Correio braziliense, n. 20050, 13/04/2018. Economia, p. 7

 

Salário mínimo deve ir a R$ 1.002 em 2019

Rosana Hessel

13/04/2018

 

 

CONJUNTURA » Aumento de 5,03% do piso salarial está previsto no Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias do próximo ano, divulgado ontem. Proposta limita concursos na administração pública e traça quadro fiscal preocupante, segundo analistas

Dois dias depois da posse, os novos ministros do Planejamento, Esteves Colnago, e da Fazenda, Eduardo Guardia, apresentaram ontem o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2019 com os parâmetros do Orçamento que deverão ser seguidos pelo próximo presidente da República. Os dados mostram que ele enfrentará um cenário fiscal muito mais desafiador do que o atual.
 
O projeto, que será encaminhado hoje ao Congresso, prevê que o salário mínimo suba para R$ 1.002 no próximo ano, com correção de 5,03%. Não estão previstos reajustes salariais para o funcionalismo, além dos acertados com os servidores em 2016. E só serão liberados concursos públicos para preencher vacâncias ou realizar certames já autorizados.
 
Pelas estimativas do PLDO, quem assumir o gabinete do terceiro andar do Palácio do Planalto, em janeiro, terá uma margem muito pequena para cortar gastos e cumprir a nova meta fiscal. Além disso, sem a reforma da Previdência, terá dois problemas graves para administrar: os deficits primários consecutivos, que afetam diretamente a dívida pública, e a regra de ouro, prevista na Constituição, que tem um rombo de R$ 254 bilhões a ser coberto para que o novo presidente não corra o risco de cometer crime de responsabilidade fiscal logo no primeiro ano de mandato.

A nova equipe econômica propôs uma meta fiscal semelhante à prevista na LDO de 2018, de deficit de até R$ 139 bilhões nas contas da União, e piorou as projeções para o resultado primário dos próximos anos. As contas públicas continuarão no vermelho pelo menos até 2021, acumulando oito anos seguidos de deficit primário (veja arte).

As estimativas dos ministros para a dívida pública são otimistas em relação às do mercado. A dívida bruta passará de 75,5% do Produto Interno Bruto (PIB) previstos neste ano para 81,1%, em 2021. A partir daí, a dívida “se estabilizará”, segundo Guardia, devido ao teto de gastos, que contribuirá para que a despesa caia em proporção ao PIB. No entanto, os dois ministros ainda alertaram que, sem a reforma da Previdência, o teto não se sustentará “nos próximos anos”.

De acordo com dados do projeto, o crescimento das receitas, projetado em 4,9%, não será suficiente para cobrir as despesas totais, de R$ 1,415 trilhão, que contemplam o aumento de 5,03% do salário mínimo e os reajustes dos servidores acordado em 2016, que foram parcelados até 2019. A taxa de correção varia de acordo com a categoria, mas, na média, os gastos com pessoal devem crescer R$ 19,4 bilhões em 2019, para R$ 322 bilhões. Esse montante representa um aumento de 6,4%, mais que o dobro dos 3% de aumento nas despesas totais entre 2018 e 2019. A taxa só fica atrás da alta de 7,3% nos gastos com benefícios previdenciários, que contribuem substancialmente para o aumento do rombo da Previdência de R$ 196,6 bilhões, este ano, para R$ 208,6 bilhões no próximo.
 
De acordo com Colnago, a LDO de 2019 vai ter uma limitação para concursos, que serão realizados apenas para “preencher vacâncias e para os certames que já foram autorizados nos últimos 12 meses”. “Esse é o limite geral. Na LOA (Lei Orçamentária Anual), vamos ver se haverá espaço orçamentário para concursos”, disse o ministro, sem revelar o número de vagas que podem ser abertas nesses casos.

