Título: PR rachado entre o governo e a oposição
Autor: Gama, Junia
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2012, Política, p. 4

A mudança radical operada pelo PR no Senado, que partiu para a oposição na semana passada após um encontro "amargo" entre a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e o líder Blairo Maggi (MT), não deve fazer muitos seguidores. Deputados do partido ensaiam permanecer na base governista e, nos estados, a tendência é fazer alianças respeitando a realidade local, independentemente das relações com o governo federal.

A postura mais moderada do partido na Câmara e nos estados já estava sendo desenhada desde que o Senado rompeu com o governo. Com a resposta implacável do Planalto, que decidiu não recuar diante da pressão dos senadores e ainda mandou recados de que não iria negociar sob pressão, a resistência em deixar a base governista foi acentuada na Câmara e nos estados.

Estão marcadas para hoje reuniões importantes para a definição dos rumos que o partido irá tomar. No início da tarde, os presidentes dos diretórios estaduais do PR se encontram para discutir a situação nestas eleições municipais. Ao cair da noite, os deputados na Câmara afinam a postura que devem adotar frente ao governo. Apesar do partido sinalizar que irá usar a disputa em São Paulo para reivindicar um tratamento melhor do governo federal, as indicações são de que nada deve mudar.

"O Senado é uma Casa à parte. Não foi uma decisão de partido, foi a decisão de um grupo", aponta uma liderança do PR, afirmando que há um trabalho para manter a postura de "alinhamento ao governo, de forma independente", diz um deputado do partido. O deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), um dos chefes da legenda, vem pregando a moderação, segundo interlocutores. "As orientações do Valdemar têm sido no sentido de os deputados terem muita calma", aponta um republicano.

Hoje, de um total de 40 deputados, um grupo de 14 prega a rebeldia. Há nomes avulsos, como o deputado Izalci Lucas (PR-DF), apeado da presidência do PR no Distrito Federal por criticar o governo local do PT, e mais um punhado de deputados liderados por Anthony Garotinho (PR-RJ). A maioria, no entanto, teme uma repercussão negativa na base eleitoral no caso de saída do governo. "Se a saída da base fosse por causa de uma mudança programática, tudo bem. Mas como vou explicar para os meus eleitores que saímos simplesmente porque não fomos atendidos em determinado pleito?", questiona o deputado Maurício Quintella (PR-AL).

Decisão à revelia A permanência no governo deverá prevalecer à revelia do que o Senado decidiu. Há aqueles que defendem, inclusive, que os sete senadores não irão sustentar o isolamento por muito tempo. "Os senadores tomaram uma decisão sem consultar a Câmara. Agora, é mais fácil o Senado voltar para a base do que a Câmara ir para a oposição", pontua um deputado republicano.

Nos estados, o partido irá pontuar que deve prevalecer a liberdade para fechar alianças de acordo com a lógica de cada local. Mágoas à parte, o critério de escolha será o tamanho do espaço que o PR terá nas chapas em cada município. "O clima não está bom, mas tem alguns casos críticos. Como desalojar os secretários do PR da prefeitura de Guarulhos, que é do PT, há seis meses das eleições? ", exemplifica um parlamentar.

Somente São Paulo, a menina dos olhos dessas eleições, deve ficar à serviço das pressões do partido sobre o governo federal. "O PT tratando o PR como está, fica difícil nossa posição. Os estados devem decidir como irão agir, mas, no caso de São Paulo, acho difícil desvincular da esfera nacional, porque é a maior capital e isso tem que ser resolvido em conjunto", aponta o presidente do PR na capital paulista, Antônio Carlos Rodrigues.

Divórcio anunciado A crise na relação entre o governo e o PR começou quando, em julho do ano passado, Alfredo Nascimento (PR-AM) foi demitido do Ministério dos Transportes, acusado de montar um suposto esquema de superfaturamento em obras envolvendo servidores da pasta. Desde então, o PR briga para retomar o controle do ministério, entregue ao ex-secretário executivo da pasta Paulo Sérgio Passos. Apesar de filiado ao PR, parlamentares do partido alegam que Paulo Sérgio não os representa e reivindicam tratamento igual ao dado a outras legendas da base, que conseguiram emplacar ministros no lugar daqueles demitidos pela presidente Dilma Rousseff.

Clésio Andrade se filia ao PMDB Ex-integrante do PR no Senado, Clésio Andrade (MG) anunciou ontem a filiação ao PMDB. A solenidade reuniu o presidente dos peemedebistas em exercício, Valdir Raupp (RO), e os líderes do partido na Casa, Renan Calheiros (AL), e do governo no Senado, Eduardo Braga (AM). Suplente do ex-senador Eliseu Resende, ele assumiu o mandato em janeiro de 2011, depois da morte do titular. Ele será o 19º senador do PMDB e negou ter a intenção de disputar o governo mineiro em 2014. "O vice-presidente Temer foi muito elegante comigo, mas vejo isso como uma forma de o partido homenagear Minas", afirmou.