O globo, n. 30863, 05/02/2018. País, p. 4

 

Cristiane Brasil é líder de votos em Cavalcanti

Igor Mello

05/02/2018

 

 

MP apura se deputada pagou a traficantes para beneficiar aliado em bairro onde tem seu melhor desempenho

O mapa de votos da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RI) mostra que Cavalcanti, na Zona Norte do Rio, é a área onde tem melhor desempenho. Em 2014, foi a candidata à Câmara mais votada na zona eleitoral que abrange parte do bairro e vizinhança. A ligação com o local também aparece por um fato relacionado à campanha de 2010: um inquérito investiga se ela participou de um esquema de pagamento a traficantes de três comunidades para garantir apoio à candidatura de Marcus Vinícius (PTB), seu ex-cunhado, a deputado estadual no Rio.

Indicada pelo presidente Michel Temer para o Ministério do Trabalho, Cristiane teve a posse barrada por uma série de decisões judiciais, incluindo do Supremo Tribunal Federal (STF), por ter sido condenada em ações trabalhistas.

Cristiane conseguiu, em 2014, 11% dos votos válidos (2.899 votos) da 118ª Zona Eleitoral, formada por parte de Cavalcanti e cinco bairros vizinhos. Grande parcela dessa votação foi obtida justamente em seções localizadas em Cavalcanti, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao longo da carreira política, foi lá que ela obteve os melhores resultados nas urnas. A investigação por associação ao tráfico, revelada pelo jornal "O Estado de S. Paulo',” foi enviada semana passada a ProcuradoriaGeralda República. Segundo o inquérito, Cristiane e três assessores teriam pago para garantir que apenas Marcus Vinícius fizesse campanha nas comunidades Morro da Primavera, Parque Silva Vale e II Cowsert, todas em Cavalcanti.

MELHOR QUE BOLSONARO

Na eleição de 2014, Cristiane Brasil obteve na 118ª Zona Eleitoral quase o dobro da votação do segundo candidato a deputado federal mais lembrado, Iair Bolsonaro (PSC), campeão de votos no estado naquele ano. Nesse mesmo pleito, o mapa de votação da deputada mostra a importância da região para seu desempenho eleitoral: das 20 seções em que mais recebeu votos, 19 ficam em comunidades de Cavalcanti. O levantamento foi feito pelo GLOBO por meio do cruzamento dos dados de votação do TSE com informações sobre os locais de votação divulgados pelo Tribunal Regional Eleitoral.

Apenas 700 metros separam os três endereços onde as seções estão reunidas. As maiores votações de Cristiane ocorreram nas seções 408 e 403, localizadas na quadra da escola de samba Em Cima da Hora, que fica no bairro. No local, Cristiane levou 217 (ou 22%) dos 982 votos possíveis. As outras seções em que se destacou ficam na Escola Municipal Rosthan Pedro Farias, quase vizinha da agremiação, e na Paróquia Apóstolo São Pedro, também em Cavalcanti.

O resultado eleitoral em 2014 foi o ponto mais alto de uma longa relação com a região, iniciada em 20 04, quando se elegeu vereadora. Naquela ocasião, os resultados de Cristiane Brasil na área da 118ª Zona Eleitoral foram mais modestos: ela acabou como a nona colocada na jurisdição, com 539 votos.

Quatro anos depois, teve desempenho melhor foi lembrada por 1.554 eleitores, mais de 10% dos 14.583 votos que receb eu. Em 2012, novo crescimento, embora mais modesto: 1.609 votos, ficando em terceiro lugar na 1181 Zona Eleitoral.

O advogado André Miranda, que defende Cristiane Brasil, disse que a deputada só tomou conhecimento da investigação por associação ao tráfico pela imprensa.

Foi um inquérito instaurado em 2010 e diz respeito a uma relação eleitoral. Cristiane nunca foi intimada. Soubemos por alto que ele foi originário de uma denúncia anônima, que, provavelmente, deve ter sido feita por um adversário político. (A investigação) não tem elementos mínimos de progresso. Nos causa estranheza essa apuração sobre a questão eleitoral, porque, em 2010, Cristiane sequer foi candidata argumentou. Marcus Vinícius, que prestou depoimento em 2010, quando foi eleito, disse que “os fatos narrados não foram comprovados”.

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Estados dificultam aliança Alckmin-PSB

Silvia Amorim

05/02/2018

 

 

Partidos serão adversários em Pernambuco e Espírito Santo e querem nomes próprios em SP e no DF

SÃO PAULO - Pré-candidato do PSDB à Presidência, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não terá como pagar o preço que o PSB está cobrando para apoiá-lo na eleição. Refém de arranjos regionais do PSDB, o tucano já foi avisado por lideranças de seu partido que alianças com os pessebistas não acontecerão em estados onde eles têm exigido reciprocidade. Pior: em alguns locais, como Pernambuco e Espírito Santo, PSDB e PSB serão adversários.

Os dois estados estão na lista de reivindicações do PSB ao tucano, além de Distrito Federal e São Paulo. Na sucessão pernambucana, o PSDB selou acordo com PMDB, DEM e PTB para fazer oposição ao candidato à reeleição do PSB, Paulo Câmara. Segundo o presidente do PSDB em Pernambuco, deputado Bruno Araújo, a composição dará a Alckmin um “palanque consistente” no estado para a campanha nacional: A chance (de apoiar o PSB) é zero.

No Espírito Santo, o PSDB se aliou ao PMDB, de Paulo Hartung, candidato a reeleição, enquanto o PSB lançará o ex-governador Renato Casagrande.

- A tendência é estarmos sem o PSB. Não tem como impor que uma aliança nacional se repita nos estados - afirmou o presidente do PSDB capixaba, o vice-governador Cesar Colnago.

No DF, o tucanato está dividido entre quem apoia a reeleição de Rodrigo Rollemberg (PSB) e os que trabalham para lançar um candidato próprio. Em 2017, Alckmin se aproximou muito de Rollemberg, um dos aliados que o tucano tem no PSB para tentar convencer os demais dirigentes da sigla a apoiá-lo.

As duas legendas também insistem em lançar candidatos próprios em São Paulo. No PSB, o vice-governador Márcio França, que assume o governo em abril, quer a reeleição. lá o PSDB argumenta que, após 24 anos no poder, não pode abrir mão de um candidato. Semana passada, Alckmin pôs lenha no embate ao dizer que o melhor para ele seria ter um candidato único em sua base. Aliados começaram a ventilar a possibilidade de filiar França ao PSDB, 0 que gerou reação do grupo ligado ao prefeito João Doria, que exige prévias caso ocorra a filiação do pessebista.

O interesse de Alckmin no PSB nacional envolve o tempo de TV no horário eleitoral. A legenda tem cerca de 45 segundos. O PSDB tem entre um minuto e um minuto e meio, perdendo apenas para PMDB e PT. Alckmin calcula que precisará de ao menos cinco legendas para ter, no mínimo, quatro minutos de propaganda em cada bloco de 12 minutos.

Além dos arranjos estaduais, outro problema é que o PSB se dividiu em diversas correntes desde a morte de Eduardo Campos, em 2014. Cada grupo quer apoiar um pré-candidato a Presidência. No PSDB há quem aconselhe Alckmin a ignorar as cobranças, alegando que o PSB não teria “tamanho político” para tantas exigências.