Correio braziliense, n. 20054, 17/04/2018. Política, p. 3

"Estou tranquilo, mas indignado"

Renato Souza

17/04/2018

UM PAÍS SOB TENSÃO » Em carta, ex-presidente diz que a Polícia Federal e o Ministério Público precisam provar os crimes pelos quais Moro e o TRF-4 o condenaram

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se pronunciou pela primeira vez desde que foi preso. Por meio de uma carta, escrita de dentro da sala onde ele está encarcerado, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, o petista afirmou que continua desafiando o grupo da Polícia Federal e do Ministério Público, responsáveis pela Lava-Jato, a provarem os crimes que ele teria cometido. Ele também disse que “está tranquilo, mas indignado”.

A mensagem foi lida pela presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, no começo da noite de ontem, no acampamento que foi montado em frente à sede da PF. “Continuo desafiando a Polícia Federal da Lava-Jato, o Ministério Público da Lava Jato, o Moro e a segunda instância a provarem o crime que alegam que eu cometi. Continuo acreditando na Justiça e por isso estou tranquilo, mas indignado como todo inocente fica indignado quando é injustiçado”, afirmou o petista na carta.

Ao falar com os apoiadores, Gleisi disse que tem se comunicado com o ex-presidente por meio dos advogados, já que não obteve autorização para realizar uma visita. “Fiz questão de vir aqui, pois eu queria trazer um recado. Tenho me comunicado com o presidente de forma escrita, por meio dos advogados. Ainda não consegui visitá-lo. Tem um pedido dele para falar comigo. Mas ainda não obtive autorização da Justiça”, afirmou Gleisi.

A juíza Carolina Moura Lebbos, da 12ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, autorizou a realização de uma inspeção dos senadores da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado no local onde estão Lula e outros detentos. A intenção da comitiva, de acordo com os envolvidos, é avaliar as condições do local. Gleisi Hoffmann está entre os nomes que poderão ingressar na cela. Além dela, integram a comitiva parlamentares como o senador Humberto Costa (PT-PE), Paulo Paim (PT-RS), João Capiberibe (PSB-AP), Paulo Rocha (PT-AM) e Lindbergh Farias (PT-RJ).

Lula está preso desde 7 de abril em decorrência de uma condenação a 12 anos e um mês de prisão que sofreu no Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4). O Ministério Público afirma que ele liderou um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. A condenação é referente ao recebimento de um apartamento, em forma de propina, que foi repassado pela construtora OAS. O imóvel, do tipo tríplex, está localizado no Guarujá, em São Paulo. A prefeitura de Curitiba pediu que o petista seja transferido para outra unidade, A solicitação foi enviada ao Ministério Público, que ainda não se pronunciou sobre o caso.