O globo, n. 30859, 01/02/2018. Economia, p. 17

 

Desemprego Recorde

daiane Costa

01/02/2018

 

 

País tem maior taxa média de desocupação desde 2012. Expectativa é de retomada com emprego formal

Ainda que a recessão tenha ficado para trás, o desemprego continuou subindo no ano passado. A taxa média de desocupação saltou de 11,5% para 12,7%, a maior parcela da força de trabalho desempregada desde que o IBGE iniciou a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Mensal (Pnad), em 2012. Desde o início da crise, em 2014, 6,5 milhões de postos de trabalho foram fechados, e a maior parte das poucas vagas criadas foi sem carteira ou por conta própria. Ao fim do ano passado, 12,3 milhões de pessoas procuravam emprego no país, informou o IBGE ontem.

A boa notícia, segundo analistas, é que os dados do quarto trimestre de 2017 indicam que o pior já passou, e 2018 deve registrar aumento da oferta de vagas formais. Ao longo do ano de 2017, a taxa de desemprego chegou a 13,7% no período entre janeiro e março. Depois disso, vem recuando, graças a ocupações precárias. No último trimestre, ficou em 11,8%, quando foi registrada a primeira queda, na comparação com igual período do ano anterior, desde outubro de 2014.

— A taxa de desocupação é alta ainda, mas com mais gente ocupada em relação ao quarto trimestre de 2016. Ainda que o emprego esteja mais centrado na informalidade, a renda média e a massa salarial estão subindo. Uma economia que cresce com mais força, como deve ocorrer com o Brasil em 2018, gera vagas de melhor qualidade — avalia Thiago Xavier, economista da Consultoria Tendências, que projeta taxa de desemprego médio de 12,4% este ano, caindo para 11,6% em 2019.

O contingente de pessoas trabalhando em áreas mais ligadas à informalidade cresceu. O número de trabalhadores no setor de alojamento e alimentação avançou para 5,140 milhões, enquanto o de empregados domésticos — que caiu em anos passados como sinal da qualidade do mercado — subiu para 6,127 milhões.

Já analistas ouvidos pela Bloomberg projetam taxa de 12% para a média deste ano, recuando para 10,9% em 2019.

INDÚSTRIA JÁ REAGE COM VAGAS

Segundo Xavier, apesar da previsão de aumento de vagas este ano, a taxa não cederá consideravelmente em relação à média do ano passado. A economia mais aquecida levará mais pessoas a procurarem emprego, incluindo as que tinham desistido de buscar uma oportunidade, pressionando o mercado. Isso impedirá uma queda mais forte na taxa de desemprego.

Segundo economistas, setores como indústria —, que a partir do segundo trimestre de 2017 voltou a contratar — comércio e serviços serão os principais empregadores com carteira em 2018. Estes dois últimos segmentos estão sendo impulsionados pela melhora da renda das famílias, das condições de acesso a crédito, devido aos juros mais baixos, e da redução do nível de endividamento.

Artur Passos, economista do Itaú, diz que os dados do último trimestre de 2017 mostram que a queda do desemprego está menos dependente do mercado informal. O banco prevê taxa média de 12,1% este ano e de 11,2% em 2019.

— Em 2018, a taxa só não vai ceder mais porque parte dos postos gerados com carteira serão ocupados por trabalhadores que estão na informalidade. Vai haver essa migração.

O ano de 2017 consolidou a melhora da renda: o rendimento médio voltou a crescer em relação ao ano anterior, para R$ 2.141 — mesmo valor registrado para a média do ano de 2014, pico da série histórica da pesquisa do IBGE.

Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do instituto, atribuiu a melhora à inflação menor: o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saiu de 6,29%, em 2016, para 2,95%, em 2017, e parou de corroer os salários.

— O número de pessoas empregadas voltou a reagir, mas a qualidade da ocupação ainda é precária — analisou Azeredo.

No quarto trimestre de 2017 a população ocupada foi estimada em 92,1 milhões, alta de 2% em relação ao mesmo período de 2016.