O globo, n. 30894, 08/03/2018. País, p. 4
Moro condena Bendine a 11 anos de prisão por corrupção e lavagem
Cleide Carvalho e Luiz Gustavo Schmitt
08/03/2018
Ex-presidente da Petrobras foi acusado de receber propina da Odebrecht
O ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil Aldemir Bendine foi condenado ontem a 11 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele foi acusado de receber R$ 3 milhões da Odebrecht em troca de favorecimento em contratos da estatal.
Bendine está preso desde julho do ano passado, quando foi deflagrada a 42ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de Cobra. Na mesma sentença, o juiz Sergio Moro também condenou pelos mesmos crimes o marqueteiro André Gustavo Vieira, acusado de ser o operador financeiro de Bendine. Vieira e Bendine foram absolvidos do crime de organização criminosa.
O magistrado considerou que a culpabilidade de Bendine aumenta à medida que assumiu a Petrobras em meio a um escândalo de corrupção.
“O último comportamento que dele (Bendine) se esperava era corromper-se, colocando em risco mais uma vez a reputação da empresa”, escreveu Moro na sentença.
Por confessar crimes e confirmar as acusações contra Bendine, Vieira teve a pena reduzida para seis anos e meio de prisão. Segundo seu advogado, José Diniz, o marqueteiro teve a prisão revogada e poderá responder o processo em liberdade. Na sentença, Moro reconheceu a confissão do marqueteiro e concedeu o benefício de cumprir a pena no semiaberto.
Também réus na ação, o empresário Marcelo Odebrecht e o executivo Fernando Reis foram condenados pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. O doleiro Álvaro Novis também foi sentenciado por lavagem de dinheiro.
PAGAMENTOS EM DINHEIRO VIVO
Como fecharam acordo de delação premiada, a condenação não muda a situação de Marcelo, Reis e de Novis. O doleiro e Marcelo cumprem prisão domiciliar.
Antônio Carlos Júnior, irmão do marqueteiro André Gustavo Vieira, foi absolvido. A defesa lamentou o fato de que ele chegou a ser preso pela Operação Lava-Jato.
O Ministério Público Federal acusa Bendine de pedir propina referente a 1% de um refinanciamento de R$ 1,7 bilhão do Banco do Brasil para a Odebrecht Agroindustrial. O primeiro pedido de propina foi de R$ 17 milhões, mas o valor caiu após negociação.
Marcelo Odebrecht foi ouvido na ação e confirmou o repasse e os encontros com Bendine fora da agenda e em “locais escondidos” — dois num escritório de advocacia e um na casa do marqueteiro, entre fevereiro e maio de 2015, em Brasília.
Marcelo disse que só aceitou pagar a propina após Bendine assumir a Petrobras por temer retaliação à empreiteira. Relatou ainda que Vieira fez a intermediação. O marqueteiro apresentou pagamentos que fez de despesas de US$ 10 mil de uma viagem de Bendine a Nova York. Ele contou que mantinha uma conta de propina com Bendine e relatou entregas de dinheiro vivo.
O ex-presidente da Petrobras alegou a Moro que devolveu o dinheiro na volta da viagem, quando foram entregues R$ 37 mil a Vieira em uma livraria no Centro do Rio. A defesa de Bendine disse que vai recorrer da condenação.