Título: Lobão incentivado a brigar pelo Senado
Autor: Correio, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 02/04/2012, Política, p. 4
O Palácio do Planalto prepara uma triangulação política ousada para alterar a estrutura de poder do PMDB do Senado. A movimentação se inicia com o apoio palaciano para levar o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, à presidência do Senado em 2013. Dilma abriria o caminho para indicar um nome de sua lavra para o Ministério — provavelmente o atual secretário-executivo, Márcio Zimmermann —, encerrando o ciclo de poder do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no setor elétrico.
Sarney, contudo, não poderia ficar contrariado, já que Lobão é seu afilhado político — em 2008, a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi contra a indicação política, mas Luiz Inácio Lula da Silva bancou a nomeação. Permaneceria, então, com um aliado no Comando da Casa. Se a manobra tiver êxito, o preterido será o atual líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL), que pleiteia ocupar novamente a presidência do Senado, de onde foi apeado após denúncias de se valer de um empreiteiro para pagar contas pessoais. Para não melindrar Renan, figura importante no equilíbrio da base aliada no Senado, o Planalto sinaliza um apoio para que este concorra ao governo de Alagoas em 2014.
O PMDB, contudo, não está alheio e já expressou seu desconforto com os planos palacianos. A investida é vista como um agravador do clima já pesado no relacionamento entre o governo e uma das principais legendas de sua base aliada. "Além da interferência em uma decisão que pertence à bancada, a mudança no comando do ministério não pode ser lida de outra forma que não a da retirada de uma pasta importante do PMDB", avalia um cacique da legenda no Senado.
Para caciques peemedebistas, o nome de Márcio Zimmermann, filiado ao PMDB e que já ocupou o cargo em outros momentos, seria insuficiente para fazer o partido se resignar com a troca no comando do ministério. "O Zimmermann nunca vai ser um ministro do partido, ele é da Dilma, como praticamente todos os outros secretários-executivos da Esplanada. Se isso acontecer, o Ministério de Minas e Energia não será mais do PMDB", diz um peemedebista.
Os peemedebistas criticam a possibilidade de Dilma buscar influir no processo decisório. "Eu não acredito e não quero acreditar que esse movimento seja uma coisa real. Seria uma interferência grave e precipitada", diz o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que tem entre seus principais projetos a candidatura à presidência da Casa em 2013.
Dilma está interessada, de fato, em retomar o domínio completo do setor elétrico, sua área de origem como administradora pública. Os movimentos para reduzir a influência do PMDB de Sarney começaram logo no início do mandato de Dilma, com a substituição de José Antônio Muniz Lopes por José da Costa Carvalho na presidência da Eletrobras. Em seguida, a presidente tirou o comando de Furnas das mãos do peemedebista fluminense Eduardo Cunha.
Interlocutores de Renan também reconhecem que ele está em uma situação desconfortável. A intervenção "aumenta a ferida que já está aberta na bancada, aprofunda a divisão interna do partido e atinge duas grandes lideranças da legenda, José Sarney e Renan Calheiros (PMDB-AL). É importante entender que a crise foi acalmada, mas os sentimentos continuam represados", observa um senador peemedebista. Além disso, segundo apurou o Correio, ser candidato ao governo alagoano não é exatamente uma prioridade para o líder peemedebista no Senado.
Já para Lobão — que foi presidente interino do Senado durante sete meses em 2001 — a pecha de "ungido" da presidente pesa, e muito, dentro do PMDB. Contribui para a rejeição o fato de Lobão ter se filiado ao PMDB em 2007. "O mais "recente" aqui é o Sarney, que se filiou há 28 anos. Lobão ainda tem que comer um bom quilo de sal ao lado dos companheiros até poder se considerar um peemedebista autêntico", diz um colega de sigla.