Regra de ouro

O governo ainda incluiu no PLDO uma previsão de créditos suplementares para cobrir o rombo de R$ 254,3 bilhões para cumprir a regra de ouro, que impede que a União emita títulos da dívida pública para cobrir despesas correntes, como salários e benefícios previdenciários. A regra permite endividamento apenas para financiar investimentos, que contribuem para o desenvolvimento da economia e, consequentemente, para o aumento da receita tributária. De acordo com os ministros, a ideia é propor ao Congresso que aprove, em paralelo ao Orçamento do ano que vem, um projeto de lei complementar autorizando o governo a emitir papéis da dívida para cobrir o desequilíbrio na regra de ouro.

Colnago lembrou que, nem se cortasse todas as despesas discricionárias, o governo conseguiria cobrir o rombo da regra de ouro. Isso porque o espaço para cortes nos gastos não obrigatórios será muito menor em 2019, de apenas R$ 98,4 bilhões — uma queda de 23,7% em comparação aos R$ 128,9 bilhões deste ano. Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o governo finalmente está mostrando um cenário preocupante do ponto de vista fiscal para o próximo presidente. 

“Esse assunto precisa voltar à pauta, porque existe uma expectativa fatalista de que aconteçam as reformas necessárias. Agora, está caindo a ficha de que é preciso pensar mais sério em uma reforma fiscal sem a reforma da Previdência”, alertou. “Talvez agora, com essa mudança, isso fique mais à vista, porque será necessário um candidato que esteja disposto a apresentar uma proposta que não vai resolver, mas, pelo menos, encaminhar a solução desses problemas”, completou.

Impacto na Previdência

O aumento de 5,03%, ou de R$ 48, levará o salário mínimo, pela primeira vez, a ficar acima de R$ 1 mil, como antecipou o Blog do Vicente. O reajuste, que ainda precisará ser confirmado no fim do ano, elevará o piso salarial dos atuais R$ 954 para R$ 1.002 e terá impacto de R$ 16,8 bilhões nas despesas da Previdência. O PLDO prevê que o mínimo passe para R$ 1.076 em 2020 e para R$ 1.153 em 2021. De acordo com o ministro Eduardo Guardia, esses dados consideram a atual regra de reajuste do mínimo, que leva em conta a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mais a variação positiva do PIB de dois anos antes, que vale até 2019.

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INSS faz pente-fino

Alessandra Azevedo

13/04/2018

 

 

Em nova rodada do pente-fino do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o governo convocou ontem 152,2 mil beneficiários de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez para perícias. O foco, desTa vez, é nas pessoas que precisam fazer o exame obrigatório, mas não foram localizadas por erro de informação cadastral ou endereço desatualizado, e NAquelas que receberam carta do INSS avisando sobre a necessidade de revisão médica, mas não a agendaram dentro do prazo. Quem tiver sido citado na lista publicada no Diário Oficial da União (DOU) de ontem deve marcar o atendimento até 4 de maio, pelo telefone 135.

No total, foram convocados 33,8 mil pessoas que recebem auxílio-doença e 118,4 mil aposentados por invalidez, em mais uma etapa do pente-fino nos benefícios por incapacidade que o governo federal tem feito desde agosto de 2016. Quem ignorar a convocação  terá o benefício suspenso. Caso isso aconteça, a pessoa terá 60 dias para procurar o INSS e agendar a perícia, ou o benefício será cancelado de vez.

Em março, o governo convocou  94 mil beneficiários de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez para perícia. O prazo para o agendamento de quem estava no edital do mês passado termina hoje e, de acordo o MDS, apenas 10,1 mil marcaram a consulta até agora. O resto corre o risco de ter o benefício suspenso se não agendar a perícia ainda hoje.

O objetivo do pente-fino é verificar se essas pessoas ainda fazem jus ao benefício. Passarão pela revisão os beneficiários de auxílio-doença que estão há mais de dois anos sem passar por perícia médica e os aposentados por invalidez com menos de 60 anos. O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), pasta à qual o INSS é vinculado, pretende realizar 1,2 milhão de avaliações até dezembro. Até agora, neste ano, foram feitas 191 mil, segundo balanço do governo. Desse total, 80 mil foram cancelados.