Correio braziliense, n. 20038, 01/04/2018. Política, p. 3

 

No meio do furacão, Temer troca ministros

Paulo de Tarso Lyra

01/04/2018

 

 

JUSTIÇA » Presidente inicia a semana mexendo as peças na Esplanada. Além do prazo de desincompatibilização, intenção é tirar o foco da operação Skala, que avançou sobre círculo pessoal do emedebista. Ele tenta demonstrar disposição para o jogo eleitoral

Amparado na necessidade de promover trocas em sua equipe ministerial pelo término do prazo de desincompatibilização dos auxiliares, e pressionado para provar que a Operação Skala não paralisou o governo, o presidente Michel Temer iniciará a semana dando posse aos novos ministros da Saúde, Gilberto Occhi, e dos Transportes, Valter Casimiro Silveira, que entram, respectivamente, nas vagas de Ricardo Barros e Maurício Quintella.

O presidente Michel Temer deve prosseguir hoje, com a ajuda dos ministros mais próximos, a desenhar o xadrez da reforma. O governo precisa seguir funcionando, já que o emedebista não dá mostras, ainda, de ter abdicado do desejo de concorrer à reeleição. Por isso, ações importantes, como a privatização da Eletrobras — um sinal positivo ao mercado — não podem sofrer abalos, mesmo com a saída do ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho.

Coelho Filho batalha para manter no cargo o atual secretário executivo, Paulo Pedrosa. A interlocutores, o ainda ministro confidenciou que, se for substituído por alguém com interesses políticos ou sem convicção, todo o esforço pela privatização — uma batalha que, por si só, não é fácil — poderia ficar comprometido. Um dos cotados para o posto é o ex-diretor geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Jorge Bastos. Porém, sua nomeação enfrenta resistências na área técnica e coloca ainda mais em risco a privatização da Eletrobrás e as negociações da cessão onerosa.

Paulo Pedrosa também já disse a amigos que pretende deixar o cargo se a troca no comando da pasta trouxer uma mudança na condução política do programa. Pela mesma razão, o presidente da estatal, Wilson Ferreira Jr., prepara-se para deixar o cargo. Uma fonte do governo disse que essa baixa traria grandes prejuízos, uma vez que o executivo tem segurado “no braço” os fortes ajustes que vêm sendo realizados na estatal com o objetivo de prepará-la para a privatização.

Temer também tem desenhado trocas nos bancos públicos. Ele decidiu ontem pela ida de Dyogo Oliveira, atual ministro do Planejamento, para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dyogo, porém, resiste à troca. Mas, se tiver mesmo de sair, pretende deixar no posto seu atual secretário executivo, Esteves Colnago. Dessa forma, haveria continuidade na atuação da pasta, tal como vai ocorrer na Fazenda, onde Henrique Meirelles será substituído pelo atual número dois, Eduardo Guardia.

As alterações na composição do ministério foram discutidas neste sábado, no Palácio do Jaburu, onde Temer recebeu o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Wellington Moreira Franco, e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR). Na conversa, falou-se sobre a permanência de Aloysio Nunes Ferreira no comando do Ministério das Relações Exteriores. Quem está cotado para substituí-lo é o embaixador Marcos Abott Galvão.

Na Caixa Econômica, com o deslocamento de Occhi para o Ministério das Cidades, Temer resolveu promover para a presidência do banco público o atual vice-presidente de Habitação, Nelson Antônio de Souza. As trocas na Saúde e na Caixa foram negociadas pelo Planalto diretamente com o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI). O presidente sabe que precisa manter o PP em sua base de apoio, caso uma nova denúncia contra ele venha a ser apresentada pelo Ministério Público Federal.

O PP, o Solidariedade e o PR compareceram ao lançamento da pré-candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao Planalto. O MDB acompanha a distância os movimentos, mas interlocutores palacianos confirmam que a estratégia é não esticar demais a corda para que futuras composições políticas e eleitorais não sejam prejudicadas. “Neste momento, entendemos que todos os partidos que compõem a base do governo devem continuar. Até porque a candidatura do governo ainda está em gestação e, neste momento, existe um diálogo a respeito deste assunto”, ressalta o ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun.

O MDB também se prepara para as mudanças, e a tendência é que os secretários executivos sejam mantidos nas pastas de Integração Nacional e Turismo. Existem deputados emedebistas que buscam uma saída para a senadora Marta Suplicy, que é benquista pelo MDB paulista, mas terá dificuldades para se reeleger ao Senado. Como ela não deseja concorrer à Câmara, uma alternativa poderia ser nomeá-la para alguma pasta.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Reforço na segurança pessoal

01/04/2018

 

 

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República prevê que será necessário reforçar medidas de proteção ao presidente Michel Temer, caso ele leve adiante o plano de disputar a reeleição. O acirramento do debate político, evidenciado pelos tiros disparados contra ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elevou a preocupação com a segurança do emedebista.

Autoridades do governo avaliam que se instaurou no país, de maneira inédita, um clima de rivalidade e ódio político, como ficou patente nos confrontos entre militantes petistas e opositores ao longo do trajeto da caravana de Lula. Segundo uma fonte ouvida sob a condição de anonimato, o “humor” da campanha preocupa e não haveria como oferecer “garantia absoluta” de segurança a Temer.
 
O Planalto ainda não decidiu quais medidas práticas adotará, mas estuda formas de redobrar os cuidados com a exposição de Temer, sobretudo em eventos públicos — sem ferir a legislação eleitoral, para não caracterizar favorecimento ao presidente. Mesmo durante a campanha, cabe aos militares do GSI coordenar a segurança do presidente e familiares. Os demais candidatos, quando solicitam, dispõem de equipes de escolta da Polícia Federal, depois das convenções partidárias.
 
Ex-presidentes possuem oito servidores, por eles escolhidos, para segurança e apoio pessoal, além de dois veículos custeados pela Presidência. Todos são vinculados à Secretaria-Geral da Presidência, embora parte deles seja treinado pelo GSI. Normalmente, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), subordinada ao GSI, faz monitoramento constante de possíveis manifestações que podem ocorrer próximo a compromissos públicos do presidente. É com base em mapeamentos como esse e análise de risco que se planeja o esquema de segurança e pode-se até aconselhar Temer a ir ou não a determinada agenda.
 
Até agora, os episódios que mais preocuparam o GSI foram relacionados à casa particular do presidente no Alto de Pinheiros, em São Paulo. Em uma ocasião, um homem tentou invadir o local, com familiares e a primeira-dama, Marcela Temer, dentro. Ele danificou o portão com um pedaço de madeira e tentou pular o muro, mas terminou preso.
 
8: Número de servidores à disposição de ex-presidentes da República para segurança e apoio pessoal