O globo, n.30912 , 26/03/2018. PAÍS, p.4

THIAGO PRADO

Duas vagas e uma tendência

 

 

 

Na disputa pelo Senado, Flávio Bolsonaro é impulsionado pelo pai; adversários buscam discurso

Enquanto a disputa para o governo do Rio de Janeiro permanece indefinida, a corrida para o Senado no estado aponta uma tendência. Pesquisas internas nas mãos de partidos mostram que o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidenciável Jair Bolsonaro, pode ser impulsionado pelo pai.

Há sondagens não divulgadas em que o parlamentar chega a alcançar quase um terço dos eleitores. Para o Palácio Guanabara, por exemplo, os levantamentos indicam que, até agora, políticos cotados ao cargo sequer ultrapassam a marca dos 20%.

Os números são muito positivos para Bolsonaro por vários aspectos. Serão duas vagas para o Senado na disputa de outubro. Nas últimas eleições fluminenses com esse cenário, bater 30% foi mais do que suficiente para ser o número um em votos. Em 2002, Sérgio Cabral e Marcelo Crivella se elegeram com, respectivamente, 27,8% e 21,5%. Oito anos depois, venceram Lindbergh Farias (28,6%) e, novamente, Crivella (22,6%).

As baixas performances alcançadas neste momento por possíveis adversários animam a família Bolsonaro. Flávio, por enquanto, aparece com o triplo das intenções de votos dos demais nomes testados por partidos em pesquisas. Hoje, todos os cotados para enfrentar o filho de Jair têm menos de dois dígitos nos percentuais de votos. São eles, na ordem de desempenho: deputado federal Chico Alencar (PSOL); delegada e deputada estadual Martha Rocha (PDT); vereador Cesar Maia (DEM); senador Lindbergh Farias (PT) e Eduardo Lopes (PRB), senador, ex-suplente de Crivella e ligado à Igreja Universal.

O mundo político do Rio avalia que, diante da força dos Bolsonaro, apenas a segunda vaga estará em disputa. Haveria, no entanto, dois tipos de estratégias completamente opostas para obtê-la: uma seria polarizar com Flávio. Os discursos de esquerda de Chico Alencar e Lindbergh Farias são os que melhor se posicionariam para atrair esse tipo de voto. Especialistas acreditam que a capacidade de mobilização demonstrada pelo PSOL fluminense nos últimos anos e, recentemente, o caso Marielle Franco podem alavancar a candidatura de Chico. Já Lindbergh teria mais dificuldades devido ao desgaste do PT e de seu próprio nome no estado — o petista foi citado diversas vezes por delatores na Lava-Jato. Amigos sugerem que Lindbergh tente uma vaga de deputado federal, mas ele insiste em buscar a reeleição.

A segunda estratégia para subir nas pesquisas, apontam lideranças partidárias, é tentar garantir o segundo voto do eleitor de Flávio Bolsonaro. Aparecem neste rol o evangélico Eduardo Lopes e o ex-prefeito Cesar Maia. Um, com entrada no meio religioso; o outro, de fala conservadora. Nesse xadrez de uma disputa com duas vagas para o Senado, também é possível abocanhar votos dos dois lados do espectro político. É o caso da delegada Martha Rocha. De perfil híbrido, ela tem a Segurança Pública como mote, mas está no PDT, que promete forte discurso de esquerda na campanha do presidenciável Ciro Gomes. Se sair mesmo candidata, Martha pode receber tanto o segundo voto de um eleitor de Bolsonaro como o de um simpatizante de Chico Alencar. Resta saber se arriscará uma reeleição garantida à Assembleia (há ainda quem a cogite para o governo, mas ela não quer).

Um alento para quem deseja concorrer: disputas ao Senado demoram a chamar a atenção por serem em anos em que o eleitor escolhe presidente, governador e deputados federal e estadual. No momento, cerca de 40% dos eleitores consultados em pesquisas dizem não saber em quem votar para senador no Rio.