Título: Dilma cobra ação por crescimento
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Fonte: Correio Braziliense, 29/03/2012, Economia, p. 16

Presidente alerta contra as perversas formas de protecionismo usadas por Europa, Estados Unidos e Japão e conclama Brics a mostrar força. Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul estão vendo a produção e o consumo minguarem

Nova Délhi — A presidente Dilma Rousseff vestiu a toga vermelha das cerimônias de honra da universidade indiana de Nova Délhi, da qual tornou-se doutora honoris causa, para criticar as armas dos países ricos contra a crise financeira internacional. Num discurso sem meias palavras contra a atual guerra cambial, ela não só acusou o mundo desenvolvido de estar impondo um custo altíssimo às nações emergentes, como o Brasil, que estão vendo as taxas de crescimento econômico minguar, como alertou para o surgimento de "novas e perversas formas de protecionismo". A líder brasileira atirou, sobretudo, na enxurrada de quase US$ 9 trilhões que Estados Unidos, Japão e Europa despejaram nos mercados nos últimos anos.

"Essa crise (que vem desde 2008) teve sua origem no mundo desenvolvido. Ela não será superada por meio de meras medidas de austeridade, consolidação fiscal ou desvalorização da força do trabalho", afirmou. Dilma buscou, assim, impressionar os anfitriões da reunião anual do Brics, o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, países que devem registrar, em 2015, uma de corrente de comércio de US$ 500 bilhões. Hoje, o grupo que aponta os maiores índices de crescimento global deve divulgar diversos comunicados conjuntos e as tradicionais cartas de intenções, inclusive o lançamento de um banco de investimentos para suprir a falta de capacidade de empréstimos do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de um índice comum das bolsas de valores dos países.

Para a mais nova titular da importante universidade, fundada em 1922, o receituário adotado pelos países desenvolvidos no enfrentamento da guerra cambial e da dívida soberana da Zona do Euro — corroída pela situação da Grécia, de Portugal e da Espanha, somada ao crescimento pífio da Alemanha e da França — não atende aos interesses das nações em desenvolvimento. Dilma reconheceu que esse quadro "ainda provoca preocupação, pelo impacto que tem sobre as perspectivas de crescimento global." Em respeito à região asiática, a presidente brasileira suprimiu do texto distribuído previamente pela universidade, a expressão "tsunami monetário" , evitando assim qualquer relação com o fenômeno natural que inquieta a Ásia e deixa rastros de destruição por onde passa.

Diplomacia Dilma, compenetrada na leitura do discurso, reforçou os laços que unem o Brasil à Índia, países que enfrentam a pobreza e ampliam o número de consumidores e o acesso dos cidadãos a bens e serviços e que podem dar importante contribuição na agenda do desenvolvimento sustentável. "Brasil e Índia, também, têm contribuição de relevo a oferecer no fortalecimento da cooperação internacional no contexto da multipolaridade. Privilegiamos o diálogo, a diplomacia e rejeitamos ações unilaterais e as doutrinas que enfatizam o uso da força", afirmou. A frase foi usada na tentativa de aliar os dois países que disputam vaga no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

"É difícil imaginar algum debate internacional, alguma instância de discussão, em que a opinião da Índia e do Brasil não seja valorizada e, mesmo, demandadas", acrescentou a presidente. Disse mais: "Nossa participação ativa nos grandes debates internacionais contribui para tornar a governança global mais democrática, legítima e eficaz". Para Dilma, o crescente peso das economias brasileira e indiana reforça a credibilidade e acentua o potencial da cooperação bilateral e inserção internacional.

A presidente recorreu a números para mostrar que, de 2003 a 2011, o comércio com os indianos cresceu nove vezes, chegando a US$ 10 bilhões (soma de importações e exportações). Diplomaticamente, ela cobrou que o Brics possa se unir mais comercial e politicamente para enfrentar crises globais e lembrou que Brasil e Índia passaram por processos tardios de industrialização, o que impôs desafios maiores e comuns, capazes de assegurar, ainda que em longo prazo, a maior participação da sociedade na distribuição das riquezas. A presidente realçou que, apesar da crise internacional, as duas economias revelaram capacidade de dinamismo, inovação e crescimento.

EUA querem valorização do yuan O secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, disse ontem que é importante para os Estados Unidos que a China permita a valorização de sua moeda frente ao dólar. "É muito importante para nós que a China continue a permitir que sua taxa de câmbio suba frente ao dólar", afirmou Geithner a congressitas em uma audiência sobre o orçamento do Tesouro. "Concordamos que eles têm alguns caminhos a percorrer", disse. O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos tem até 15 de abril para declarar se algum país está manipulando o câmbio para obter uma vantagem comercial injusta. Mitt Romney, o favorito na corrida republicana para a Casa Branca para desafiar o presidente Barack Obama em novembro, prometeu que um dos seus primeiros atos, caso eleito, será rotular a China como manipuladora cambial, algo que o governo Obama recusou fazer por seis vezes.