O globo, n. 30908, 22/03/2018. País, p. 8
‘Fake news’: Senado debate medidas
Maria Lima
22/03/2018
Solução passa por responsabilizar plataformas e investir em jornalismo
-BRASÍLIA- Autoridades da Justiça Eleitoral, especialistas em mídias digitais e personalidades de entidades da imprensa debateram ontem, no plenário do Senado, formas de combater as notícias falsas, as fake
news, nas eleições — as primeiras em que os candidatos poderão patrocinar publicações na internet. Duas propostas tiveram maior apoio: a responsabilização das plataformas digitais pelas notícias que divulgam, como ocorre com os veículos de comunicação; e o investimento em jornalismo de credibilidade como contraponto às informações falsas.
A influência de hackers russos na eleição do presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, e o episódio da disseminação de notícias falsas sobre a vereadora do Rio Marielle Franco, assassinada na última semana, foram citados como formas perversas do uso de fake news.
A sessão foi realizada a pedido do senador Telmário Mota (PDT-RR), com apoio de outros 16 parlamentares. Uma comissão do Senado analisa oito projetos de lei sobre o tema que tramitam no Congresso. O grupo tem 30 dias para se manifestar.
— Vimos a avalanche de notícias falsas veiculadas a respeito da vereadora Marielle. Na ocasião, lamentavelmente, uma desembargadora compartilhou informações que diziam que Marielle era engajada com bandidos, que havia sido eleita pelo Comando Vermelho. Veja que situações como essa trazem grande prejuízo à reputação e transtorno inimaginável para os familiares — disse Telmário.
TSE RECEBEU EQUIPE DO FBI
O presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Paulo Tonet Camargo, cobrou a responsabilização das plataformas digitais que veiculam notícias falsas e lucram com “esse negócio milionário”. Sua sugestão para combater as fake news é “jornalismo na veia”.
— Não há forma de certificação melhor para a notícia do que o jornalismo. Por quê? Em primeiro lugar, porque o jornalismo é profissional, e aqui eu faço uma profissão de fé aos jornalistas, aos profissionais que ocupam e que dedicam a sua vida a esta atividade de apurar a verdade. E, segundo, porque este jornalista tem cara, endereço, e-mail publicado e pode ser responsabilizado se errar — defendeu Tonet. — Se os nossos veículos divulgam uma notícia falsa, temos responsabilidade criminal e civil. Então, quem distribui notícias tem que assumir responsabilidades.
O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Tarcísio Vieira disse que uma equipe do FBI especializada em crimes cibernéticos visitou a Corte este mês:
— Eles nos passaram um panorama bastante preocupante das dificuldades que são enfrentadas no tratamento desta matéria, sobretudo à luz da própria principiologia constitucional e jurídica atinente à liberdade de expressão.