O globo, n. 30895, 09/03/2018. País, p. 3
Risco de debandada
Patrícia Cagni e Leticia Fernandes
09/03/2018
No primeiro dia da janela partidária, PMDB perde três deputados e teme esvaziamento
-BRASÍLIA- No primeiro dia da janela partidária, a comunicação de saídas de deputados do PMDB, do presidente Michel Temer, levou o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) a entrar em campo, em tom de apelo, para tentar evitar uma debandada do partido. Pelo grupo de WhatsApp da bancada na Câmara, e também por telefone, o ministro trabalha contra o enfraquecimento da legenda às vésperas da eleição.
A janela está aberta até o dia 7 de abril, e os deputados que trocarem de legenda neste momento não perderão os mandatos pela regra da fidelidade partidária. As mudanças têm, entre outros fatores, relação com a capacidade de cada legenda para financiar as campanhas de quem buscará a reeleição, uma vez que a maior parte dos recursos disponíveis neste ano vem de dois fundos públicos: o partidário e o eleitoral.
Há uma estimativa de descontentes no PMDB de que pode chegar a 11 o número de saídas. A bancada peemedebista tem 58 integrantes na Câmara. Ontem, três deputados utilizaram o grupo de WhatsApp chamado ‘MDB DEBATES’ para anunciar a desfiliação: André Amaral (PB), Altineu Côrtes (RJ) e Celso Pansera (RJ). Logo em seguida, Marun pediu “cautela” aos que pensavam em sair, mas admitiu o “momento difícil”.
“O MDB, com todos os seus defeitos, é um partido consolidado e histórico, e onde temos laços consolidados e especiais. Reconheço que o momento é difícil, mas afirmo sem medo de errar que a migração partidária na véspera da eleição não é o melhor caminho”, pediu o ministro aos colegas de partido, em mensagem obtida pelo GLOBO.
O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), um dos vice-líderes do governo na Câmara, admitiu que haverá perdas. Mas reproduziu uma estimativa de que o partido pode conseguir manter bancada semelhante a que já tem com a adesão de outros parlamentares.
— Alguns deputados vão sair, mas muitos também vão entrar. O nosso líder, Baleia Rossi, acha que no fim da janela vai equilibrar.
Um dos deputados descontentes que já foi acionado por Marun para mudar de ideia é Osmar Serraglio (PR). O parlamentar reconhece o assédio para que não troque de legenda.
— Ele (Marun) me pediu para pensar com calma — resumiu Serraglio.
O deputado paranaense tem divergência com o cacique peemedebista de seu estado, o senador Roberto Requião, e argumenta que só considera permanecer no PMDB caso tenha garantias de que a condução do pleito no estado será diferente:
— Em todas as campanhas políticas o líder lá é o Requião, e ele me dificulta sempre. E eu cansei.
No caso de Celso Pansera, a justificativa é falta de afinidade ideológica em relação às últimas decisões tomadas pelo partido. Ele vai se filiar ao PT. Desde o início do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, de quem foi ministro, Celso Pansera se posiciona — em votações e discursos — de maneira contrária à defendida pelo PMDB. O deputado também votou a favor da abertura dos processos de investigação do presidente Michel Temer.
— Nossas divergências foram no campo político. Não levo nenhuma mágoa pessoal e se, porventura, eu tenha deixado alguma, peço perdão — escreveu Pansera aos ex-colegas peemedebistas, em mensagem enviada ao grupo.
André Amaral, o terceiro do PMDB que anunciou a saída, está de partida para o PROS.
DINHEIRO PARA CAMPANHA É ATRATIVO
Com o fim do financiamento privado das campanhas, o dinheiro a ser disponibilizado pelos partidos passou a ser um atrativo para quem está insatisfeito. Com recursos dos dois fundos públicos, legendas médias, como PP e PR, estariam prometendo disponibilizar até R$ 2,5 milhões para a campanha de quem for buscar a reeleição, justamente o teto permitido para as eleições de deputado federal.
Altineu Côrtes (RJ) deixou o PMDB para voltar ao PR, partido que deve crescer na janela. Ele nega que a migração seja diretamente ligada ao financiamento de campanha.
— No meu caso não teve absolutamente nada a ver com isso, e não vejo nada definido em números nos partidos, de dar tanto, mas partidos médios e grandes vão ajudar os candidatos — diz Côrtes.
O DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), informou a filiação de quatro novos deputados nesta quinta-feira: Heráclito Fortes (PI), João Paulo Kleinübing (SC), e os fluminenses Laura Carneiro e Sérgio Zveiter. O PDT, que tem Ciro Gomes como pré-candidato ao Planalto, espera receber dois novos nomes: Chico D’Ângelo e Hugo Legal. O deputado Marco Feliciano (SP) vai se filiar ao Podemos, que tem o senador Alvaro Dias (PR) como presidenciável.
Partido do também pré-candidato Jair Bolsonaro (RJ), o PSL realizou, na última quarta-feira (7), um ato simbólico para efetuar a migração do deputado Jair Bolsonaro (RJ), pré-candidato à Presidência. No evento, presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), informou que espera a filiação oficial de outros oito deputados à legenda.
O líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MS), reclama do “leilão” na Câmara.
