O globo, n. 30905, 19/03/2018. País, p. 4

 

Petistas já consideram que prisão de Lula é inevitável

Catarina Alencastro

19/03/2018

 

 

Avaliação, porém, é que ex-presidente fique poucos dias na cadeia

-BRASÍLIA- A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos próximos dias já é tratada por pessoas ligadas a ele como algo inevitável. A expectativa desse entorno do petista, porém, é que a estadia do ex-presidente atrás das grades seja breve. A avaliação deles é de que membros do Judiciário querem “a foto” de Lula preso, mas que quando isso acontecer, a situação não se sustentará por muito tempo, com a acolhida de algum dos recursos da defesa.

— Querem a foto da prisão, a humilhação. Mas não consigo imaginar Lula preso por muito tempo. Ele vai ficar uma semana, dez dias no máximo — diz um amigo do presidente, sem detalhar a estratégia de defesa que será implementada para viabilizar a soltura.

Existem hoje duas possíveis saídas para Lula pendentes de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), onde residem as esperanças do ex-presidente. Há um habeas corpus preventivo apresentado pela própria defesa, negado liminarmente pelo ministro Edson Fachin, e uma outra ação que busca revisar a jurisprudência sobre a prisão após condenação em segunda instância. A presidente do STF, Cármen Lúcia, já avisou que não pautará os processos, e Fachin, por sua vez, informou que não levará o habeas corpus “em mesa”, ou seja, diretamente ao plenário.

MUITO ABALADO

Como o julgamento do recurso da defesa de Lula contra a condenação em segunda instância deve ser analisado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) ainda neste mês, dificilmente haveria como evitar a prisão por decisão do STF. Lula foi condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo caso do tríplex do Guarujá (SP).

O ex-presidente nega publicamente, mas amigos dizem que não está descartada a possibilidade de que Lula faça uma greve de fome em sua cela para pressionar a Justiça a liberá-lo da prisão. Ele também já chegou a confessar no círculo íntimo que não quer passar pela humilhação de usar uma tornozeleira eletrônica.

— Ele diz que não vai aceitar a tornozeleira eletrônica. O presidente já está se encaminhando para a última fase da vida dele, não quer morrer como um idiota — conta um amigo.

Aliados relatam que ele está muito abalado com a situação que vive. Dizem que nem ele nem o partido estavam preparados para enfrentar essa batalha da prisão do principal líder da legenda. Alas mais radicais defendem que, no caso da decretação da prisão de Lula, seja feita uma mobilização de militantes para formar um grande cordão humano em volta da casa do ex-presidente ou do Instituto Lula, com o objetivo de criar comoção e dar trabalho à polícia.

— O Lula está muito derrubado, nunca vi ele desse jeito. Todo mundo duvidava que chegaria a esse ponto. Mas chegou — observa outro interlocutor do petista.

Mesmo abatido, o ex-presidente tem dado sequência a viagens pelo país. Ele inicia hoje uma caravana pela região Sul. Chega ao Rio Grande do Sul e percorrerá Santa Catarina e Paraná. No dia 26 de março, quando a 8ª Turma do TRF-4 pode analisar o caso, Lula deve estar em Foz do Iguaçu (PR). A previsão é que depois dessa data ele siga para atos em Curitiba (PR), ironicamente onde pode ficar preso após a condenação.

Nesses atos como pré-candidato, além de sua defesa pessoal, Lula pretende priorizar discursos sobre Educação. Ele programa visitar universidades criadas no seu governo, lembrando ações promovidas nessa área durante sua gestão.

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Divisão de dinheiro para eleição racha PT

Sérgio Roxo

19/03/2018

 

 

Resolução prioriza recursos para as campanhas de Lula e de deputados federais

-SÃO PAULO- Na primeira eleição presidencial a ser disputada sem doações de empresas, a disputa por dinheiro provoca uma crise no PT. Numa resolução aprovada na semana passada, o partido decidiu que a prioridade na distribuição dos recursos do fundo eleitoral, estimados em R$ 210 milhões, será das campanhas presidencial e a deputado federal. Candidatos a governador e a deputado estadual ficam no fim da lista.

“Os recursos do fundo eleitoral não serão suficientes para financiar todas as candidaturas no nível que o partido gostaria”, afirma o texto, que provocou mal-estar no partido. Criado no ano passado, o fundo eleitoral destina cerca de R$ 1,7 bilhão de recursos públicos para os partidos financiarem seus candidatos. Doações de pessoas físicas são permitidas, assim como o autofinanciamento.

Diante da realidade, o PT prioriza, em primeiro lugar, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Em segundo, vêm as campanhas a deputado federal, “priorizando os candidatos à reeleição e aqueles com viabilidade eleitoral, conforme avaliação dos diretórios estaduais, referendados pelo diretório nacional”. Os candidatos ao Senado vêm em terceiro.

O foco na Câmara é estratégico. Manter a quantidade de parlamentares é fundamental para o futuro: menos deputados federais significa menos tempo de televisão nas próximas disputas e menos recursos dos fundos partidário e eleitoral.

O teto de gastos da campanha presidencial, se houver segundo turno, é de R$ 105 milhões. Como o PT tem 57 deputados federais e deve dar R$ 1 milhão a cada um, os postos prioritários podem ficar com mais de R$ 160 milhões, o que deixaria apenas R$ 50 milhões para as campanhas de candidatos a senador, governador e deputado estadual. Os valores exatos serão definidos em abril.

— A prioridade para a campanha do presidente Lula ninguém contesta. O problema é deixar os governadores e deputados estaduais de lado. Temos 150 deputados estaduais, que são fundamentais para levar o partido aos pequenos municípios. O PT pode perder penetração nesses locais — diz o secretário-geral, Romênio Pereira, um dos que votou contra a resolução, aprovada na Executiva por 17 votos a 2.

NEM SÃO PAULO É PRIORIDADE

Em São Paulo, a situação é difícil para o pré-candidato do PT ao governo, Luiz Marinho. Além de a campanha a governador estar em quarto na lista de prioridades financeiras do partido, ele vai enfrentar o prefeito da capital, João Doria (PSDB), que colocou R$ 4,6 milhões do próprio bolso na campanha de 2016. E nem mesmo entre os candidatos a governador do PT Marinho terá preferência. Pela resolução, a prioridade será dos cinco estados que a legenda já governa — Minas, Bahia, Ceará, Piauí e Acre.

O tesoureiro do PT, Emídio de Souza, minimiza a divergência:

— Todos os cargos em disputa receberão algum tipo de ajuda, mas é evidente que temos prioridades. É natural que alguém se insurja contra ela (resolução).