Título: Irregularidades só aumentam
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Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2012, Economia, p. 12
A cada dia, surgem novas denúncias de clonagem de provas na seleção para o Senado. PF apressa investigação
O polêmico concurso do Senado parece afundar mais e mais no descrédito. Novas denúncias encaminhadas ao Correio mostram que a clonagem de questões pela Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pela elaboração e aplicação das provas, foi disseminada. Nos testes de conhecimentos específicos para o cargo de eletrônica e comunicações, os itens 44 e 49 são praticamente iguais a duas questões de um processo seletivo realizado em 2006 para a Câmara Municipal de Resende, no estado do Rio de Janeiro.
As coincidências são impressionantes, sobretudo nos enunciados, como se pode ver na questão 44 da prova do Senado e da 34 do certame fluminense. Na pergunta 49 da prova para a casa legislativa, as únicas modificações foram as letras que dão nome aos pontos de um circuito na seleção para a câmara municipal (veja reproduções ao lado). Apesar do festival de denúncias, a Fundação Getulio Vargas assegurou que "a hipótese de anulação do concurso é inexistente". Mas, segundo os especialistas, o Ministério Público, que analisa 11 denúncias, pode pedir a suspensão do processo seletivo.
Venda de gabaritos Na edição da última sexta-feira, o Correio revelou o festival de cópias de questões pela FGV. Para os especialistas, é inadmissível que, somente nas provas para consultor legislativo, 50 das 80 questões tenham sido idênticas e enumeradas na mesma ordem, apesar das diferentes cores dos testes. Isso, no entender de quem acompanha o processo de perto, facilita a venda de gabaritos, possibilidade que a FGV descarta, "devido à total segurança do concurso".
Pelas provas aplicadas há pouco mais de uma semana, a ordem das questões destinadas aos candidatos ao posto de consultor só mudava a partir da pergunta 51, quando começavam os quesitos específicos de cada especialidade. "Estamos conferindo prova por prova e checando todas as denúncias de clonagem. É inacreditável que um concurso tão esperado, tão concorrido, esteja tão envolvido em tantas irregularidades", disse um integrante da Polícia Federal que acompanha o caso. Ele afirmou que a PF está apressando as investigações.
O cargo de consultor legislativo envolve 23 funções de assessoramento. E muitas pessoas, independentemente das especificidades, responderam as mesmas 50 questões, em ordem idêntica. A FGV assinalou que as provas eram quase iguais nos casos em que a disputa pelos postos recebeu menos de 5 mil inscrições. Nesses casos, no entender da Fundação, "não havia necessidade de mesclar os testes porque era muito baixa a chance de ter alguém fazendo a mesma prova na mesma sala".
A FGV passa por maus momentos. E a clonagem de questões de provas realizadas por bancas concorrentes é apenas uma etapa a mais de um histórico de descaso da seleção para o Senado. O que mais assusta os especialistas é que a farra de irregularidades foi contemplada por um elevado faturamento de R$ 29 milhões. Esse valor equivale às taxas de inscrição pagas pelos mais de 157 mil candidatos. Cada um deles teve que desembolsar entre R$ 180 e R$ 200, dependendo da carreira escolhida.