— Quando acabou com o financiamento privado, todo mundo ficou assustado em relação a como fazer uma campanha. E somado a isso, tem o fundo partidário e a janela. Com essa soma de novidade que temos agora, temos praticamente um leilão — ponderou.
Apesar de receber a filiação — realizada antes mesmo da abertura da janela partidária — dos deputados Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR), o PSB ainda é visto como um dos partidos que pode sofrer o maior número de baixas. Alguns dos deputados da legenda deverão seguir ao DEM de Rodrigo Maia. A migração nessa direção já aconteceu com parlamentares que acabaram expulsos pelo PSB, como a coordenadora da bancada ruralista Teresa Cristina.
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Maia se lança ao Planalto e não assume defesa de Temer; Ciro alfineta PT
Catarina Alencastro e Débora Bergamasco
09/03/2018
PDT e DEM apresentam pré-candidatos ao Planalto em 2018
-BRASÍLIA- Os dois pré-candidatos que se lançaram ontem à disputa presidencial, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), e Ciro Gomes (PDT), adotaram discursos de distanciamento em relação a seus principais aliados. Enquanto Maia assegura que não tem a obrigação de defender o legado de Temer, Ciro alfinetou o PT, que corre o risco de ficar órfão de seu principal nome, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja participação na disputa está seriamente ameaçada pela condenação em segunda instância no caso do tríplex.
Para conseguir se viabilizar, com ou sem a defesa do governo, Maia terá que dar uma arrancada grande, uma vez que tem 1% das intenções de voto. Ciro, que chega a até 13% nas pesquisas, por sua vez, conta em herdar votos de eleitores de Lula.
Maia adotou tom otimista e de desafio, em entrevista após a convenção realizada pelo DEM em Brasília que tinha o seu lançamento como objetivo.
— A minha candidatura vai decolar, pode escrever aí. Não tem plano B. Pode escrever aí, eu tô no segundo turno com certeza — disse Maia.
Questionado sobre o fato de ter apoiado a gestão do presidente Michel Temer, e agora renegar o selo de candidato do governo, disse não ter obrigação de defender um “legado” da atual gestão.
— A obrigação do legado é do governo, não é obrigação da minha candidatura. A minha candidatura quer representar um projeto para o futuro, e naquilo que eu acredito que está certo eu vou defender. O governo quer um candidato para defender o legado. E eu sou o candidato para representar o futuro. Para defender o legado, eu não estou disposto — anotou.
O deputado afirmou que o foco de sua campanha será a Educação, e defendeu o “fim da pobreza e das desigualdade”.
— Tenho coragem para aceitar o desafio de andar todo o Brasil sem falsas promessas, mas com a confiança da minha determinação e com o apoio decisivo que recebo de todos vocês. A nossa geração não vai falhar. Nós queremos um Brasil seguro, moderno, eficiente e solidário .
O novo presidente do DEM, o atual prefeito de Salvador (BA), ACM Neto, afirmou que o partido vai buscar apoios de outras siglas, inclusive da oposição. Só descarta o PT. Maia citou como referências políticas o pai, o exprefeito do Rio Cesar Maia, que construiu sua trajetória no PDT, e o grande ícone daquele partido, Leonel Brizola.
— Brizola, com quem convivi durante muitos anos, com a divergência das ideias, mas com o respeito e admiração por um homem ético e que amava o seu povo — disse Maia.
CIRO: MAIS CUIDADO VERBAL
Mas quem representará o partido de Brizola nas eleições é Ciro. Nas palavras do presidente do PDT, Carlos Lupi, a candidatura é “irreversível”. Em seu otimismo, Ciro já prevê até quem seria seu adversário no segundo turno: o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).
— Provavelmente eu e o Alckmin iremos para a disputa no segundo turno — disse.
Na eleição de 2002, quando concorreu à Presidência da República, Ciro viu sua candidatura naufragar após comentário machista sobre sua então mulher, a atriz Patrícia Pillar. Na época, ele disse que “a minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo”. Dessa vez, prometeu que terá mais cuidado e que evitará “piadas engraçadinhas”.
— Eu não creio que morri pela boca (em 2002), francamente, embora não possa me desculpar de bobagens que a gente faz (...) Sou feminista e fiz uma piada de extremo mau gosto com a mulher da minha vida, o amor da minha vida. Por isso me desculpei, mas eu estava marcado para morrer. Como não podem dizer que eu sou ladrão, que sou incompetente, eu dei o queixo para bater e dessa vez eu vou tomar muito mais cuidado. — afirmou Ciro.
Ao ser indagado se espera receber o apoio do PT, ele alfinetou a legenda tem tradição de “não apoiar ninguém” e no cenário que se desenha sem o ex-presidente Lula na corrida, Ciro diz sentir “uma responsabilidade muito grande” sobre as costas.
— A história é um testemunho muito mais forte do que retórico, ou de interpretações de um certo centro de intrigas que eu vi surgir (...) Ao longo dos últimos 16 anos eu ajudei o Lula sem faltar nenhuma vez (apoiando-o no primeiro ou no segundo turno). E estou vendo o que está acontecendo no país. Vejo crescer nas minhas costas uma responsabilidade muito grande.