O globo, n. 30897, 11/03/2018. País, p. 4

 

‘Renovação’ do DEM passa por nova geração de clãs

Débora Bergamasco

11/03/2018

 

 

Expoentes do partido entraram na política pelas mãos dos pais e avós

 

-BRASÍLIA- Desde que o PFL foi rebatizado de Democratas, em 2007, esta é a primeira vez que o DEM promete levar adiante uma candidatura própria à Presidência da República. Nos discursos que fomentam a précandidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), a palavra “renovação” ganha ênfase especial para vender uma imagem de que o deputado de 47 anos é a “nova geração” do partido, ao lado do novo presidente do DEM e prefeito de Salvador, ACM Neto, de 39, e do ministro da Educação, Mendonça Filho, de 51.

Se por um lado o trio representa uma exceção aos sexagenários e septuagenários que comandam o Brasil, por outro, eles são também expoentes de velhos clãs políticos. Os três entraram na vida pública graças ao empurrãozinho dos seus influentes ascendentes — pais e avô. Mesmo assim, dá para falar em renovação?

— Claro que é renovação — responde Rodrigo Maia. — O prefeito de Salvador ganhou a eleição no voto, o Mendonça já foi vice-governador, deputado estadual e federal eleito pelo voto, não por uma decisão do pai dele. E eu, apesar de ninguém acreditar muito, cheguei à Presidência da Câmara pela segunda vez. Não fui escolhido presidente da Câmara pelo meu pai.

Maia argumenta que os três construíram seus projetos “com a base que aprendemos com eles (pais e avô), com seus acertos e erros”.

PARTIDOS NÃO DÃO OPÇÕES

O sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Baía afirma que a política como atividade familiar não é uma novidade no Brasil nem no mundo e lembra, por exemplo, das famílias Bush e Kennedy, nos Estados Unidos. Ele pondera que se novas gerações de velhos clãs continuam se perpetuando no poder, em parte, é resultado da falta de opção que os partidos proporcionam aos eleitores.

— Os partidos não oferecem cardápio de renovação. Em uma realidade em que o voto é obrigatório, e a candidatura avulsa é proibida, a estrutura partidária tem importância fundamental — afirma o sociólogo.

Isso, acrescenta, explica o grau elevado da dependência de cair nas graças dos líderes do partido.

Rodrigo é filho de Cesar Maia, que foi prefeito do Rio por 12 anos. O pai inaugurou seu caminho político sozinho. Estudante de economia em Minas Gerais, ele se enfronhou no movimento estudantil e entrou para o Partido Comunista. Com o golpe de 1964, acabou preso e exilouse no Chile para fugir da perseguição dos militares. De volta ao Brasil, passou pelo PDT, migrou para o PMDB e, por fim, acomodou-se no PFL, subvertendo o espectro ideológico de sua juventude.

Cesar Maia foi também deputado federal aos 42 anos e sua influência impulsionou o jovem Rodrigo na vida pública em 1997, quando assumiu uma secretaria municipal do Rio aos 26 anos, na gestão de Luiz Paulo Conde. O então prefeito havia sido escolhido pelo próprio Cesar Maia para sucedê-lo na prefeitura do Rio. Dois anos depois, Rodrigo elegeu-se deputado federal, aos 28 anos, e desde então, vem renovando sucessivamente seu mandato.

Antônio Carlos Magalhães, lembrado ainda hoje pelos parlamentares mais antigos como “o velho ACM”, também iniciou sua trajetória na militância estudantil na década de 1950, mas cresceu politicamente durante o regime militar. Nos braços da ditadura, chegou a prefeito de Salvador e a governador da Bahia, atingindo uma hegemonia política quase absoluta no estado e forte influência federal.

— O Rodrigo, o Mendoncinha e o Neto tiveram as veredas abertas por seus parentes, mas não teriam caminhado nem dez quilômetros se não tivessem competência própria — diz o senador Agripino Maia (DEMRN), primo de Cesar Maia. — Sou testemunha de que hoje eles já chegaram muito mais longe do que seus pais, avô e tios chegaram quando tinham suas idades.

O velho ACM só chegou à prefeitura de Salvador aos 40 anos, enquanto ACM Neto elegeu-se pela primeira vez ao cargo aos 33. Mas entrou na carreira política como secretário municipal aos 20, por influência do avô. Uma vez dentro, elegeu-se deputado federal com 24.

Com o ministro Mendonça Filho, o enredo não foi diferente. Com a ajuda do pai, José Mendonça Bezerra, então deputado federal, ele se elegeu deputado estadual aos 21 anos e federal aos 29. Seu pai só conseguiu entrar para a Câmara federal aos 43.

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‘Outsider’ à procura de partido

Luís Lima

11/03/2018

 

 

Flávio Rocha faz ato de campanha; em SP, Boulos se lança pelo PSOL

 

Aos gritos de “Brasil para frente, Rocha presidente” e “ou vai ou Rocha”, o dono da rede de lojas Riachuelo, Flávio Rocha, admitiu ontem para cerca de 4 mil pessoas o seu interesse em ser candidato à Presidência. No discurso disse que, se uma candidatura ao Planalto encabeçada por seu nome ganhar musculatura, fará o possível para “mudar o Brasil”.

— Se por acaso acontecer (uma candidatura), sou soldado, e, com o apoio, energia e solidariedade de vocês, farei o possível para mudar (o Brasil) — disse o empresário em Parelhas, no interior do Rio Grande do Norte.

Rocha participou do 30º evento do Brasil 200, movimento fundado por ele, em janeiro, e que defende um Estado liberal na economia e conservador nos costumes. O número faz referência aos 200 anos de independência do país, a ser celebrado em 2022. Para embalar o evento, foi criado até um jingle, chamado “Que seja feita a vontade do povo”, de autoria da dupla sertaneja Mateus e Cristiano.

Rocha ainda não se filiou a nenhum partido, e tem até o dia 7 de abril para fazê-lo, caso queira efetivamente entrar na disputa. Na semana passada, em Brasília, teve conversas com integrantes de PP, PRB e PMDB. O empresário tem o apoio do Movimento Brasil Livre (MBL).

Também ontem, o PSOL lançou oficialmente Guilherme Boulos como pré-candidato à Presidência. O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) defendeu um plebiscito para saber se a população quer revogar medidas do governo Temer, como a reforma trabalhista. No discurso, rebateu acusações de que sua candidatura é próxima a Lula e criticou o presidenciável Jair Bolsonaro, chamando-o de “bandido”.