O globo, n. 30916, 30/03/2018. Economia, p. 25
Emprego com carteira é o menor desde 2012
MArcelo Corrêa
30/03/2018
Trabalhadores com registro caem para 33,1 milhões. Desemprego sobe para 12,6% com demissão de temporários
O Brasil fechou fevereiro com o menor número de trabalhadores com carteira assinada em seis anos. Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, o contingente de empregados formais caiu 1,8% em relação ao mesmo mês do ano passado, para 33,1 milhões de pessoas — menor nível desde 2012, quando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua começou a ser produzida. O número está relacionado à dinâmica esperada para o mercado de trabalho neste ano. Embora a taxa de desemprego tenha subido no mês passado para 12,6% por causa das demissões de temporários, a expectativa é de mais geração de vagas. A informalidade, contudo, deve continuar alta, sintoma da recuperação ainda gradual da economia.
Para se ter uma ideia, o número de empregados com carteira chegou a passar dos 36 milhões em junho de 2014. O emprego formal, no entanto, sofreu durante os anos de recessão e vem caindo. O resultado é que, segundo o IBGE, aproximadamente 40% dos 91 milhões de trabalhadores estão em alguma atividade ligada à informalidade. O número de empregados sem carteira, por exemplo, saltou 5% em um ano, o equivalente a um acréscimo de 511 mil pessoas ao contingente dos sem registro, que chegou a 10,7 milhões. Esse grupo se soma ainda a 23,1 milhões de trabalhadores por conta própria, 4,3 milhões de empregadores (parte costuma ser informal) e 2,2 milhões de trabalhadores familiares, que muitas vezes sequer recebem salário.
Na avaliação do economista Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre/FGV, esse movimento deve continuar, ainda que em menor intensidade do que no ano passado. Se, em 2017, praticamente todas as vagas criadas foram informais, neste ano cerca de 30% devem ser com registro, projeta o especialista. Ele espera que o número de empregados com carteira ainda caia em março, mas comece a se recuperar a partir de abril.
— A geração de vagas deve continuar, na maioria, na informalidade, por um mix de fatores. Um é que, depois que a pessoa fica um pouco fora do mercado formal, é difícil voltar. Além disso, estamos com um salário mínimo muito alto (em relação ao salário médio). Isso acaba aumentando o custo de contratar formalmente e pressiona o empregador a, quando possível, contratar na informalidade. E tem ainda a questão de que esse ano vamos ter um crescimento não tão pujante. Em geral, vagas formais estão relacionadas ao nível de atividade econômica — analisa Ottoni.
O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, também aponta para o grau de informalidade na retomada de empregos:
— O que se tem é um aumento de ocupação, muito voltada para a informalidade. É um processo de recuperação gradativo? É cedo para falar isso? São conclusões muito ligadas ao juízo de valor de cada um.
QUEDA DE JUROS PODE TURBINAR EMPREGO
Seja com ou sem carteira, o mercado de trabalho ainda está longe de se recuperar completamente da crise. Em fevereiro, o país ainda tinha 13 milhões em busca de vaga. Para além do efeito sazonal da dispensa de temporários, ainda há setores que preocupam. A construção civil perdeu 280 mil vagas em relação ao ano passado. Segundo o economista José Márcio Camargo, havia a expectativa de que os dados reagissem mais rapidamente, mas parte das projeções foi frustrada por uma retomada mais lenta da economia.
— Minha expectativa era que o mercado de trabalho se comportaria mais positivamente do que está ocorrendo. Acho que isso tem a ver com o fato de as taxas de juros ainda estarem altas. Se a liberação de compulsórios do BC afetar a taxa de juros, acho que pode ter uma acelerada no crescimento no segundo semestre e uma queda no desemprego já no segundo trimestre — afirma o analista, em referência à decisão do Banco Central, que tem potencial de injetar R$ 25,7 bilhões na economia e de reduzir os juros para consumo e investimentos.
A taxa de desemprego poderia ser maior não fosse um fenômeno que ainda está sendo analisado por economistas: o aumento do número de pessoas que não está trabalhando nem sai em busca de emprego. A chamada população fora da força registrou a maior alta trimestral desde 2014, alcançando o recorde de 64,9 milhões de pessoas. Quando esse grupo de trabalhadores cresce, ajuda a pressionar menos a taxa de desemprego, que só considera quem está, de fato, procurando uma oportunidade.
Uma das hipóteses é que esse aumento esteja relacionado a uma piora no desalento. O IBGE começou a divulgar esse indicador no início do ano, quando mostrou que, no fim de 2017, 4,3 milhões de brasileiros não trabalhavam nem procuravam, mas gostariam de ter um emprego. Nem todas as pessoas fora da força de trabalho estão desalentadas: aposentados e estudantes também fazem parte desse contingente, por isso o diagnóstico é difícil. Uma nova pesquisa sobre desalento será divulgada pelo IBGE em maio.
— Ainda vejo (o aumento da população fora da força) com uma oscilação. Tem um potencial grande de que, à medida que a atividade econômica dê mais sinais de melhora, ocorra um estímulo forte para que pessoas hoje inativas passem a procurar trabalho — afirma Thiago Xavier, economista da Tendências.