Correio braziliense, n. 20050, 13/04/2018. Política, p. 4

 

Recado aos novos ministros

Rodolfo Costa e Alessandra Azevedo

13/04/2018

 

 

UM PAÍS SOB TENSÃO » Em reunião no Planalto, Temer afirma que não vai permitir mudanças na estrutura ou nos programas em andamento na Esplanada

A reforma ministerial não vai mudar a forma de gerir o país. Na primeira reunião com os ministros após o término do prazo de desincompatibilização, o presidente Michel Temer pediu empenho e deixou claro que não vai tolerar modificações na estrutura ou em programas das pastas. Disse ainda para os auxiliares não temerem críticas e tocarem as ações que o governo julgar necessárias.

O encontro ocorreu no Palácio do Planalto e somente o discurso inicial de Temer foi televisionado. O titular da Secretaria de Governo, Carlos Marun, sugeriu aos novos ministros cautela em visitas a estados e ao próprio Congresso. Como a maioria dos novatos são técnicos, e não políticos, a recomendação é que eles prestigiem parlamentares da base para evitar desgaste à imagem deles e do próprio governo.

A recomendação é que, em viagens, seja em caso de inauguração de obras, seja em entrega de equipamentos e veículos, os ministros prestigiem a base política no respectivo estado e valorizem benfeitorias federais. “Sobretudo em ano eleitoral, políticos de oposição tentam esconder que uma obra, por exemplo, foi lançada com recursos do governo federal. Marun deu esse toque neles para que ressaltem que a obra é da União, e chamem deputados da base para o evento”, disse um interlocutor de Temer.

Nem sempre Temer ou outros ministros mais antigos podem participar de eventos do tipo. Por isso, o governo fez questão de dar o recado político, de olho nas eleições. “Eles devem estar preparados para o que pode vir pela frente. E prestigiar a base nos estados é um fator fundamental”, destacou o interlocutor. O recado vale, inclusive, para convites ao Congresso. “Tem parlamentar da oposição que, às vezes, convoca um ministro apenas para fazer jogo político, e não necessariamente para tirar esclarecimentos sobre algum projeto”, acrescentou.

O recado foi bem absorvido pelos ministros. Cientes da responsabilidade que terão para fortalecer a imagem do governo de olho nas eleições, eles se comprometeram a levar a cabo as recomendações. Temer deixou claro que a ordem é prosseguimento à agenda de reformas e ações adotadas e não será tolerante a mudanças na estrutura atual.

“Eu ressalto muito a palavra continuidade, pois, às vezes, um ministro pode chegar e entender que pode modificar, seja a estrutura ou programa do ministério. Isto, neste momento, devo alertar: não é razoável nem admissível. O que os senhores vão fazer, e muitos já estavam no ministério, é dar continuidade ao trabalho que vem se desenvolvendo”, destacou o presidente da República.

Alerta

Ainda que alvos de críticas, Temer pediu que os novos ministros as abstraiam e deem continuidade às ações. “Não vamos nos incomodar com aqueles que querem dizer ‘não, não pode isso e aquilo’. Nós vamos em frente. Enquanto as pessoas protestam, a caravana do governo aqui vai trabalhando”, declarou. A convicção do emedebista é de que não há motivos para se preocupar com julgamentos, e recordou o chamado teto dos gastos. “Interessante que sempre diziam que, ao fixar o teto de gastos, acabaria com saúde e educação. O que houve foi um aumento das verbas para saúde e educação”, destacou.

Não foi apenas Temer e a cúpula palaciana que alertaram os novos ministros. A nova equipe econômica reforça que, entre as pautas prioritárias no Congresso, será importante a articulação política privilegiar o marco legal de licitação e contratos, a privatização da Eletrobras, o programa de recuperação e melhoria das estatais e o cadastro positivo. “O presidente foi advertido de que o cenário externo já não é tão positivo e o cenário interno pode sofrer uma sacudida em decorrência das eleições e crescer menos do que o esperado. Então, essas quatro matérias serão importantes para atravessar o cenário econômico sem solavancos”, disse um interlocutor do emedebista.

O término da reunião também ofereceu ao governo uma oportunidade para defender Temer de acusações de que o coronel aposentado da Polícia Militar João Batista Lima Filho, amigo do presidente, teria um papel de auxiliar na arrecadação de propina em que o próprio emedebista seria um dos favorecidos. Para Marun, tudo não passa de tentativas de desestabilizar a atual gestão. “Vejo essa questão como mais um capítulo de perseguição que se faz ao governo, e nós já aprendemos a navegar na tempestade”, disse.

“Vejo essa questão como mais um capítulo de perseguição que se faz ao governo, e nós já aprendemos a navegar na tempestade”
Carlos Marun, ministro da Secretaria de Governo