Título: Polícia mata brasileiro
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2012, Mundo, p. 17
Um brasileiro de 21 anos foi perseguido e morto por policiais em Sydney, na Austrália, na madrugada de domingo. Roberto Laudisio, que estava no país para aprender inglês, teria sido apontado como autor de um roubo a uma loja de conveniência no centro da cidade.
De acordo com a imprensa local, seis agentes correram atrás do brasileiro, que foi imobilizado com disparos de uma arma de choque, conhecida como taser. Na ação, Roberto acabou morrendo. A polícia investiga as causas da morte, que lembra o incidente com o mineiro Jean Charles de Menezes, morto em 2005 pela polícia de Londres (leia a Memória).
Por volta das 5h30 de domingo, a polícia de Sydney recebeu chamado de uma loja de conveniência da King Street, uma rua na zona central da cidade, próximo a hotéis e bares. Conforme informações dos agentes, o suposto bandido teria fugido levando uma mercadoria. O brasileiro foi localizado poucos minutos depois. Alegando resistência à abordagem, os policiais usaram o taser e spray de pimenta contra o rapaz. "O homem parou de respirar e a polícia começou a massagem cardíaca. Apesar dos esforços, ele não pôde ser reanimado", informa uma nota divulgada ainda na manhã de domingo.
Horas depois, contudo, surgiram novas versões para o fato. Uma testemunha ouvida pelo jornal The Sydney Morning Herald disse ter visto a perseguição a Roberto. Segundo o relato, ele estava sem camisa, com as mãos livres e pedindo ajuda. Em um vídeo postado no site do jornal, é possível ver vários homens correndo pela rua atrás do brasileiro. Após ser atingido por um disparo da arma de choque, ele teria caído no chão e, segundo o relato, teria gritado por socorro. "Os gritos cessaram e eu pensei que ele tivesse desmaiado", contou a testemunham que viu mais três disparos com o rapaz já no chão.
Identificação As autoridades não identificaram o jovem de imediato e chegaram a divulgar uma nota na qual pediam ajuda. A polícia o descrevia como um rapaz de 1,78m, olhos e cabelos castanhos, enrolados. Também informam que ele vestia calça jeans Diesel e camiseta de manga curta GAP. O traje do rapaz reforça a suspeita de que ele, provavelmente, não teria entrado na loja de conveniência para praticar um assalto. Essa possibilidade chegou a ser admitida por um comissário. "Naquele momento, (o incidente) foi relatado como um assalto", ponderou Mark Walton, em entrevista a jornalistas. "Nós não sabemos o que causou a morte. Esse é um assunto para investigação e para a perícia", disse.
A assessoria de imprensa do Itamaraty informou que um parente de Roberto, aqui no Brasil, teria entrado em contato com a representação consular para pedir informações e eventual apoio. Jornais australianos informaram que ele só foi identificado quando sua irmã, que mora em Sydney, tentou registrar uma ocorrência de desaparecimento. Roberto Laudisio foi aluno da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e estava na Austrália havia poucos meses.
A morte do brasileiro também acalorou o debate sobre o uso do teaser em abordagens policiais. Conforme as autoridades, houve uma queda na utilização dessa ferramenta na Austrália. Em 2010, foram 1.151 ocorrências, contra 881 no ano passado. A Anistia Internacional lançou um alerta no mês passado sobre o uso das armas de choque nos Estados Unidos. Por lá, já foram registradas 500 mortes provocadas por elas. Em Brasília, a aquisição de cerca de 800 tasers pelo Detran-DF, para uso em blitze de fiscalização, também provocou controvérsia.
881
Total de ocorrências em que a polícia australiana usou armas de choque em 2011. No ano anterior, haviam sido 1.151