Valor econômico, v. 17, n. 4424, 18/01/2017. Brasil, p. A2.​

 

 

Temer privilegia agenda com CEOs e vende 'novo momento' da economia

Daniel Rittner

18/01/2018

 

 

Em sua primeira ida ao Fórum Econômico Mundial, o presidente Michel Temer levará duas mensagens importantes à elite financeira e empresarial que se reúne na estância alpina de Davos: a retomada do crescimento brasileiro é "para valer" e as reformas econômicas patrocinadas em sua gestão não são facilmente reversíveis por quem ocupar o Palácio do Planalto em janeiro de 2019.

O discurso de Temer no Congress Hall, ponto mais nobre do fórum, deve girar em torno de três princípios: abertura econômica, liberdade de expressão e responsabilidade fiscal. Diante de empresários e megainvestidores, ele pretende enfatizar que houve melhoria do ambiente de negócios e apontar a força das instituições como um dos maiores ativos brasileiros. Usará esse palco para defender novamente a reforma da Previdência e a simplificação tributária. Pretende ainda rechear o texto com números que serão apresentados como avanços: a última safra de grãos, o superávit recorde da balança comercial, a quebra da barreira de 80 mil pontos no Ibovespa.

Mas há preocupação com exageros: não se quer repetir a ex-presidente Dilma Rousseff, que foi à mesma tribuna em 2014 e cansou a plateia com uma avalanche inesgotável de estatísticas. Foram tantos números que o fundador e presidente do fórum, Klaus Schwab, precisou cobrar o fim da apresentação de meia hora - em contagem literalmente suíça - e não teve tempo de fazer suas tradicionais perguntas ao orador.

A preparação do discurso já mobiliza diferentes áreas do governo. Um rascunho tem recebido contribuições pontuais da equipe econômica e do ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco, responsável pelo programa de privatizações. Mas o verdadeiro "ghost writer", que juntará as peças do quebra-cabeças, é o embaixador Fred Arruda. Chefe da assessoria especial, diplomata muito admirado pelos colegas e discreto mesmo para os padrões do Itamaraty, ele acompanha Temer desde os tempos de presidente da Câmara dos Deputados.

O calendário pregou uma peça no governo. No mesmo dia do discurso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará sendo julgado em Porto Alegre e poderá ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Em meio à incerteza eleitoral, o recado será claro: a continuidade das reformas é inevitável e as mudanças já realizadas - nova legislação trabalhista, privatizações, marcos regulatórios - não correm risco porque o custo de um recuo seria alto demais para quem quer que seja o eleito.

Temer deve abrir sua agenda para seis reuniões individuais em um espaço de aproximadamente duas horas em Davos. O Planalto recebeu mais de duas dezenas de pedidos do setor privado e de autoridades estrangeiras. A intenção é privilegiar o contato direto com grandes empresários. Os assessores presidenciais ainda evitam divulgar nomes para não melindrar os autores de solicitações negadas, mas o Valor apurou que os CEOs da anglo-holandesa Shell e da americana Cargill devem ser incluídos na agenda. A Boeing, que busca uma parceria com a Embraer, não pediu audiência.

Temer chegará a Davos, na quarta-feira de manhã, acompanhado por quatro ministros: Henrique Meirelles (Fazenda), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), Blairo Maggi (Agricultura) e Moreira Franco. O presidente do Banco Central e frequentador do fórum, Ilan Goldfajn, não irá desta vez. Temer chega na terça-feira à tarde em Zurique, mas não terá compromissos oficiais. Ele pretende dar duas entrevistas - uma à revista britânica "The Economist" e outra ao "Wall Street Journal".