O globo, n. 30901, 15/03/2018. Economia, p. 22

 

Brasil já admite ação conjunta na OMC contra sobretaxa do aço

Joaõ Sorima Neto e Henrique Gomes Batista

15/03/2018

 

 

Temer, porém, diz que primeiro vai telefonar para Donald Trump

 

SÃO PAULO E WASHINGTON- O presidente Michel Temer admitiu ontem que o Brasil pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as sobretaxas impostas pelos Estados Unidos sobre o aço e o alumínio importados. Mas ressaltou que, antes disso, buscará a negociação bilateral, inclusive conversando com o presidente americano, Donald Trump.

— Vou telefonar ao presidente Trump. Somos contra qualquer protecionismo. Queremos abertura de nosso mercado e também a abertura dos mercados estrangeiros ao Brasil — disse Temer, que participou ontem do Fórum Econômico Mundial, em São Paulo.

Segundo Temer, já houve conversas preliminares entre membros do governo e o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, sobre a possibilidade de uma ação conjunta no organismo multilateral.

— Pelos tratados internacionais, as tarifas de importação de aço e alumínio variam de zero a 4,5,%. Subiram para 25% e 10%. Portanto, se não houver uma solução amigável, vamos fazer uma representação à OMC, não unilateralmente, mas com todos os países que tiveram prejuízo. Essa medida coletiva dará mais força à representação — disse Temer.

Ele disse ainda que o governo está em contato com as empresas brasileiras que vendem aço aos EUA, assim como com as companhias americanas que recebem o produto brasileiro. A ideia é que as empresas trabalhem juntas para modificar a medida de Trump no Congresso americano.

Na terça-feira, o Brasil enviou carta ao Departamento de Comércio americano pedindo a exclusão do aço brasileiro da sobretaxa. No documento, o Brasil reforça os argumentos de que não ameaça a indústria americana. A Embaixada brasileira em Washington também está mapeando os distritos eleitorais dos EUA onde empresas brasileiras são fortes empregadoras, para pressionar os deputados. Outra frente é listar produtos americanos que têm no Brasil um mercado importante.

— Estamos agindo e temos muito contato com o Congresso. Ouvi de um deputado que os argumentos brasileiros são mais fortes que os canadenses (que foram excluídos, assim como o México, da nova taxa) — disse o embaixador em Washington, Sergio Amaral.

Ele explicou que já se reuniu com o representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), embaixador Robert Lighthizer, dias antes da decisão de Trump. Segundo Amaral, o objetivo foi esclarecer que o Brasil não é uma ameaça à segurança americana e que as indústrias siderúrgicas dos dois países estão interligadas.

Amaral disse que, até o momento, os americanos não pediram nada em troca, apenas ouviram os argumentos. Mas ele ressaltou que espera ver o Brasil excluído da sobretaxa, “porque a medida não se justifica”. Os detalhes sobre a tarifa devem ser divulgados na semana que vem.

Com relação à declaração de Temer sobre uma ação conjunta na OMC, Amaral, ao ser perguntado quais seriam esses países, disse que ainda é cedo para citar nomes:

— Agora todos estão conversando, é difícil antecipar. Mas os europeus já manifestaram que devem recorrer.