Título: Novas ameaças postadas na internet
Autor: Araújo
Fonte: Correio Braziliense, 27/03/2012, Cidades, p. 21

Pelo menos dois dos perfis que Marcelo Valle Silveira Mello e Emerson Eduardo Rodrigues mantinham em redes sociais continuam funcionando, apesar da prisão da dupla na última quinta-feira pela Polícia Federal (PF). No Orkut, o usuário se comparou a Jesus Cristo para dizer que tem sido martirizado. No Twitter, um endereço tem sido utilizado para ameaçar e difamar mulheres, negros, homossexuais e alunos da Universidade de Brasília. Uma das integrantes do Centro Acadêmico de Sociologia (Caso) da UnB admitiu que as novas postagens devem influenciar as próximas decisões do grupo.

O delegado da PF responsável pela prisão da dupla, Flúvio Cardinelle de Oliveira Garcia, rechaçou qualquer possibilidade de os acusados postarem mensagens da cadeia. No entanto, o policial não descartou a possibilidade de familiares e amigos estarem repassando informações para os seguidores dos extremistas.

"Fizemos duas revistas extremamente minuciosas nas carceragens e nada foi encontrado. Desconfiamos que alguém esteja sendo alimentado (com informações) por eles ou que um dos perfis seja de uma pessoa querendo brincar com a situação", afirmou o delegado.

As dezenas de perfis criados por Marcelo para disseminar seu ódio podem ser uma forma de tentar prejudicar a atuação da polícia, explicou Flúvio. "Mas nós estamos com uma investigação bem amarrada. Dificilmente ele vai conseguir nos confundir", destacou o delegado.

Antes aliviados com a prisão dos dois acusados, os alunos de ciências sociais da UnB voltaram a ficar tensos. "Esse grupo tem conseguido o que queria, que é causar insegurança e pânico. São radicais, não são loucos", disse um estudante do nono semestre do curso, que pediu para não ter a identidade divulgada.

"Não é função da UnB nos proteger. Espero que a Polícia Federal continue trabalhando com antecedência", ressaltou um outro estudante. Os centros acadêmicos dos cursos de sociologia e antropologia e as empresas juniores de comunicação social, também alvo de ameaças recentes, não tomarão medidas de segurança, pelo menos por enquanto.

Desde a última quinta-feira, quando Marcelo e Emerson foram presos, um dos perfis mantidos pelos criminosos no Twitter havia sido atualizado mais de 100 vezes. Ele não era alterado há 10 dias e recebeu a mensagem "Fui preso..." no fim da tarde. Um minuto depois, postou: "Ainda bem que escondi um chip de internet 3G debaixo da minha unha". Horas depois, a página na rede social voltou a atacar alunos da UnB. "A pena é longa, mas não é perpétua", alertou. "Macacada da UnB, me aguardem. Pode encher de 500 PMs isso aí que, em breve, os maconheiros de humanas pedirão pros PMs saírem. Eu estarei lá", publicou, na madrugada de sexta-feira.

O principal perfil mantido pelos suspeitos na internet também ameaçou o deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ). "Precisamos matar Jean Wyllys o quanto antes, porque matando ele (sic), vamos despertar as massas que verão nossa ideologia que a mídia quer esconder. (...) Só nos resta fazer justiça com as próprias mãos", escreveram.

Como denunciar » Crimes virtuais podem ser informados por meio da internet. Desde 2009, a Polícia Federal disponibiliza o serviço no site http://denuncia.pf.gov.br. Em casos como o de Marcelo Valle e Emerson Rodrigues, basta acionar a opção "Crimes de ódio" e informar o website em questão.

» A participação popular é importante: o blog mantido pela dupla acabou denunciado quase 70 mil vezes. Também é possível fazer as denúncias de sites e comportamentos suspeitos pelo e-mail denuncia.ddh@dpf.gov.br ou pelo Disque Denúncia Nacional (também conhecido por Disque 100).

» Para entrar em contato pelo telefone, basta discar gratuitamente o número 100, que opera diariamente, das 8h às 22h. Se estiver fora do país, é preciso ligar para (55) 61-3212-8400.

A pena é longa, mas não é perpétua"

"Macacada da UnB, me aguardem. Pode encher de 500 PMs isso aí que, em breve, os maconheiros de humanas pedirão pros PMs saírem. Eu estarei lá"

"Ainda bem que escondi um chip de internet 3G debaixo da minha unha"

Mensagens postadas em perfis criados pelos suspeitos, mesmo depois da prisão dos dois extremistas na quinta-feira