O globo, n. 30895, 09/03/2018. Economia, p. 19

 

Boeing está perto de acordo com Embraer

Henrique Gomes Batista

09/03/2018

 

 

Executivos querem formalizar aliança ainda este mês; Brasil pode virar plataforma de exportação

-NOVA YORK- O acordo entre Boeing e Embraer tende a ser finalizado ainda em março, para aplacar incertezas no mercado e evitar a politização do tema, que pode crescer com a proximidade das eleições. A empresa americana tenta, na reta final das negociações, mostrar que não “engolirá” a Embraer, e que manterá empregos e pesquisas no Brasil.

Nas conversas, os americanos tentam mostrar que não será um negócio simples dentro da estratégia da Boeing. A empresa pode usar o Brasil para desenvolver produtos na área de defesa, que seriam mais facilmente vendidos para diferentes países sem a restrição das leis americanas à exportação de tecnologia da área militar a outras nações. Assim, a gigante americana sinaliza que parte do desenvolvimento de novas tecnologias seria feita no Brasil, com patente brasileira. Isso ajudaria a convencer o governo brasileiro, que tem a palavra final no negócio por ter a chamada golden share (classe especial de ação) desde a privatização da Embraer, em 1994.

As negociações estão nos detalhes finais. O acordo propõe a separação da atuação militar da Embraer, que continuaria sob controle brasileiro, da área de aviação civil, a que mais interessa à Boeing. Seria uma forma de a americana completar seu portfólio para competir com a Airbus. A europeia se associou no ano passado com a maior concorrente da Embraer, a canadense Bombardier, ganhando mais escala na área de jatos de menor porte.

REUNIÃO COM MEIRELLES

A recente troca de comando no Ministério da Defesa não afetou as negociações entre Embraer e Boeing, pois os participantes dos grupos de trabalho que envolvem também o governo brasileiro foram mantidos.

A empresa americana tem se esforçado para mostrar que o negócio é bom para o Brasil. Já há companhias aéreas globais interessadas em realizar compras, vendo com bons olhos a união da Boeing com a Embraer para ter, em um único fornecedor, uma gama completa de aeronaves. Alguns negócios podem estar suspensos ou sendo atrasados por causa da indefinição na finalização do acordo. Essas incertezas poderiam, segundo fontes, estar por trás da queda do lucro da Embraer apontada no quarto trimestre do ano passado — que coincide com a proposta de negócio por parte da Boeing, revelada em dezembro.

Além da questão de soberania, o governo brasileiro tem a preocupação de garantir empregos e o desenvolvimento de tecnologia na empresa de São José dos Campos (SP). Mas, do ponto de vista empresarial, a união das duas pode gerar ganho de escala para o setor. Por conta disso, nos últimos dias, a gigante americana intensificou seu encontro com autoridades brasileiras.

Ontem, parte dos executivos da empresa teve uma reunião com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em Nova York. Na quarta-feira, eles se encontraram em Washington com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB ao Planalto.

— Do ponto de vista do interesse nacional, é importante ouvir. A proposta da Boeing, a esta altura, é a separação da Embraer em uma companhia de defesa, que seria com um componente ou a totalidade dos atuais acionistas, com total controle nacional, e uma empresa de jatos comerciais. E esta teria então a participação conjunta de acionistas atuais da Embraer, em posição minoritária, e da Boeing — afirmou Meirelles, após se reunir com Greg Smith, vice-presidente executivo da Boeing; Travis Sullivan, vice-presidente de Estratégia; Donna Hrinak, presidente da Boeing América Latina; e Ana Paula Ferreira, diretora de Comunicação para a América Latina.

Meirelles lembra que há aspectos técnicos e comerciais importantes, como a manutenção de produção nacional, mão de obra brasileira e marca:

— Do ponto de vista empresarial, há uma lógica de ganhar escala. Eles dizem que têm um interesse grande em usar mão de obra brasileira por uma questão de custo e alta qualidade dos profissionais da Embraer. Isto será devidamente analisado.

Ontem, durante teleconferência de apresentação dos resultados financeiros de 2017, Souza e Silva, afirmou que a companhia, o governo e os demais acionistas da empresa continuam trabalhando com “muito engajamento” para que as negociações com a Boeing avancem:

— Todos os lados continuam tentando achar uma estrutura que atenda aos interesses de todas as partes. Mas, dada a complexidade da operação, é natural que se gaste mais tempo nessas análises. As partes estão bastante engajadas para encontrar uma alternativa.

Na semana passada, ele havia previsto uma definição no primeiro semestre.

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Lucro líquido da companhia despenca 81,92% no 4º trimestre

09/03/2018

 

 

No ano passado, porém, ganhos da empresa cresceram quase 36%

-SÃO PAULO- O lucro líquido da Embraer chegou a R$ 795,8 milhões em 2017, valor 35,9% maior do que o registrado em 2016, informou ontem a companhia. No quarto trimestre, contudo, a fabricante de aviões brasileira teve queda de 81,92% no lucro, de R$ 117,2 milhões, ante R$ 648,3 milhões do mesmo período de 2016. Esse recuo deveu-se ao impacto negativo de R$ 217,2 milhões causado por atualizações no valor de ativos.

Segundo o vice-presidente financeiro da Embraer, José Filippo, a empresa teve custos adicionais inesperados no projeto do novo cargueiro militar KC-390, o que reduziu os ganhos.

META DE ENTREGAR ATÉ 220 JATOS

Nos últimos três meses de 2017, a Embraer entregou 23 aeronaves comerciais e 50 executivas: totalizando 101 aviões comerciais e 109 executivas no ano. Para 2018, a estimativa da empresa é entregar entre 105 e 125 jatos executivos, e de 85 a 95 comerciais.