O globo, n. 30866, 08/02/2018. País, p. 4

 

Linhas bloqueadas

André de Souza, Daniel Gullino e Adriana Mendes

08/02/2018

 

 

PF não consegue acesso a conteúdos de celular do deputado Lúcio Vieira Lima; já o ministro Blairo Maggi é suspeito de ter apagado remotamente mensagens de aparelho apreendido

Às vezes não bastam as investigações ou mesmo os mandados de busca e apreensão. Como mostram mais dois casos revelados ontem, a Polícia Federal (PF) tem se deparado com barreiras tecnológicas no trabalho de produzir provas contra políticos suspeitos de corrupção. Peritos relataram dificuldades em obter informações dos telefones celulares do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, apreendidos em operações policiais.

Em relatório anexado ao inquérito que apura a participação de Vieira Lima e de seu irmão, o ex-ministro Geddel, na lavagem e ocultação dos R$ 51 milhões encontrados em um apartamento em Salvador, o perito responsável conta que não conseguiu superar o bloqueio por senha do iPhone 7 do deputado.

“Verificou-se que o aparelho estava bloqueado com código de usuário e que a versão do seu sistema operacional era a iOS 10.2.1. As ferramentas forenses atualmente disponíveis somente desbloqueiam dispositivos com a versão 7 do iOS, o que impossibilita o acesso ao conteúdo do aparelho sem este código”, descreve o perito Fábio Caús Sícoli, do Instituto Nacional de Criminalística da PF.

O GLOBO não conseguiu contato com Lúcio Vieira Lima para saber se ele vai fornecer o código necessário para desbloquear o aparelho. O perito da PF apontou um caminho: enviar o aparelho para um laboratório no exterior, o que ainda não foi pedido pelo delegado responsável. Se isso ocorrer, a decisão caberá ao ministro Edson Fachin, relator do inquérito.

Segundo o perito, a fabricante de equipamentos para extração de dados de celulares oferece este serviço em laboratórios de Nova Jersey (EUA), Ottawa (Canadá), Munique (Alemanha) e em Israel. Em outro caso, o ministro do STF Marco Aurélio Mello já autorizou o envio aos EUA de quatro celulares apreendidos em endereços de pessoas ligadas ao senador Aécio Neves (PSDB).

O caso de Blairo Maggi é um pouco diferente. A suspeita da PF é que o ministro tenha apagado remotamente mensagens de um celular apreendido em setembro, durante a Operação Malebolge. A investigação é sobre o pagamento de propina a deputados estaduais do Mato Grosso no período em que Maggi governou o estado, conforme delação feita por Silval Barbosa (PMDB) — também ex-governador do Mato Grosso.

De acordo com relatório de dezembro da PF, o celular de Maggi continuou recebendo mensagens no decorrer do dia da operação, 14 de setembro. O texto ressalta que a perícia recuperou um grupo de WhatsApp, que havia sido deletado, cuja última mensagem foi recebida às 19h39m do dia 14. O conteúdo das mensagens não foi recuperado.

Como o aparelho foi apreendido na parte da manhã, o relatório afirma que “não se vislumbra possibilidade de a conversa do grupo ter sido excluída antes de o celular ter sido apreendido”, e levanta a suspeita de que “o aparelho tenha sido acessado remotamente e deletada as mensagens após às 9h36m”.

A Polícia Federal suspeita ainda que o aplicativo Telegram tenha sido deletado do aparelho, “já que ele não foi encontrado, mas mensagens indicam que ele havia sido instalado”.

Maggi nega que tenha acessado o aparelho depois que ele foi apreendido em sua casa. Ele explica que a PF apreendeu dois aparelhos, um de trabalho e um segundo que usava como reserva caso precisasse:

— Não tem como alguém acessar remotamente um grupo de WhatsApp e apagá-lo, essa hipótese é zero. Da minha parte não houve interferência.

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STF manda prender condenado em 2ª instância

08/02/2018

 

 

‘Estão me usando de bode expiatório para prender o Lula’, diz deputado do PSD

-BRASÍLIA- O Supremo Tribunal Federal expediu ontem o mandado de prisão do deputado federal João Rodrigues (PSDSC), condenado a cinco anos e três meses de detenção. Cabe à Polícia Federal cumprir a ordem. Rodrigues afirmou ao GLOBO que estava no interior de Santa Catarina, mas não quis revelar o nome da cidade.

Anteontem, a Primeira Turma do STF determinou a execução da pena dele, após a condenação em segunda instância, feita pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em 2010. Ele respondeu por fraude em licitação ao autorizar, de forma ilegal, a compra de uma escavadeira no valor de R$ 40 mil para a prefeitura de Pinhalzinho, em 1999, quando comandava interinamente o município catarinense.

Questionado se vai se entregar, o deputado afirmou estar conversando com seus advogados:

— Aguardarei o advogado, mas farei, sim, se preciso. Não sou bandido.

O deputado afirmou que, ao determinar sua prisão após sentença de segunda instância, o STF quer se blindar em relação ao caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

— Estão me usando de bode expiatório para prender o Lula. (Carolina Brígido e Renata Mariz)