Correio braziliense, n. 20054, 17/04/2018. Política, p. 4
Renato Souza
17/04/2018
UM PAÍS SOB TENSÃO » Juiz autoriza depoimentos - mesmo que sejam por videoconferência - no processo que investiga o pagamento de propina para o partido e para o presidente Michel Teme
Atendendo a um pedido do Ministério Público, o juiz Marcus Vinícius Reis, da 12ª Vara Federal de Brasília, autorizou o depoimento de 42 testemunhas do processo conhecido como o Quadrilhão do MDB. Dos envolvidos no caso, pelo menos 36 são delatores da Operação Lava-Jato. Entre os réus da ação penal estão o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures e o advogado José Yunes, que é ligado ao presidente Michel Temer.
Outro investigado no processo é o coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo João Batista de Lima Filho, também amigo do chefe do Executivo. No lado das testemunhas estão figuras conhecidas pela constante presença no noticiário nacional, como o ex-ministro petista Antonio Palocci, o empresário Marcelo Odebrecht, Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC, o operador Fernando Baiano, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e o ex-senador do PT Delcídio do Amaral.
As testemunhas que não puderem comparecer a Brasília, por algum empecilho, como o empresário Marcelo Odebrecht — em prisão domiciliar —, poderão ser ouvidos por videoconferência. A 12ª Vara foi adaptada para atender processos que tratam de lavagem de dinheiro e corrupção. Ao lado do Rio de Janeiro, Brasília é uma região na qual as investigações da Lava-Jato têm ganhado amplitude e adquirido maior atenção do poder Judiciário.
O Ministério Público afirma que José Yunes e João Batista eram emissários no recebimento de propina. De acordo com a denúncia, eles recebiam dinheiro desviado da Caixa Econômica Federal. O destino do dinheiro seriam parlamentares do MDB e o presidente Michel Temer. A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirma que Temer é o líder da organização e teria agido para facilitar contratos fraudulentos com o banco público e outras empresas.
O MPF pediu a prisão dos acusados, alegando que poderiam ocorrer novos atos para perpetuar o esquema de corrupção. De acordo com o órgão, a prova disso seria a nomeação de novos dirigentes para a Caixa Econômica, que atuariam sob influência de Temer. No entanto, o juiz Marcus Vinícius avaliou que “a alegação de que os novos dirigentes podem atuar criminosamente carece de demonstração”.
Coleta de provas
A operação Skala, deflagrada pela Polícia Federal no fim do mês passado, teve como objetivo colher provas para serem usadas no processo que investiga a suposta atuação do presidente Temer a fim de beneficiar a empresa Rodrimar, operadora do Porto de Santos. Nessa ação, José Yunes e o coronel João Batista também foram presos. As diligências da PF indicam que a dupla é ligada ao chefe do Executivo. Eles foram soltos cinco dias depois, após encerrar o prazo das prisões preventivas.
Já Rodrigo Loures acabou preso em junho do ano passado, enquanto corria com uma mala, em São Paulo. Dentro da mala, os policiais encontraram R$ 500 mil em espécie. Loures conseguiu sair da prisão por determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, ele deve cumprir medidas cautelares, como comparecer à Justiça sempre que solicitado.
36
Número de delatores, que colaboram com a Lava-Jato, entre as 42 testemunhas do caso