Correio braziliense, n. 20043, 06/04/2018. Política, p. 5

 

Críticas e aplausos dos presidenciáveis

Hamilton Ferrari e Rodolfo Costa

06/04/2018

 

 

UM PAÍS SOB TENSÃO » Enquanto pré-candidatos ao Planalto mais ligados ao PT saem em defesa de Lula, os adversários enaltecem o momento da ordem de prisão do petista como o fim da impunidade

O pedido de prisão contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ecoou de maneira distinta entre os presidenciáveis. Parte dos pré-candidatos lamenta a decisão do juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, mas enaltece que o país vive um processo de mudança para o fim da impunidade no Judiciário. Outros, ligados à ideologia de esquerda, criticam a prisão e convocam manifestações pelo país. No Palácio do Planalto, a notícia surpreendeu pela celeridade.

Interlocutores do presidente Michel Temer afirmam que o momento é de “saber mais detalhes e mais informações” sobre a decisão. Temer saiu às 19h47 do Planalto e se encaminhou para a residência oficial, o Palácio do Jaburu, onde recebeu o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, embarcou ontem para Campo Grande ciente da sentença, em silêncio, até mesmo com pessoas próximas. Apesar da situação inesperada, a informação é avaliada com naturalidade por Temer e pelos auxiliares. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, um dos presidenciáveis, também não comentou o caso.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que pretende concorrer ao Planalto, afirmou que “aqueles que têm responsabilidade pública, em qualquer nação, não podem celebrar a ordem de prisão de um ex-presidente da República”, mas ressaltou que “o mandado de prisão decorreu de um processo submetido à mais alta Corte do Poder Judiciário, em que foi respeitado o amplo direito de defesa”. A pré-candidata pela Rede, Marina Silva, também disse que é preciso respeitar as decisões da Justiça e que a punição vale para todos. “Os que ainda não foram alcançados pela Justiça é porque estão escondidos sob o manto da impunidade do foro privilegiado”, declarou. O presidenciável do PSL, deputado Jair Bolsonaro (RJ), destacou: “Apenas, cumpra-se a lei”. O presidenciável do PDT, Ciro Gomes, espera que os próximos recursos na Justiça “possam prontamente quanto possível estabelecer sua liberdade”. “Parte importante do país, na qual me incluo, não consegue ver justiça, muito menos equilíbrio em uma providência tão amarga, enquanto remanescem intocados notórios corruptos do PSDB”, enfatizou.

“Encabulante”

O senador Alvaro Dias (Podemos-PR), que também quer ser um dos candidatos, apontou que é lastimável ver um ex-presidente ser conduzido à prisão, mas é um “avanço”. “A impunidade perdeu, o estado de direito prevaleceu, as leis estão governando os homens neste momento e nós estamos caminhando para a inauguração da nova Justiça no Brasil. É assim que se constrói uma grande nação”, disse. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), segue a mesma linha de raciocínio. Ele também declarou que a prisão é lamentável, mas que tem a convicção de que isso simboliza uma importante mudança que vem ocorrendo no Brasil, que é o fim da impunidade. “A lei vale para todos”, destacou.

João Amoêdo, pré-candidato do Novo, parabenizou o juiz Sérgio Moro pela decisão. “Um exemplo para todo o Brasil. E tenho certeza que muita gente vai dormir mais feliz graças a ele”, comemorou. Paulo Rabello de Castro, pré-candidato pelo PSC, disse que não há motivos para comemoração e que a situação era inevitável, mas “encabulante” para os brasileiros. “É muito duro e difícil ver um ex-presidente, quem quer se seja, sendo coagido a prestar uma pena”, apontou. “Todos nós pagamos por isso, os que estão comemorando e os que estão lamentando. Pode ser o momento para fazer um exame de consciência e ver onde é que estamos errando”, completou.

Já a pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB, deputada Manuela D’Ávila (RS), foi contrária. Ela afirmou que participará hoje do ato da militância petista em São Bernardo do Campo (SP), em solidariedade ao ex-presidente. “Seguimos juntos, Lula! O Brasil vale a luta!”, disse a parlamentar, no Twitter. Pelo PSol, o pré-candidato Guilherme Boulos também criticou a decisão de Sérgio Moro. “Não vamos aceitar de forma passiva a prisão!”, publicou nas redes sociais. Ele afirmou que a detenção é “política”, “injusta”, “disparate” e um “absurdo”.

“É importante que todos saibam que vai haver resistência”, disse Boulos. “Essa prisão representa não apenas um atentado contra Lula. É um atentado contra a democracia brasileira, após uma condenação sem provas que quer resolver o processo eleitoral no tapetão”, criticou.

Deu no...

The New York Times

O juiz federal Sérgio Moro emitiu um mandado de prisão para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ordem veio após várias horas de discussão no Supremo Tribunal Federal, que negou o pedido de habeas corpus de Lula, o que possibilitaria que ele recorresse à sua condenação por corrupção em liberdade. Moro deu 24 horas para o ex-presidente se apresentar à Polícia Federal.

The Washington Post

O juiz federal Sérgio Moro pediu um mandado de prisão na quinta-feira para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dando um grande golpe no líder, que era o mais popular e tentava orquestrar um retorno político nas eleições de outubro de 2018. O mandado veio algumas horas depois do tribunal mais alto, o Supremo Tribunal Federal (STF), ter votação encerrada em 6 a 5 para negar o pedido de liberdade de Lula

Le Monde

O juiz Sérgio Moro ordenou o encarceramento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ícone da esquerda brasileira tem até sexta-feira, às 17h, para se apresentar à Polícia Federal de Curitiba, no sul do país. O magistrado não permitiu “o uso de algemas sob qualquer pretexto” durante a prisão. O Supremo Tribunal Federal lhe negou na quarta-feira seu pedido de habeas corpus.

Público

Horas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter rejeitado o pedido de habeas corpus de Lula da Silva, o juiz Sérgio Moro emitiu ordem de prisão ao ex-presidente do Brasil, condenado a 12 anos e um mês de cadeia no âmbito do processo da Lava-Jato, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Lula da Silva tem até as 17h locais de hoje (21h em Lisboa) para se entregar à Polícia Federal de Curitiba.