Título: O efeito Serra
Autor: Sassine , Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2012, Política, p. 2
São Paulo e Brasília — A confirmação do ex-governador José Serra como candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, após vencer as prévias do partido no fim da tarde de ontem, provocou uma reação imediata dos caciques do PT que tentam alavancar a candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad. Lideranças petistas não têm dúvidas sobre a principal estratégia para tentar uma vitória sobre Serra, líder em todas as pesquisas de intenção de votos até agora: a expansão das ações do Palácio do Planalto e a maior presença da presidente Dilma Rousseff na cidade de São Paulo. O uso da máquina do governo federal, por meio de mais investimentos em infraestrutura na capital paulista, é defendido por lideranças petistas que gravitam em torno de Haddad.
Idealizador da candidatura e principal cabo eleitoral do ex-ministro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a agir poucas horas depois da vitória de Serra nas prévias. Lula passou a noite de ontem reunido, em seu apartamento em São Bernardo do Campo (SP), com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB. O prefeito de São Bernardo, o petista Luiz Marinho; o presidente nacional do PT, Rui Falcão; e o primeiro vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, acompanharam o encontro que discutiu o apoio do PSB a Haddad. Lula acaba de sair de um tratamento contra um câncer na laringe.
Com o apoio do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Serra venceu as prévias do PSDB com 52,1% dos votos. O tucano disputará a prefeitura de São Paulo pela quarta vez — ela já venceu uma vez, em 2004, e exerceu o cargo por um ano e meio, após rasgar o compromisso assumido de cumprir o mandato, e sair para disputar e vencer a eleição para o governo de São Paulo, em 2006. A estimativa dos tucanos no Congresso era de que Serra seria escolhido com até 80% dos votos dos correligionários nas prévias. Mas, de um total de 20,5 mil filiados aptos a votar, apenas 6.299 foram às urnas, o que resultou numa rejeição de 47,9% ao nome de Serra entre os próprios tucanos.
Com 3.176 votos, o ex-governador derrotou o secretário de Energia do governo paulista, deputado federal José Anibal, que obteve 1.902 votos (31,2%), e o deputado federal Ricardo Trípoli, preferido por 1.018 correligionários (16,7%). O resultado foi divulgado na Câmara Municipal de São Paulo, onde um palanque azul e amarelo recebeu as lideranças tucanas.
As lideranças tucanas aproveitaram as prévias ontem para criticar o PT. "Não escolhemos candidatos inventados em laboratório, do bolso do colete de ninguém. O candidato do PSDB sai das bases, da necessidade da população", criticou Geraldo Alckmin. Serra foi mais longe. "Eles se especializaram na gritaria, na conversa mole, no uso da máquina pública para servir interesses privados de um partido, de uma aliança de pessoas." Em seu primeiro discurso como candidato do PSDB, o ex-governador elogiou a realização das prévias. "A partir de hoje, somos uma só voz, um só trabalho. Saímos dessas prévias unidos", disse, aplaudido de pé por centenas de militantes. Aníbal e Tripoli afirmaram que trabalharão na campanha de Serra.
Serra afirmou ainda que o partido necessita formar alianças. "Precisamos de parcerias políticas, não apenas para ganhar a eleição, mas para termos condições de governar a cidade." O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não compareceu à divulgação do resultado das prévias. Quando o resultado apareceu nos telões, Serra foi ovacionado e ouviu gritos de guerra com seu nome. Ele fez questão de abraçar os candidatos derrotados e posar fazendo o tradicional V de vitória. Ao final de um longo discurso, Serra saiu escoltado, às pressas, sem conceder entrevistas.
Obras federais Publicamente, o PT tratou a vitória de Serra como um fato político anunciado e sem qualquer interferência no atual momento de pré-campanha à Prefeitura de São Paulo, tradicional reduto tucano. "O resultado das prévias não altera o quadro, a candidatura já havia sido colocada. Disputa eleitoral, mesmo, só no segundo semestre", afirma o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP). Reservadamente, o partido prepara a maior presença do ex-presidente Lula na pré-campanha e defende que Dilma tenha a mesma postura, inclusive com mais investimentos do governo federal na capital paulista. "Serra entra na disputa com uma margem grande de vantagem. É preciso que o governo invista na cidade, pensando no eleitorado mais exigente de São Paulo", diz uma liderança petista.
A estratégia é ampliar a quantidade de obras de infraestrutura na cidade, principalmente em mobilidade urbana. "É o grande drama do paulistano", diz o petista, para quem obras voltadas à Copa do Mundo de 2014 podem ser aceleradas neste ano eleitoral.
A pulverização de pré-candidatos da base aliada em São Paulo — deputado Gabriel Chalita, pelo PMDB, e Celso Russomano, pelo PRB — fez o PT se movimentar para sacramentar o apoio do PSB a Haddad. O jantar de Lula com Eduardo Campos e Roberto Amaral teve início às 21h e, até o fechamento desta edição, não houve pronunciamento sobre a provável aliança. O PSB é aliado dos governos municipal e estadual em São Paulo, mas Campos deve anunciar apoio ao petista.
Memória
Confira o desempenho de José Serra nas urnas
» 1986 Eleito deputado federal constituinte.
» 1988 Derrotado por Luiza Erundina na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
» 1990 Reeleito deputado federal. Foi líder do PSDB na Câmara.
» 1994 Eleito senador por São Paulo.
» 1996 Derrotado por Celso Pitta na eleição para prefeito de São Paulo.
» 2002 Candidato à Presidência da República, depois de ter sido ministro do Planejamento e da Saúde nos governos de Fernando Henrique Cardoso. Perdeu a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno.
» 2004 Eleito prefeito de São Paulo, mas não cumpriu nem metade do mandato, apesar de ter firmado compromisso de que ficaria no cargo até o fim.
» 2006 Eleito governador de São Paulo em primeiro turno.
» 2010 Candidato à Presidência da República, derrotado em segundo turno por Dilma Rousseff, eleita presidente.