O globo, n. 30887, 01/03/2018. País, p. 4

 

Segovia: de diretor-geral a adido na Itália

01/03/2018

 

 

O anúncio da nova função foi feito por Temer, que elogiou o ex-diretor da PF

-BRASÍLIA- Um dia após ser demitido do comando da Polícia Federal (PF), Fernando Segovia recebeu como prêmio de consolação a indicação para o cargo de adido da instituição na Itália, um dos postos mais cobiçados dentro da PF. A troca no comando, com a ascensão de Rogério Galloro à direção-geral, agradou aos delegados do Grupo de Inquéritos Especiais (Ginq), que tiveram um embate com Segovia por causa de um inquérito contra o presidente Michel Temer. Para eles, o novo titular tem perfil técnico e, diferentemente do antecessor, não deverá fazer declarações públicas nem criar embaraço a qualquer investigação.

O anúncio da nova função de Segovia foi feito pelo próprio Temer, em entrevista à rádio “Jovem Pan":

— Ele fez um trabalho muito correto, muito adequado, mas o que eu quis evidenciar é que o ministro da Segurança montaria a sua equipe, e eu dei autonomia para isso. Ademais, não houve uma dispensa, houve um ajustamento. O Segovia irá para Roma, numa adidância especial na Itália, creio que em julho ou em agosto.

Enquanto o presidente afagou o demitido, os delegados que atuam nas investigações de políticos com foro, incluindo o próprio Temer, comemoraram a mudança. Numa entrevista às vésperas do carnaval, o ex-diretor disse que o inquérito aberto para apurar supostas irregularidades na edição do decreto dos portos estava perto do fim e deveria ser arquivado por falta de provas. Disse ainda que se Temer, um dos alvos da investigação, fizesse reclamação formal, o delegado do inquérito, Cleyber Malta Lopes, poderia sofrer algum tipo de punição.

Numa reação ao então diretor-geral, os delegados divulgaram uma nota afirmando que iriam pedir a prisão de qualquer pessoa que tentasse atrapalhar as investigações. O ministro Luís Roberto Barroso, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), impôs silêncio ao diretor.

Foi com um misto de surpresa e satisfação que eles receberam a notícia da troca. Galloro estava, desde novembro, à frente da Secretaria Nacional de Justiça. Mas, antes disso, já tinha sido superintendente da PF em Goiás, diretor de Logística e adido nos Estados Unidos. Foi ele também quem comandou a PF na Copa do Mundo e nas Olimpíadas.

Galloro deve tomar posse amanhã. A ideia do novo diretor seria manter boa parte dos superintendentes. Está praticamente certo, no entanto, que fará troca nas diretorias setoriais, inclusive na Diretoria de Combate ao Crime Organizado.