Título: Em favor do made in Brazil
Autor: Rocha , Antônio
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2012, Opinião, p. 11

Apesar do otimismo gerado com o início do novo governo e com os anúncios de medidas importantes para alavancar a economia — tais como o Minha Casa, Minha Vida, a ampliação do Simples Nacional e o Pronatec —, o desempenho da economia em 2011 ficou aquém do esperado. O Produto Interno Bruto (PIB), que representa o valor total dos bens e serviços produzidos pelo país, desacelerou de 7,5% em 2010 para 2,7%. Os números deixam às claras a desaceleração de todos os setores da atividade econômica e acende o sinal amarelo, principalmente, sobre a forte diminuição da indústria nacional, que cresceu apenas 1,6% frente aos 10,4% de 2010, em especial do setor de transformação, que teve desempenho quase nulo no ano passado — de 0,1%, contra os 10,1% de 2010.

A tensão gerada pela crise internacional e a invasão de produtos importados fez com que a indústria apresentasse o pior resultado entre os três grandes segmentos que formam o PIB, em 2011. É preocupante, já que as importações brasileiras expandiram 9,7%, impulsionadas pela valorização do real e pelos incentivos oferecidos por alguns estados para a entrada de produtos estrangeiros. O maior poder de compra do brasileiro é algo a ser comemorado, mas o consumo de bens pelo varejo sendo abastecido por produtos de outros países afeta gravemente a nossa produção industrial.

No Distrito Federal, por exemplo, o faturamento das indústrias em 2011 declinou 1,11% frente à expansão de 34,5% observada no ano anterior. Por aqui, o comércio local também foi abastecido por produtos importados, situação favorecida pela valorização cambial, que tornou mais caros os preços das mercadorias da indústria brasiliense comparativamente àqueles vindos do exterior. Por outro lado, nossas exportações registraram saldo total de US$ 184,23 milhões, sendo o maior valor exportado pelo DF em toda a sua história. O crescimento foi de 20,56% na comparação com o ano de 2010. Entretanto, boa parte desse acréscimo se deve ao aumento do número de voos internacionais saindo da capital federal, reflexo do maior poder de turismo do brasileiro de um modo geral. A explicação está no fato de que, em nossa pauta de exportações, destaca- se o item "combustíveis e lubrificantes para aeronaves", com alta de 120,15% no ano passado, utilizados pelas empresas aéreas internacionais que operam na rota de Brasília. Nesse caso, a compra é contabilizada como exportação de produto nacional, enquanto no que se refere à produção genuinamente brasiliense, nossa participação foi bem tímida.

De uma maneira geral, o comportamento da economia brasileira em 2011 chama nossa atenção para um setor em especial. Trata-se da indústria, principal responsável pelo progresso tecnológico e aumento da produtividade — não só para si, mas para outros setores. A indústria tem essa característica: por meio de suas compras de bens e serviços intermediários torna sua produção uma produção adicional para outros segmentos industriais e para os demais setores da economia. Inglaterra, França, Estados Unidos e mais recentemente China conceberam seu desenvolvimento em torno da indústria.

Precisamos repensar uma nova política industrial para o país, buscando elevar sua competitividade por meio da eliminação de gargalos existentes na área de crédito, P&D, exportação e importação, qualificação profissional e tributação. Ela também deve ter um viés regional, objetivando dirimir os problemas gerados com a guerra fiscal. Nesse sentido, defendemos maior agilidade do governo em iniciativas de apoio à indústria — haja visto o viés tributário — para que ela saia do atual estágio de estagnação.

Aguardamos com ansiedade no sentido de que o governo brasileiro tenha uma posição proativa no sentido de ampliar a taxa de crescimento do Brasil. A indústria representa um dos setores mais estratégicos para o país, carro-chefe do desenvolvimento. Que os brasileiros continuem viajando o mundo, porque isso traz mais riqueza cultural agregada ao país. Mas estamos no ensejo de virar o jogo nessa relação turístico-comercial. Em vez de sairmos para consumir, o ideal é que tenhamos bons produtos, com competitividade, para que o brasileiro possa consumi-los, e que eles também sejam exportados pelos estrangeiros, que importaremos cada vez mais para cá.