O globo, n. 30887, 01/03/2018. País, p. 4
Gilmar ataca Barroso, que reage dizendo não frequentar palácios
01/03/2018
Ministro do STF comentava polêmica envolvendo ex-diretor da PF
-BRASÍLIA- O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou ontem a atacar Luís Roberto Barroso, seu colega na corte, afirmando que ele “fala pelos cotovelos”. A declaração foi feita ao blog da jornalista Andréia Sadi, do G1. Barroso respondeu que o Direito “não é feito para proteger amigos” e que não frequenta palácios nem troca “mensagens amistosas" com réus. Os dois já discutiram em outras ocasiões, inclusive no plenário do Supremo.
Gilmar comentava a polêmica em torno de Fernando Segovia, agora ex-diretor-geral da Polícia Federal, que sugeriu, em entrevista à agência “Reuters” o arquivamento de inquérito contra o presidente Michel Temer. Barroso é o relator da investigação e determinou que Segovia se explicasse.
— O Barroso que não sabe o que é alvará de soltura, fala pelos cotovelos. Antecipa julgamento. Fala da malinha rodinha. Precisaria suspender a própria língua — afirmou.
CORRIDINHA
Ao mencionar a “malinha rodinha”, o ministro fez referência ao julgamento, ocorrido em dezembro, em que seu colega comentou o vídeo no qual o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor especial de Temer, aparece carregando uma mala com R$ 500 mil.
— Eu quero dizer que eu vi a fita, eu vi a mala de dinheiro, eu vi a corridinha na televisão — afirmou Barroso, na época.
Em nota, enviada ao blog do G1, Barroso rebateu as críticas de Gilmar. “Jamais antecipei julgamento. Nem falo sobre política. Eu vivo para o bem e para aprimorar as instituições. Sou um juiz independente, que quer ajudar a construir um país melhor e maior. Acho que o Direito deve ser igual para ricos e para pobres, e não é feito para proteger amigos e perseguir inimigos. Não frequento palácios, não troco mensagens amistosas com réus e não vivo para ofender as pessoas”, escreveu ele.
Barroso fez referência aos encontros — muitos deles fora da agenda — entre Gilmar e o presidente Temer, assim como a proximidade dele com políticos investigados, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
De perfis opostos, os ministros já provocaram momentos de tensão no plenário do STF, com direito a críticas diretas e bate-boca durante julgamentos.
Em outubro do ano passado, os dois ministros discutiram durante uma sessão do STF. Barroso afirmou que o colega “muda de jurisprudência de acordo com o réu”, enquanto Gilmar disse que o ministro foi advogado de “bandidos internacionais”.
Em junho, durante o julgamento da delação da JBS, o clima também azedou entre os dois, que têm posições diferentes sobre as regras das delações premiadas. Gilmar chegou a deixar o tribunal após a discussão com Barroso, antes de a sessão terminar.