O globo, n. 30924, 07/04/2018. País, p. 11

 

Apontado como operador tucano, Paulo Preto em São Paulo

Thiago Herdy e Mateus Coutinho

07/04/2018

 

 

Ministério Público diz que ex-diretor da Dersa coagiu principal testemunha

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- Apontado pelas investigações da Lava-Jato como operador do PSDB, o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, foi preso ontem, por determinação da Justiça Federal. Além de cumprir o mandado de prisão preventiva, a Polícia Federal fez buscas na casa do operador. O pedido de prisão preventiva veio da 5ª Vara Criminal Federal em São Paulo, a mesma que recentemente aceitou denúncia contra ele pelo desvio de R$ 7,7 milhões, entre 2009 e 2011, durante o governo de José Serra (PSDB), a quem Souza é ligado.

O operador foi acusado de incluir 1,8 mil falsos beneficiários de desapropriações em função das obras do trecho Sul do Rodoanel, da Avenida JacuPêssego e das obras de ampliação da Marginal Tietê. Foi durante o governo do tucano José Serra (PSDB), a quem Paulo Preto é ligado. O tucano nega as acusações. Para justificar a prisão, o Ministério Público Federal (MPF) acusou Paulo Preto de ter tentado coagir a principal colaboradora de outro processo a que ele responde na Justiça paulista. Também foi expedido mandado de prisão contra José Geraldo Casas Vilela, que se entregou à tarde.

Em depoimentos ao MPF, a ex-funcionária Mércia Ferreira Gomes contou ter recebido ameaças do ex-diretor da Dersa por pelo menos três vezes, sempre por meio de pessoas interpostas. Segundo o relato, ela sofreria represálias no órgão e na vida pessoal, caso levasse adiante as denúncias contra seu grupo. Com medo, a colaboradora disse mudar de casa com frequência, em função das ameaças.

“Oi, tudo bem? Você é o arquivo vivo da Dersa, cuidado para não ser o arquivo morto”, foi a frase ouvida por Mércia, que prestou serviço à Dersa no realojamento das famílias nas áreas das obras do trecho sul do Rodoanel, em março de 2015. Na ocasião ela já havia prestado depoimento ao Ministério Público de São Paulo sobre um esquema de fraudes para utilizar nomes falsos no cadastro das famílias reassentadas liderado por Paulo Preto. Segundo Mércia, foi a primeira ameaça que sofreu, vinda de um homem de terno desconhecido na rua quando ela estava indo almoçar. Houve outras duas ameaças, todas por homens desconhecidos e na rua.

COLABORAÇÃO EM TROCA DE REDUÇÃO DE PENA

A acusação de desvios de R$ 7,7 milhões é pequena perto do volume de informações já à disposição dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato paulista. As atividades de Paulo Preto junto às construtoras que venciam licitações em obras viárias no estado foram relatadas em trechos ainda sigilosos da colaboração de Adir Assad, antigo operador de lavagem de dinheiro.

Assad era investigado desde 2012, mas sua rede só ruiu quando foi alcançado pela Lava-Jato, durante investigações sobre a Andrade Gutierrez, sua cliente. Ele cobrava uma comissão para emitir notas frias a empresas que precisavam de dinheiro em espécie para fazer pagamentos ilegais.

Condenado à prisão, Assad fez acordo de colaboração em troca da redução de pena. Ele contou aos procuradores ter entregue malas de dinheiro diretamente a Paulo Preto. Autoridades suíças informaram à Lava-Jato que outra parte do dinheiro de Paulo Preto esteve no exterior: pelo menos 35 milhões de francos (R$ 113 milhões) passaram por quatro contas associadas à offshore panamenha Grupo Nantes S/A, tendo Paulo Preto como beneficiário.

Paulo Preto também foi mencionado na colaboração de executivos da Odebrecht. O ex-diretor de infraestrutura Benedicto Júnior contou que o dirigente cobrou 0,75% do valor de um contrato de execução do Rodoanel, o que resultaria num pagamento de R$ 2,2 milhões. A mesma taxa teria sido aplicada a contratos da OAS no Rodoanel.

Conforme revelou O GLOBO no ano passado, a empreiteira transferiu, durante o governo José Serra, R$ 4,8 milhões para contas da Legend Associados, uma das empresas utilizadas por Assad para lavar dinheiro. Os advogados Daniel Bialski e José Roberto Santoro divulgaram nota em que dizem que a prisão de Souza não tem “relação com a LavaJato”. No entendimento da defesa, trata-se de uma medida arbitrária, sem fundamentos legais, desnecessária diante do perfil e da rotina do investigado, sempre à disposição da Justiça. O advogado Fernando Araneo Vilela, que foi preso, informou que a prisão é “desnecessária e ilegal”, dada por uma suposta ameaça ocorrida em 2015. “Não tem o menor sentido prender uma pessoa hoje por uma suposta ameaça ocorrida há três anos”, diz Araneo.