Título: Ofensiva contra Demóstenes
Autor: Decat, Erich
Fonte: Correio Braziliense, 29/03/2012, Política, p. 8

PSol protocola requerimento no Conselho de Ética para apurar se o senador quebrou decoro devido a envolvimento com bicheiro

Integrantes do PSol no Congresso protocolaram, no início da tarde de ontem, requerimento no Conselho de Ética do Senado para analisar possível quebra de decoro parlamentar por parte do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), devido à proximidade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. Parte do documento tem como base a matéria do Correio que revelou o valor de uma geladeira e um fogão dados pelo contraventor a Demóstenes: US$ 27 mil.

A medida ocorre um dia após o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido de abertura de inquérito contra o senador e os deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO), todos citados na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, deflagrada no fim de fevereiro.

Para que sejam iniciadas as investigações no Conselho de Ética, ainda é preciso que o requerimento passe pela avaliação de uma consultoria jurídica do Senado que verificará a admissibilidade do pedido. Outro entrave é o fato de o colegiado não ter um presidente desde setembro do ano passado, quando o senador João Alberto (PMDB-MA) deixou o posto para assumir a Secretaria de Programas Especiais da Casa Civil do governo do Maranhão. Atualmente, o senador Jayme Campos (DEM-MT), do mesmo partido de Demóstenes, está no posto interinamente. Segundo Campos, até sexta-feira serão convocadas novas eleições para a presidência da comissão.

Apesar de dizer que não ficará constrangido em presidir o colegiado caso seja escolhido para o cargo pelos demais colegas, Campos não esconde que prefere que Demóstenes seja julgado apenas pelo Supremo. "Particularmente, acredito que seria correto as investigações serem feitas pela PGR e pelo Supremo Tribunal Federal", ressaltou. Essa posição também é dividida pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e de forma velada por outros integrantes da base aliada ouvidos pelo Correio.

Apesar do posicionamento de alguns líderes do governo, aliados do DEM avaliam como "extremamente preocupantes" as denúncias contra Demóstenes. "Não podemos ter dois pesos e duas medidas. Temos que buscar averiguação em relação a qualquer denúncia consistente, seja ela envolvendo um parceiro, um aliado, um membro do nosso grupo político, seja da oposição", ressaltou o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Procurado pelo Correio, o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), diz que vai aguardar um posicionamento de Demóstenes. "Para mim, o que interessa é ele ter o acesso aos documentos e se defender no plenário como ele disse que faria na carta de ontem", ressaltou Maia.