O globo, n. 30899, 13/03/2018. País, p. 6

 

Para PGR, governo pode extraditar Battisti.

13/03/2018

 

 

Dodge defende que decisão anterior, tomada por Lula, não é vitalícia

-BRASÍLIA- A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, defendeu ontem, em parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o governo brasileiro tem poderes para rever a decisão de não extraditar o ex-ativista italiano Cesare Battisti, condenado pelo assassinato de quatro pessoas em seu país natal. Em decreto publicado em 2010, no último dia de mandato, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia decidido manter Battisti no Brasil. A defesa do italiano sustenta que a decisão é irrevogável, mas Dodge discorda da interpretação.

No parecer, a procuradorageral cita que a decisão tomada pelo STF determina que a entrega de estrangeiros para extradição cabe ao presidente da República, e não ao Judiciário, por tratar-se de medida de natureza política. Para Dodge, essa decisão pode ser mudada pelo chefe do Executivo. Ela também argumentou que o pedido de revisão da decisão não busca anular o decreto de Lula, mas sim revogá-lo.

NOVO PEDIDO

A defesa de Battisti recorreu ao STF contra uma nova tentativa de extradição feita pela Itália. Em fevereiro, os governos brasileiro e italiano apresentaram documentos ao STF pedindo a derrubada da liminar que, em outubro, beneficiara Battisti. Na ocasião, o ministro Luiz Fux garantiu que ele continuasse solto — Battisti havia sido preso dias antes ao tentar cruzar a fronteira, mas já estava em liberdade — e ainda impediu qualquer ato do governo brasileiro no sentido de expulsá-lo, extraditá-lo ou deportá-lo.

Os governos do Brasil e da Itália argumentam que cabe ao presidente da República ter a última palavra num processo de extradição. Segundo decisão tomada pelo próprio STF em 2009, ao julgar a extradição de Battisti, o Judiciário não pode interferir nisso.

Na avaliação dos advogados de Battisti, já se esgotou o prazo para rever a decisão tomada por Lula. O governo brasileiro refutou o argumento e alegou ainda que, apesar de Battisti ser pai de um brasileiro, o filho nasceu em 2016, depois da primeira decisão do STF que deu ao presidente a última palavra para autorizar a extradição. Assim, isso não seria impeditivo para tirá-lo do Brasil.

A Advocacia-Geral da União (AGU) também afirmou que a decisão tomada pelo STF não impede que o “próprio Chefe de Estado revise o ato presidencial anterior”.