O globo, n. 30902, 16/03/2018. Economia, p. 20

 

Petrobras estuda pagamento de dividendos a cada trimestre

Bruno Rosa, Ramona Ordoñez e Ana Paula

16/03/2018

 

 

Medida, que divide analistas, ainda precisa de aprovação do Conselho

-RIO E SÃO PAULO- A Petrobras anunciou ontem que estuda pagar dividendos a seus acionistas de forma trimestral e não mais anualmente, como faz hoje. O presidente da companhia, Pedro Parente, disse ontem que a mudança, se aprovada pelo Conselho de Administração, pode resultar em pagamentos referentes a resultados já no primeiro trimestre deste ano. Para analistas de mercado, a nova prática favoreceria as ações da estatal na Bolsa.

— A maior previsibilidade nos resultados da empresa é que vai permitir uma visão mais concreta sobre a possibilidade do pagamento de dividendos trimestrais. Temos uma altíssima probabilidade de pagar dividendos já nos resultados do primeiro trimestre, caso a política seja aprovada pelo Conselho e pela assembleia de acionistas. O pagamento trimestral é uma prática adotada por várias empresas globais. Achamos que será positivo — disse Parente.

A estatal está há quatro anos sem pagar dividendos devido aos prejuízos registrados pela companhia no período. Para Pedro Galdi, analista de investimento da Mirae Corretora,a distribuição dos lucros ao longo do ano é uma boa ideia:

— Sem dúvida, a ação ganha mais fôlego ao ter esse pagamento a cada trimestre. E passa a ser atraente para as carteiras dos fundos de investimentos com foco na distribuição de dividendos. Além disso, há uma expectativa de que a Vale faça o mesmo no fim deste mês.

Carlos Soares, analista da Magliano Corretora, lembrou que o mercado já esperava alguma mudança nos dividendos:

— Era um ponto que deixava o mercado ansioso. Será bom para a companhia e os investidores. Mas a estatal ainda precisa explicar como será feito isso.

Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos, não é tão otimista sobre o efeito de uma nova política de dividendos. Ela avalia que, se aprovada, a ideia pode pressionar o caixa da Petrobras no curto prazo, impedindo uma redução mais rápida da relação entre o endividamento e a geração de caixa da empresa:

— A alavancagem ainda não está em um nível confortável. Uma retenção de caixa nesse primeiro momento contribuiria para a redução. Por isso, a nova política de dividendos traz alguma preocupação.

Segundo advogados ouvidos pelo GLOBO, a mudança pode ter como objetivo impedir que acionistas donos de ações preferenciais (PNs) passem a ter direito a voto após três exercícios sem distribuição de dividendos. A mudança está prevista na Lei das S.A. Porém, o tema é controverso. Especialistas lembram que a companhia pode usar o artigo 62 da Lei do Petróleo, de 1997, para evitar que as ações PNs tenham direito a voto.

Quem investiu em ações da Petrobras com recursos do Fundo de Garantia (FGTS) recebe dividendos de forma indireta. O dinheiro é reinvestido pelo fundo de investimentos ao qual esses investidores aderiram, aumentando o seu patrimônio e, logo, valorizando a cota de cada um. O mesmo acontece com os cotistas de outros fundos de recursos próprios que têm ações da Petrobras no seu portfólio.

AÇÕES EM QUEDA ONTEM

Mesmo com o aceno de dividendos mais cedo, os investidores reagiram negativamente ao balanço da estatal ontem. As ações preferenciais (PNs) recuaram 4,78%, cotadas a R$ 21,31. As ordinárias caíram 2,07%, a R$ 23,02. A estatal perdeu R$ 9,6 bilhões em valor de mercado, que agora é de R$ 291,4 bilhões.

Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora, estima que, por conta do peso das ações da Petrobras no Ibovespa, a queda dos papéis da estatal respondeu por cerca de um quarto do desempenho negativo (-1,3%) ontem do principal índice da Bolsa de São Paulo, a B3:

— A Petrobras tem um peso importante na carteira teórica do Ibovespa, e, por isso, a reação ao balanço da empresa contribuiu fortemente para o índice ficar no negativo o dia todo.