprescindíveis para esclarecimento dos crimes”. Ele se queixou de que a solicitação “encontra-se pendente de análise e apreciação” pela PGR.
As informações foram fornecidas pelo delegado ao STF na última terça-feira (20), em documento obtido pelo GLOBO. Com base nessas pendências, a PF pede a prorrogação do inquérito contra o presidente por mais 60 dias e afirma que as diligências são “imprescindíveis”. A PF e a PGR investigam se Temer recebeu propina para favorecer empresas que atuam na área dos portos na publicação de um decreto que alterou as regras do setor.
“Deve ser registrado ainda que encontra-se pendente de análise e apreciação na Procuradoria-Geral da República (PGR) medidas requeridas por esta autoridade policial desde 19/12/2017, as quais mostramse imprescindíveis para esclarecimento dos crimes investigados, notadamente possíveis atos de corrupção ativa/passiva e lavagem de dinheiro, vinculados à edição do decreto 9048/2017 (decreto dos portos), sem as quais a investigação poderá não atingir sua finalidade, sendo necessário seu deferimento para continuidade dos trabalhos”, afirmou o delegado ao Supremo.
O delegado não detalha no documento quais são as medidas requeridas. Segundo fontes que acompanham a investigação, ouvidas pelo GLOBO, trata-se das quebras de sigilo de Temer. Como a investigação corre no STF, só a PGR pode solicitar formalmente essa quebra de sigilo — cabe ao ministro relator do caso, Luís Roberto Barroso, autorizar ou não a medida. A procuradorageral da República, Raquel Dodge, que foi nomeada ao cargo por Michel Temer, ainda não deu andamento ao pedido da PF. O GLOBO revelou no último dia 31 que um relatório técnico de analistas da PF apontava ser “necessária” a quebra do sigilo dos investigados no caso.
A Polícia Federal afirmou ainda que é necessário ouvir o coronel João Baptista Lima, apontado na delação da JBS como intermediário de propina para Temer. Ele tem apresentado sucessivos atestados médicos para adiar seu depoimento. Outras diligências pendentes no inquérito são a análise de uma investigação antiga contra Temer, que já apontava suspeitas de propina no Porto de Santos para o peemedebista, e a análise das respostas do presidente às 50 perguntas enviadas pela Polícia Federal.
Esse inquérito é o único em andamento contra Temer. O presidente já foi alvo de duas denúncias da Procuradoria-Geral da República, mas ambas foram barradas na Câmara. À PF, o presidente afirmou que não foi procurado por empresas do setor portuário para tratar sobre o decreto e negou o recebimento de propina ou doações via caixa dois. Procurada, Raquel Dodge afirmou que “estranha o vazamento de informações que são sigilosas” e disse que vai se manifestar nos autos.