O globo, n. 30859, 01/02/2018. País, p. 20

 

Em 50 anos, Brasil terá a mesma proporção de idosos do Japão

01/02/2018

 

 

Percentual da população com mais de 65 anos será de 30%

RIO - A preocupação de especialistas com a reforma da Previdência é baseada em uma realidade inevitável: o Brasil está envelhecendo. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 5,4% da população brasileira tinham mais de 65 anos no ano 2000. Em 2013, último dado disponível, esse percentual tinha saltado para 8,9%. Na avaliação de economistas, esse fenômeno deve ganhar mais fôlego nos próximos anos. O país, hoje o sétimo mais jovem de um grupo de 36 nações acompanhadas pela OCDE, passará a figurar entre os que têm mais idosos.

Na avaliação do economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio, essa tendência não só reforça a necessidade da reforma hoje em discussão como é sinal de que outra rodada de mudanças das regras de aposentadoria será necessária daqui a alguns anos.

— É muito provável que teremos que fazer uma nova reforma daqui a cinco, sete anos. O Brasil hoje é o sétimo país mais jovem da OCDE. Daqui a 50 anos, seremos o sétimo mais velho. É muito pouco tempo. Daqui a 50 anos, nossa proporção de idosos na sociedade será comparável com a do Japão, que tem 30% de idosos. O Brasil tem 11%. O Brasil gasta hoje 14% do PIB com previdência e assistência social. O Japão gasta os mesmos 14%. É inacreditável — destacou o economista, durante o debate “E agora, Brasil?”.

Outros dados reforçam essa transformação demográfica. Um levantamento divulgado ano passado pelo demógrafo José Eustáquio Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE), mostrou que o Brasil envelhece mais rapidamente que seus pares. O país deve demorar 50 anos para quadruplicar, de 7% para 28% da população, seu contingente de pessoas com mais de 65 anos. Na França, essa transformação levará 204 anos.

SEGUNDA PREVIDÊNCIA MAIS CARA

Estudo divulgado em 2016 pela pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano também reforça essa tendência. Segundo as projeções da especialista, o número de pessoas com mais de 60 anos quase triplicará, de 12% para 33% da população, entre 2015 e 2050. Enquanto isso, o percentual de adultos considerados em idade ativa, de 15 a 59 anos, diminuirá de 66% para 58%.

Nas contas de Camargo, o Brasil tinha, em 1980, 13 adultos para cada idoso com mais de 65 anos. Hoje, essa proporção é de nove para um. E a expectativa é que essa taxa caia para apenas 2,3 em 2060. Ou seja: o número de trabalhadores na ativa que sustentam o sistema previdenciário tende a diminuir.

— Nossa mudança demográfica é a mais rápida de todos os países comparáveis ao Brasil. O processo de envelhecimento dos países centrais demorou séculos. O nosso vai acontecer em poucas décadas — pontuou o economista.

O freio no ritmo de concessão de benefícios é visto como saída em um país onde quem está na ativa já paga caro para financiar o sistema previdenciário. Segundo estudo do economista Pedro Nery, assessor técnico do Senado, o Brasil tem a segunda Previdência mais cara do mundo, considerando as alíquotas cobradas de empregadores e empregados. Só perde para a Itália, onde a soma das duas contribuições chega a 33%. No sistema brasileiro, a mordida é de até 31%. No Chile, a contribuição é de, no máximo, 16%, mas a maior parte (até 13%) é bancada pelo empregado.

— Qualquer trabalhador formal é obrigado a poupar 30% dos seus salários todos os meses para financiar os idosos. Dez por cento seus e 20% do patrão. Que país tem essa taxa de poupança? Só os asiáticos. Mas é uma taxa de poupança dos trabalhadores que estão na ativa. E ainda assim você tem um déficit de 3,5% do PIB no sistema. Sendo que, hoje, só temos 11% da população de idosos. Estamos gastando como o Japão, que tem 30% — observou Camargo.

Para o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, os dados mostram que há uma necessidade crescente de alterar as regras da Previdência. O foco principal da reforma proposta pelo governo é o estabelecimento de uma idade mínima para acesso ao benefício.

— Não dá mais para fingir que não tem um elefante na sala. Gastamos 57% das despesas com Previdência, e a média da OCDE é de menos de 20%. E estamos falando de países envelhecidos. Esse problema está crescendo muito rapidamente. O déficit da Previdência em 2010 era de menos de R$ 50 bilhões. Em 2013, por exemplo, foi de R$ 49 bilhões. Subiu para R$ 182 bilhões em quatro anos — observou o ministro, lembrando que o aumento da formalização, um fenômeno positivo, também contribuiu para a elevação dos gastos previdenciários.