Correio braziliense, n. 20061, 24/04/2018. Política, p. 3

 

Temer tenta montar palanques

Rodolfo Costa

24/04/2018

 

 

UM PAÍS SOB TENSÃO » A partir de reuniões com pré-candidatos e caciques regionais, presidente abre portas para coligações em estados chaves

O governo federal já estrutura um palanque em São Paulo. Lá, o presidente Michel Temer se reuniu com o governador do estado, Márcio França (PSB), o ex-prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) e o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (MDB). A estratégia do comandante do Palácio do Planalto em receber três dos principais pré-candidatos ao governo estadual é não fechar as portas para ninguém. E sondar até onde for possível uma eventual coligação com um dos três, de olho nas eleições nacionais.

A definição por parte do governo federal não será rápida. Temer e a cúpula do MDB ainda avaliam criteriosamente as conversas e propostas dos pré-candidatos estaduais em São Paulo. O apoio aos postulantes se dará no limite da data de registro das candidaturas, em 15 de agosto. Até lá, o próprio emedebista terá decidido quem disputará as eleições pelo governo. Se ele próprio, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles ou outro candidato.

O mútuo acordo entre Temer e os pré-candidatos é benéfico a todos. Ao presidente, é a oportunidade de obter a estrutura partidária e apoio nos palanques do estado mais populoso do país. Já Skaf, Doria e França estão de olho no poder e arranjo do MDB, o maior partido do país. Não à toa todos procuraram o chefe do Executivo federal e foram recebidos na residência do presidente, na Zona Oeste da capital paulista.

A aproximação de Temer e Doria é até natural. Os dois são bons amigos e têm sintonia na pauta reformista. O ex-prefeito de São Paulo tem igual interesse. Afinal, ele almeja ocupar a Presidência da República. Caso Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e presidenciável pelo PSDB, seja eleito em 2018, em tese, poderia permanecer oito anos no cargo, em caso de uma eventual reeleição. Com Temer se reelegendo, esse tempo seria de apenas quatro anos.

O diálogo com França também é igualmente estratégico. O crescimento de França em São Paulo pode motivar um embarque de Temer ao pessebista. Boa parte dos prefeitos do MDB estão sinalizando apoio ao atual governador. O prestígio a Skaf também não poderia ser diferente. É o candidato do partido de Temer, e o governo não planeja dar as costas de imediato. “Não interessa ao presidente entrar em rota de colisão com nenhum deles agora. A regra é não fechar a porta para ninguém. O momento ainda é de conversar e até estudar quem será o candidato do governo nas eleições nacionais”, destacou um interlocutor do presidente.

A atenção a Skaf mostra, inclusive, uma atenção do governo com as pesquisas. Aos pré-candidatos, Temer sinalizou que os resultados das pesquisas de intenção de voto terão peso importante no futuro das eleições regionais e estaduais. A última pesquisa Datafolha aponta Doria na liderança, com 29% das intenções. Já o candidato emedebista e presidente da Fiesp conta com 20%. O presidente, por sua vez, conta com apenas 1%. Caso os números não avancem favoravelmente a ele, um apoio a Alckmin seria avaliado.