O globo, n. 30906, 20/03/2018. País, p. 5

 

Brasil tem um político executado por mês, revela levantamento

Igor Mello

20/03/2019

 

 

Desde o início do ano passado, 15 vereadores e prefeitos foram mortos

Levantamento feito pelo GLOBO com base em informações reunidas pela União dos Vereadores do Brasil (UVB) mostra que casos como o da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), morta na quarta-feira passada, não são exceção: desde o começo de 2017, o Brasil teve 15 vereadores e prefeitos executados, uma média de um por mês.

Em pelo menos seis desses casos as investigações identificaram motivação política. O estado com mais casos é o Pará, onde dois prefeitos e dois vereadores foram mortos. Um deles foi Diego Kolling (PSD), prefeito de Breu Branco, morto a mando do presidente do PSD no Pará, Ricardo Chegado, segundo as investigações. Kolling foi baleado em maio de 2017, enquanto andava de bicicleta com amigos. Chegado foi preso pela Polícia Civil do Pará em julho.

Já a cidade de Batalha, no Sertão de Alagoas, teve duas mortes ligadas a uma disputa entre políticos locais. O vereador Adelmo Rodrigues de Melo, o Neguinho Boiadeiro (PSD), foi executado em novembro do ano passado. Sandro Pinto (PMN), seu colega na Câmara, foi preso por participação na morte.

O crime desencadeou uma onda de violência na política local, que culminou na morte do vereador Tony Carlos Silva de Medeiros, conhecido como Tony Pretinho, em dezembro. Ele foi morto a tiros pelo filho de Neguinho Boiadeiro, José Márcio Cavalcante, que acusava o parlamentar de ter envolvimento na morte do pai. José Márcio já havia se envolvido em um atentado contra outro político da cidade.

Para o presidente da UVB, Gilson Conzatti, as mortes com motivação política são uma realidade presente principalmente em cidades pequenas. Ele afirma que nesses locais o exercício das prerrogativas do mandato, como a fiscalização, é mais difícil.

— O vereador, quando se propõe a fiscalizar, fica sujeito a riscos se há pessoas mal intencionadas do outro lado. Nas cidades pequenas todo mundo se conhece. O vereador faz uma denúncia e acaba virando inimigo de um outro grupo — disse Conzatti.

Ainda segundo ele, a execução de Marielle Franco pode ser um divisor de águas na violência relacionada à política no país. Ele afirmou que a direção da UVB vai se reunir para criar uma campanha que mobilize autoridades e instituições como a Justiça Eleitoral e a Polícia Federal, no combate a esse tipo de crime.

— Eu acho que temos que pegar a Marielle como uma bandeira. Dentro de suas convicções, ela exercia o mandato com excelência, realizando aquilo que um vereador deveria fazer. Com certeza estava incomodando por isso — completa.

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Rio lidera mortes em campanhas eleitoral

20/03/2018

 

 

Desde 2008, pelo menos 79 candidatos foram assassinados, diz estudo

Dados preliminares de um estudo da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) mostram que, desde 2008, pelo menos 79 candidatos foram mortos durante campanhas municipais. A pesquisa, de autoria do cientista político Felipe Borba e do mestrando Ary Aguiar, revela que o Rio de Janeiro teve o maior número de vítimas, 13 no total. O levantamento foi antecipado pelo jornal “Valor Econômico”.

Entre os 79 mortos, 63 eram candidatos a vereador, enquanto seis tentavam se eleger prefeitos e outros três, vice-prefeitos. Há ainda quatro candidatos a deputado estadual e outros três a federal. Além do Rio, outros estados concentram um número expressivo de mortes, como São Paulo (9) e Pernambuco (7).

Segundo Borba, as eleições municipais concentram grande parte dos assassinatos com conotação política no país.

— A violência política no Brasil tem caráter local e ocorre principalmente nos pequenos municípios, com um pequeno número de eleitores — observa.

CRIME ORGANIZADO De acordo com Borba, os dados obtidos até aqui mostram que não há um perfil ideológico ou político específico nas mortes. Elas envolvem políticos de 25 partidos diferentes, em 22 estados. Ele crê que é a dinâmica na política local que motiva os crimes:

— No Brasil, dois fatores estão relacionados a essas mortes na política. Um é a presença do crime organizado, e o outro tem a ver com a dinâmica local. É o conflito entre elites, que se resolve com violência.

Durante a eleição de 2016, uma série de mortes de précandidatos foram registradas na Baixada Fluminense, no Rio. Ao menos 11 pré-candidatos foram assassinados na região entre novembro de 2015 e agosto de 2016.