Correio braziliense, n. 20041, 04/04/2018. Brasil, p. 6

 

Uma nova base para o ensino médio

Anna Russi

04/04/2018

 

 

ENSINO » Governo divulga a BNCC para os três anos: a ideia é que apenas língua portuguesa e matemática sejam as disciplinas obrigatórias. Mudanças terão que ser aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação, antes de começarem a valer
 

ANNA RUSSI*

 

A nova versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio foi entregue pelo Ministério da Educação (MEC), na tarde de ontem, ao Conselho Nacional de Educação (CNE). O documento orientará a parte obrigatória do curso, equivalente a 60% da carga horária, e deverá ser analisado e aprovado pelo colegiado antes de começar a valer. As mudanças na versão das etapas de educação infantil e fundamental ocorreram em 2016.

O texto determina que a BNCC do ensino médio seja organizada por áreas do conhecimento separadas em linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. A previsão é de que apenas as disciplinas de língua portuguesa e matemática sejam obrigatórias para o ensino médio. O currículo determina que as disciplinas obrigatórias corresponderão a 1,8 mil horas-aulas.

A orientação dos itinerários formativos, equivalente a 40% da carga horária, deverá somar 1,2 mil horas-aulas e será desenvolvida pelos estados ou pelas escolas. As áreas de aprofundamento poderão ser ofertadas em cada uma delas ou combinando diferentes. Outra opção é focar em algum aspecto específico de uma área. O MEC disponibilizará um guia de orientação para a elaboração desses itinerários.

O ministro da Educação, Mendonça Filho, definiu o momento como um marco histórico e como um assunto de Estado, que não se restringe ao governo de Michel Temer. “Um ponto de mudanças significativas para os parâmetros da educação do país”, afirmou. Ele também destacou o esforço pela busca de uma educação em tempo integral.

O ministro lembrou que a reforma do ensino médio está em debate há algum tempo e assegura aos jovens um formato próximo ao que ocorre nos países de melhor desempenho educacional. “O Brasil não poderia evoluir, do ponto de vista educacional, no que diz respeito ao ensino médio, se mantivéssemos um padrão único para todos e não considerássemos os projetos de vida, as vocações individuais, aquilo quem está mais próximo de suas habilidades pessoais e cada jovem do nosso querido Brasil”, argumentou.

Para ele, a BNCC é a etapa que complementa a reforma no ensino médio, mas destacou que o país ainda tem um desafio “gigante” pela frente na execução dessas mudanças. “A agenda é ampla e tem que envolver a sociedade como um todo. Não dá para termos uma substancial mudança na educação se, por ventura, não houver um envolvimento da sociedade brasileira”, completou.

Valores

A secretária executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro, disse que o que muda são as competências específicas, mas as gerais são as mesmas que regem o ensino fundamental. “A base procura aprofundar teoria e prática em todas as áreas, com ênfase nas atitudes e valores que os alunos devem resolver, como adaptabilidade, trabalho em equipe e valores éticos”, explicou

Para a secretária executiva, a BNCC tem como um dos objetivos preparar os alunos para o mundo do trabalho e para a sociedade do século 21, de acordo com as profissões do futuro. O outro objetivo seria “desengessar” o ensino médio. “Esse modelo que temos hoje está em funcionamento há muito tempo e os resultados são tristes”, afirmou.  De acordo com ela, cerca de 20% dos alunos que terminam o fundamental não se matriculam no ensino médio. Apenas 50% dos estudantes concluem o ensino médio e, dos que terminam, apenas 20% alcançam conhecimento básicos em matemática, e 27%, em português.

Na opinião de David Boyd, coordenador de projetos da fundação Lemann, a BNCC tem grande potencial de ser ferramenta para melhorar a equidade da educação pública e também para garantir um piso de qualidade em todas as escolas. Entre as qualidades positivas destacadas por ele está o foco no desenvolvimento integral do aluno, a interdisciplinaridade e a flexibilidade de escolha da área de aprofundamento. “Na educação costumamos separar os conhecimentos em disciplinas, mas eu acho que o mundo não é assim”, ressaltou. Segundo ele,  um jovem de 15 anos já tem interesses próprios, plano de vida e com essa base ele poderá escolher seu aprofundamento sem deixar de ter o básico.

* Estagiária sob a supervisão de Leonardo Cavalcanti

A insatisfação dos brasileiros

A pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira — Educação Básica, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que a insatisfação com o ensino no país cresceu nos últimos quatro anos. Os dados do ano passado revelam que 26% dos 2 mil entrevistados consideram o ensino médio como ruim ou péssimo e que a reprovação é mais pronunciada em relação às escolas públicas. Para a maioria dos entrevistados, os estudantes não estão preparados para a etapa escolar seguinte ou para o mundo de trabalho. Apenas 12% dos brasileiros acreditam que o aluno do ensino médio das escolas públicas está bem preparado para se inserir no mercado profissional e quase um quarto da população, 23%, diz que está despreparado.

Como será

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) passa a ser estruturada por áreas do conhecimento:
» Linguagens e suas tecnologias
» Matemática e suas tecnologias
» Ciências da natureza
» Ciências humanas e sociais aplicadas
» Apenas as disciplinas de língua portuguesa e matemática aparecem como obrigatórias.
» As outras matérias serão abordadas de maneira interdisciplinar nas áreas do conhecimento.
» Toda a BNCC deverá ser cumprida em, no máximo, 1,8 mil horas-aula.
» Os 40% restantes da carga horária, equivalentes a 1,2 mil horas, devem ser dedicados à parte flexível, itinerário formativo, de escolha do estudante.
» Os itinerários formativos poderão ser ofertados em cada uma das áreas do conhecimento ou combinando diferentes áreas. Outra opção é focar em algum aspecto específico de uma área.
» Os alunos poderão optar por uma formação técnico-profissionalizante, cursada dentro da carga horária regular do ensino médio.

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Jornalista selecionada

04/04/2018

 

 

A jornalista Ana Paula Lisboa foi selecionada para a terceira edição do programa Early Childhood Development Reporting Fellows, iniciativa do International Center for Journalists (ICFJ), organização com sede nos Estados Unidos que capacita profissionais de comunicação mundo afora, com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), instituição voltada ao desenvolvimento infantil. Apenas duas vagas foram oferecidas para jornalistas do Brasil; as outras oportunidades foram ocupadas por profissionais de Índia, Quênia, Nigéria e Tanzânia.

Durante 12 meses, os bolsistas receberão mentoria e suporte material, participarão de webinários e duas viagens de estudo internacionais para países que implementaram com sucesso programas de apoio ao desenvolvimento infantil (o primeiro deles será a Suíça). O objetivo é que os participantes se aprofundem e se especializem em cobertura jornalística da primeira infância (período que vai até os 6 anos) enquanto produzem matérias sobre esse tema tão importante.

Subeditora do caderno Trabalho & Formação Profissional e do site Eu, Estudante, Ana Paula foi diplomada “Jornalista Amiga da Criança” pela Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância), participou de oficina para jornalistas sobre primeira infância oferecida em parceria entre a Andi, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social) e de curso de liderança executiva em desenvolvimento da primeira infância em parceria entre a FMCSV e a Universidade Harvard.

Com matérias e séries publicadas no Correio Braziliense, ganhou os prêmios de jornalismo Inep (2017), MPT (2016 e 2017) e Esso / ExxonMobil (2015), além de ter sido finalista dos prêmios Estácio (2017), Abmes (2017) e CNH Industrial (2016).