Título: Itamaraty alerta sobre turismo
Autor: Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2012, Mundo, p. 17
Após o dramático episódio vivido pelas duas brasileiras sequestradas no Egito, o Itamaraty decidiu reforçar o alerta feito em fevereiro deste ano a quem deseja viajar ao país.
O aviso, divulgado no portal consular, explica que a incidência de sequestros tem aumentado na Península do Sinai desde a Primavera Árabe, no início de 2011. "Recomenda-se evitar transitar pelas rodovias do Sinai até que a situação retorne à normalidade", diz o texto. Capturadas por beduínos no último domingo, Sara Lima Silvério, 18 anos, e Zélia Magalhães de Mello, 44, decidiram continuar o passeio com amigos e familiares. Hoje, o grupo de brasileiros permanece em Taba, no Egito, e depois voa para Israel.
As duas brasileiras, um guia e um segurança foram levados por beduínos armados durante uma excursão ao histórico mosteiro de Santa Catarina, no sudeste do Sinai. Os homens metralharam o ônibus de turismo, que transportava 45 brasileiros. Segundo o Itamaraty, os demais passageiros chegaram a salvo a um hotel. Os reféns foram libertados após pouco mais de sete horas de cativeiro. "Elas foram bem tratadas, receberam alimentação e estão bem. Devemos desembarcar no Brasil em 28 de março", disse o pastor Dejair Batista Silvério, 60 anos, pai de Sara. "Elas estão bem tranquilas. Minha filha até brincou com a situação", amenizou.
O ataque a tiros assustou o grupo, que fazia uma peregrinação religiosa. "Apesar de ter fé na libertação, a espera foi muito angustiante. Ouvi muitos tiros no momento do sequestro, foi muito assustador. Pensamos que íamos morrer", relatou o pastor, que também estava no ônibus.
"Não entendo por que levaram as duas. Elas não estavam na frente, estavam na quarta e na quinta fileira." A família de Sara já foi diversas vezes ao Egito, inclusive ao Monte Sinai. "Não tenho outras viagens programadas, mas, se tivesse, desmarcaria. Recomendo que os turistas esperem a situação se estabilizar antes de visitar a região", aconselhou Silvério. "Nunca tive problemas e o exército estava nos escoltando até a metade do caminho. Depois de 10 minutos sozinhos, o grupo nos atacou", contou.
Violência O episódio foi o quarto desse tipo na região, desde o início do ano. Depois da queda do ditador Hosni Mubarak, há pouco mais de um ano, a incidência de sequestros a turistas por beduínos no Sinai aumentou, o que mostra a dificuldade da junta militar egípcia para impor sua autoridade na área. Em fevereiro passado, três sul-coreanos foram sequestrados por beduínos. Na ocasião, os captores pediram a libertação de amigos e parentes presos. Duas norte-americanas viveram situação parecida. Em ambos os casos, os turistas foram libertados em poucas horas.
Também no mês passado, 25 trabalhadores chineses ficaram cerca de 20 horas como reféns. Os beduínos costumam reivindicar a libertação de companheiros detidos pelo governo. O Itamaraty lembrou ainda que, em janeiro, outro ônibus com brasileiros foi interceptado no Sinai, mas dentro de minutos a tribo liberou a pista sem ter chegado a levar turistas — foi esse o episódio que motivou o primeiro alerta do governo brasileiro.
"Elas foram bem tratadas, receberam alimentação e estão bem. Minha filha até brincou com a situação"
Pastor Dejair Batista Silvério, pai de uma das reféns