O globo, n. 30916, 30/03/2018. País, p. 7
Operação pode esclarecer o que interessava a Temer em Santos
Paulo Celso Pereira
30/03/2018
Prisão de amigos próximos pode alterar prioridades do presidente, que vinha animado com pré-candidatura à reeleição
O Michel Temer demorou dez meses para se recuperar do impacto da delação da JBS. Nas últimas semanas, apesar dos ínfimos percentuais de popularidade, flanava por Brasília animado com hipótese de ser candidato à reeleição para defender seu legado.
A prisão de três de seus amigos mais íntimos e de dois empresários que atuam no Porto de Santos, no entanto, deve alterar suas prioridades.
Michel Temer presidiu o PMDB por uma década e meia atuando publicamente como emissário dos desejos de correligionários por espaços no governo. A reserva sobre os cargos que lhe interessavam pessoalmente, no entanto, era integral. Ainda assim, sua influência no Porto de Santos tornou-se notória muito antes de sua chegada ao Palácio do Jaburu.
Nos últimos anos, as operações da Polícia Federal mostraram a relação tóxica desenvolvida entre empresários e políticos que indicam aliados para áreas sensíveis do governo. Agora, a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o ministro do STF Luís Roberto Barroso deu um passo decisivo para jogar luz sobre o que havia de tão interessante em Santos.
A ação é também o cartão de visitas de Raquel Dodge, seis meses após sua posse na PGR. Escolhida para o cargo por Temer para simbolizar o fim da “era Janot”, Dodge foi alvo de muita desconfiança entre quem acompanhava de perto a Operação Lava-Jato. Seu estilo reservado e metódico marcou uma ruptura em relação à gestão midiática de Rodrigo Janot, mas a Operação Skala deflagrada ontem, que levou para a cadeia três dos melhores amigos do presidente Temer, tende a sepultar definitivamente qualquer desconfiança sobre sua disposição de dar seguimento às investigações.